Tire 5 cartas e escolha São Luís
Os atrativos e as sacadas do filme produzido por Joaquim Haickel.
O filme Tire 5 cartas, em cartaz nos cinemas da capital e em todo o Brasil, tem bons atrativos para os maranhenses. A produção é do cineasta maranhense Joaquim Haickel, que também tem participação no roteiro, atores maranhenses conhecidos atuam ao lado de atores consagrados nacionalmente e astros globais como Sidnei Magal e Alcione encenam participações na trama desenvolvida em sua maior parte em São Luís. Porém, mais que isso, tem como protagonistas principais os personagens Fátima, uma taróloga (e não cartomante como faz questão de dizer no filme) e a cidade de São Luís.
E é nesse ponto que está a maior sacada do seu produtor com o propósito, anunciado aos poucos assim que se desenrola a fita, de evidenciar a participação da cidade não apenas como um elemento da composição paisagística, mas como um personagem.
Desde a abrupta interrupção da sequência inicial, no Rio de Janeiro, concentrada nos dons brasileiríssimos de comicidade e picardia da protagonista do filme, a taróloga Fátima (magnificamente interpretada por Lília Cabaral) a capital maranhense adquire extraordinária relevância até mesmo na caracterização dos personagens adjacentes, porque a partir de então estes parecem precisar do aval, vamos dizer assim, do ambiente da bela cidade, para realizarem-se plenamente na tela.
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Assim é que os personagens transitam da comédia para o drama do otimismo para o pessimismo, da sombra para a luz, da carência para a opulência, da vida para a eternidade (via seu personagem fantasma) no ritmo do coração de uma cidade que, como sabemos, é capaz de lhes inocular tudo isso, porque estes são ingredientes fundamentais do seu dia a dia. Isso se torna facilmente constatável nas imagens urbanas que acompanham os dramas e as comédias íntimas dos personagens, farsescas em suas representações, que lembram por vezes as caricaturas bem realizadas de Fellini. A mendiga, a mulher gorda, etc são ao mesmo tempo que poéticas, simplórias ou complexas a depender da cena, porém sempre exuberantes em seus dramas disfarçados de comédia.
E já que falamos no ritmo da cidade, paira como pulsação de fundo o samba de mestre Antonio Vieira, que dá o tom rebelde, e ao mesmo tempo alegre e esperançoso da ilha e de seus habitantes, seu refrão soando como se os personagens do filme e a própria cidade, (que já foi vilipendiada pelos que aqui vinham de fora, desfrutavam de toda a sua beleza e memória cultural, mas dela desfaziam) soando como se a cidade se manifestasse também: “Se tu não quer tem quem queira”.
Enfim, o filme julgo que deveria ser adquirido pelos órgãos culturais maranhenses para que pudesse ser retransmitido nos salões das Escolas de nosso Estado para a fruição por parte dos alunos não só dos encantos como da alma da cidade de São Luís.
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