O ano do fim das senhas
Breve especulação sobre o ano em que o computador quântico será comercial e as senhas se tornarão vulneráveis.
O filme "Armadilha", com Sean Connery e Catherine Zeta-Jones, lançado em 1999, é um thriller que explora os temores associados ao Bug do Milênio, também conhecido como o problema do Y2K, ou “Year 2000”, em inglês. Esse problema estava relacionado à forma como as datas eram armazenadas em sistemas de computador, em que muitos usavam apenas os dois últimos dígitos para representar o ano. Isso levou à preocupação de que, ao mudar de 31 de dezembro de 1999 (99) para 1º de janeiro de 2000 (00), os computadores interpretariam o novo ano como 1900 em vez de 2000, causando falhas em sistemas globais, desde redes de energia até sistemas financeiros.
"Armadilha" é um exemplo de como a cultura popular da época capturou e amplificou as ansiedades em torno do Bug do Milênio. O filme foca em um cenário dramático onde os personagens enfrentam a iminente catástrofe que o Y2K poderia desencadear. Embora não seja um dos filmes mais memoráveis ou de maior sucesso relacionado a temas tecnológicos, ele reflete as preocupações da época e a fascinação com os potenciais impactos da tecnologia e da informatização em nossas vidas.
Na realidade, o Bug do Milênio foi amplamente evitado graças a esforços maciços de remediação de software em todo o mundo, onde organizações e governos investiram significativamente para atualizar e corrigir sistemas antes da chegada do ano 2000. A virada do milênio passou com muitos poucos incidentes, contradizendo muitas das previsões mais catastróficas que foram sugeridas antes da data.
Agora, especialistas globais em cibersegurança estão atentos e em contagem regressiva para outra sigla, Y2Q, ou "Years to Quantum”, em inglês, que indica o período restante até que se preveja que um computador quântico possa desvendar a forma de criptografia usada hoje. Essa tecnologia é atualmente fundamental para proteger informações como os números de seus cartões de crédito durante compras online e assegurar que as atualizações de software de seu celular sejam autênticas, provenientes das fabricantes e não de invasores cibernéticos.
No entanto, um computador quântico poderia tornar obsoleta a criptografia de chave pública convencional. E a data exata em que um computador quântico com capacidade para infringir essas barreiras de segurança será criado é incerta. O prazo atualmente estimado no relógio Y2Q, 14 de abril de 2030, é considerado apenas uma especulação. Contudo, a comunidade científica em sua maioria antecipa que essa revolução tecnológica ocorrerá nas próximas décadas.
Vários setores, incluindo finanças, saúde, governo e telecomunicações, dependem de comunicações seguras para proteger transações financeiras, registros de pacientes, informações classificadas e infraestrutura crítica. A capacidade dos computadores quânticos de quebrar códigos criptográficos pode interromper esses setores e minar a confiança nos sistemas digitais.
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Para entidades governamentais e outras organizações que dependem da confidencialidade de informações no longo prazo, a urgência é ainda maior. Dados criptografados enviados no presente e armazenados podem eventualmente ser decifrados por um computador quântico no futuro, revelando informações que eram para ser mantidas em segredo.
Por outro lado, governos e organizações militares usam criptografia para proteger informações classificadas, comunicações e interesses de segurança nacional. Se os computadores quânticos podem quebrar códigos criptográficos, isso pode comprometer as comunicações governamentais sensíveis e as operações de inteligência, representando uma ameaça à segurança nacional.
A quebra da segurança criptográfica devido à computação quântica pode ter também repercussões econômicas, afetando o comércio eletrônico, o banco online, as cadeias de suprimentos e outras transações digitais. A perda de confiança em comunicações seguras pode levar a perdas financeiras e danos para empresas e economias.
Em resumo, as implicações dos computadores quânticos quebrando códigos criptográficos destacam a necessidade crítica de avançar nas medidas de segurança cibernética. Não vemos essa discussão acontecer no Brasil, a não ser de forma muito localizada, mas seria bom botar as barbas de molho, já que o problema não é mais “se” vai acontecer, mas “quando”.
Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP, membro da AMC, presidente da Gasmar.
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