COLUNA
Curtas e Grossas
José Ewerton Neto é poeta, escritor e membro da Academia Maranhense de letras.
Curtas e Grossas

Outramento e outros tormentos

Por indução comecei a pensar em alguns neologismos parecidos que cairiam muito bem para melhor se conviver com certas atitudes e/ou bizarrias, hoje tão comuns.

José Ewerton Neto

Atualizada em 29/08/2023 às 16h10
 

Descobri a palavra Outramento. Estava lendo sobre Fernando Pessoa quando deparei com esse termo, que me soou bizarro, mas, ao mesmo tempo instigante. E, mais ainda quando conheci seu verbo correspondente: Outrar-se. Fiquei imaginando como se conjugaria o dito cujo: “Eu outro-me, tu outras-te, ele outra-se...” E por aí vai..., salvando-se quem puder. 

Se o termo não deve constituir novidade para os especialistas na obra do poeta lusitano, intuo que alguns leitores estejam querendo saber do que se trata. Outrar-se então é se fazer de outro, adotar várias personalidades , dando-lhes vida e independência como fez o escritor português com seus heterônimos. 

Por indução comecei a pensar em alguns neologismos parecidos que cairiam muito bem para melhor se conviver com certas atitudes e/ou bizarrias, hoje tão comuns. 

PATRIOTAMENTO. 

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Patriotamento ( nada a ver com patriotismo) seria a atitude de alguém se produzir como patriota , investindo nisso para tirar proveito na competição de alavancagem social. Aliás, o que é mesmo ser patriota?

Tenho a convicção de que qualquer cidadão honesto, probo e cumpridor de seus deveres faz mais pela sua Nação do que outro que sai por aí beijando a bandeira nacional, e fingindo cantar o hino do país em campo de futebol (antes de se engalfinhar com a torcida adversária tão logo o juiz apita o fim da partida). Patriotar-se então seria a ação correspondente a esse tipo de velhacaria.

Se alguém ainda não entendeu a semântica proposta por esse neologismo pode-se recorrer a Samuel Johnson que dizia, com muita propriedade, que “Patriotismo é o primeiro refúgio dos canalhas.” e pronto, fiat lux ( faça-se a luz) no espírito da coisa. 

Basta observar ao redor. O que tem de gente patriotando-se neste país daria para encher vários elefantes brancos ( estádios de futebol) construídos justamente por esses farsantes, cujos arroubos não são de patriotismos, mas de patriotadas. 

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