COLUNA
José Lorêdo Filho
Editor da Livraria Resistência Cultural Editora e chanceler do Círculo Monárquico de São Luís
José Lorêdo Filho

O novo acadêmico é um homem de letras

O novo acadêmico a que me refiro é o escritor, ensaísta e crítico literário Alexandre Maia Lago, eleito, na última quinta-feira, dia 20, para a cadeira 27 da Academia Maranhense de Letras.

José Lorêdo Filho

O título deste artigo pode causar espécie ao leitor mais desavisado — como assim, o novo acadêmico é um homem de letras? As academias de letras servem para, afinal de contas, abrigar os homens de letras. Uma obviedade. A história não é bem assim.

O novo acadêmico a que me refiro é o escritor, ensaísta e crítico literário Alexandre Maia Lago, eleito, na última quinta-feira, dia 20, para a cadeira 27 da Academia Maranhense de Letras, antes ocupada pelo escritor Magson Gomes da Silva. Uma excelente escolha dos acadêmicos. Uma escolha que augura tempos de bonança.

Tenho para mim que o meu amigo Alexandre Maia Lago exerce a advocacia como forma de ganhar a vida, e que é na literatura que reside a sua vocação maior. Muitos escritores não viveram e não vivem da pena. Acho até que, quando vivem, não deixam boa obra. Que o digam os autores dos infames best-sellers. O novo acadêmico, advogado conceituado, está, portanto, livre desse inconveninente utilíssimo.

É um leitor obsessivo e voraz. Mantém, no Jornal Pequeno, uma das melhores colunas literárias da atualidade, “Letras de Sempre”. Não exagero. Qual a função do crítico senão “apresentar” a obra, apontando-lhe as qualidades, os excessos, os defeitos, as possíveis intenções do autor, e assim por diante? De tal labor verdadeiramente pedagógico surgirão novos leitores e até novos escritores. E o interessante — os bons críticos são os construtores dos bons leitores, talvez mais que os próprios autores. Teria Machado de Assis o mesmo talento para falar de sua obra que um Augusto Meyer, que um Alcides Maya, que uma Lúcia Miguel Pereira? Colocadas as coisas nesses termos, a resposta resulta evidente. E o que dizer da importância do ensaísmo literário para a própria visão de conjunto das literaturas nacionais? Grandes críticos — um José Veríssimo, um Afrânio Coutinho, um Alfredo Bosi — se fizeram grandes historiadores e mudaram, para sempre, para melhor, a nossa compreensão da literatura brasileira.

O crítico, o editor, o tradutor são os párias do ofício literário. Muito pouco lembrados e reconhecidos. Como editor — o último da raça quem sabe, o mais obscuro certamente —, acabo por advogar em causa própria. Mas aí está o Alexandre Maia Lago me desmentindo.

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Tão instigantes são os breves ensaios de crítica literária com que nos acostumou semanalmente que, a pedido dos amigos, coligiu-os na forma duradoura de livro, nos sucessivos volumes Letras de Sempre (São Luís: EDUFMA, 2018), Litterae Semper (São Luís: EDUFMA, 2019) e Tà Athánata Grámmata — Letras de Sempre (São Luís: EDUFMA, 2021). Publicou outros dois, dedicados ao direito e destinados ao público universitário, mas, até onde sei, estão esgotados — o que importa é a literatura.

É como cultivador exigente da boa crítica literária, de nossa melhor tradição impressionista, que ingressa no cenáculo maior da Academia Maranhense. Bastou a sua condição de homem de letras. É um bom amigo, educado e afável, isto é bem verdade, mas não teria sido eleito sem que trouxesse, debaixo dos braços, os seus livros. É um homem de bem e um homem de letras.

E não posso deixar de referir que o novo acadêmico como que guarda uma semelhança curiosa, em seu traço indubitavelmente agregador, com o patrono da cadeira que virá a ocupar — Francisco Dias Carneiro, figura eminente de político, fazendeiro e empresário, deputado provincial e geral do Império, vice-presidente da então Província do Maranhão e liderança ilustre do Partido Conservador. Sua biografia foi publicada quando do centenário de seu nascimento pelo escritor Alberto Pizarro Jacobina. O título não poderia ser mais apropriado — Dias Carneiro, o conservador (Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, Brasiliana, 1937).

Torno a dizer — os acadêmicos fizeram uma boa escolha. Podiam ter escolhido o Antônio Guimarães, outro homem de letras, outro bom amigo, grande pesquisador e escritor, membro ilustre do IHGM. A segunda edição, consideravelmente ampliada, do seu Adagas e punhais (São Luís, 2022), livro único sobre o fenômeno do cangaço nordestino, está quase pronta.  Teria sido escolha acertadíssima também. Optaram em dar a vez ao Alexandre Maia Lago. O Antônio Guimarães deve ser o escolhido com a próxima vacância.

A veneranda Academia Maranhense parece trilhar novos caminhos. Que sejam bons caminhos — fora das imposturas ideológicas e para além dos candidatos de poucas letras e nenhum caráter.

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