Um candidato de direita
No último 29 de junho, dia de São Pedro, o Diogo tornou pública a sua decisão de retornar à vida partidária, colocando à disposição do eleitorado ludovicense o seu nome para as eleições municipais de 2024.
Não estou entre os entusiastas da democracia liberal — vale dizer, daquele regime político, supostamente democrático, em que as agremiações partidárias são os canais por onde a vontade dos governados chega até os governantes, de modo a controlá-los e influenciá-los. Belo conceito, a dourar qualquer discurso subginasiano. O que há de mais fácil é distorcer tal processo, seja nivelando por baixo o sufrágio — o que é muito próprio das democracias liberais —, seja transformando concretamente os partidos políticos em oligarquias controladas pelo poder econômico ou pelo poder ideológico — o que é muito próprio do Brasil. Basta um sistema eleitoral algo defeituoso, como o nosso, e os condoreiros da liberdade não terão mais o que cantar.
Mas, como a vida não é somente uma tragédia, pode-se, ainda que parcialmente, distorcer a distorção. O processo liberal brasileiro ainda comporta as suas ondulações positivas, com o que alguns quadros de inegável espírito público, de perfeito lastro na autêntica opinião pública — que não é bem uma “opinião”, mas um “senso” das coisas, decorrente de uma “mentalidade” forjada pelos tempos —, ainda não têm vedado o seu acesso à vida política.
Eis aí o meu querido amigo Diogo Guagliardo Neves, figura primacial dos estudos brasileiros da presente geração. Conheci-o pelos idos de 2006, no sebo Papirus do Egito, de nossa saudosa amiga Moema de Castro Alvim. Professora universitária aposentada, editora de um blog sobre o município de Pinheiro — onde se encontram as minhas raízes maternas —, dona Moema sabia tudo das coisas maranhenses, e recebia a nós todos com aquele seu traço, tão maranhense, tão pinheirense, de argúcia bonachona, a falar de tudo. Foram bons tempos, aqueles. Foi na Papirus do Egito que, pelos livros, descobri meio mundo e fiz boa parte da minha minguada biblioteca. E foi lá que fiz alguns bons amigos, um dos quais o saudoso Pe. João Dias Rezende Filho, que conheci ainda seminarista, falecido precocemente, grande figura de genealogista, bibliófilo e pesquisador, com o qual ainda viria a ter as minhas escaramuças sobre a crise da Igreja. Lá também conheci o Diogo Guagliardo Neves, sempre às voltas com as coisas do Maranhão e do Império.
Pois muito bem — no último 29 de junho, dia de São Pedro, o Diogo tornou pública a sua decisão de retornar à vida partidária, colocando à disposição do eleitorado ludovicense o seu nome para as eleições municipais de 2024. Depois de ter se candidatado a uma cadeira à Câmara de Vereadores no pleito de 2020, parece inclinar-se, desta vez, para a disputa do próprio Executivo municipal. É um grande acontecimento político — já o atestam alguns dos mais importantes jornalistas políticos da cidade, do combativo José Linhares Jr. ao mais moderado Diego Emir.
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Falei acima em “mentalidade forjada pelos tempos”. No caso brasileiro, estamos falando de mais de quinhentos anos de cultura cristã. Não é pouca coisa. É tempo suficiente para a formação de uma certa índole, de uma espécie de tirocínio quanto ao correto exercício das liberdades. Os princípios da doutrina conservadora encontraram, também no Brasil, um ethos por meio do qual instituições políticas foram construídas e uma nacionalidade teve o seu edifício espiritual, uma vez mais, firmado e assegurado.
Conheço razoavelmente bem o professor Diogo Guagliardo Neves. Conheço a sua sólida cultura histórica e jurídica, a sua vocação para os estudos universitários, a sua inclinação para a vida pública. Conheço, acima de tudo, o seu gosto, o seu interesse, a sua fidelidade às coisas brasileiras, aos assuntos brasileiros. Assim o atestam os dois livros que escreveu, que tive a honra de editar.
Pela sua vontade de servir, de construir, é, verdadeiramente, um quadro de direita, da velha direita conservadora, realista e operosa, desconfiada das ideias cerebrinas e do estrugir das praças públicas, ciosa da legalidade — sempre imperfeita —, adepta do bom senso, tendente ao equilíbrio e à composição.
O professor Diogo Guagliardo Neves, valendo-se da sabedoria da política conservadora, parece estar atento ao sinal dos tempos. Aprendeu com o líder do Regresso, o senador Bernardo Pereira de Vasconcellos, o fundador do Partido Conservador do Império, que autoridade sem liberdade é tirania, e que liberdade sem autoridade é anarquia. E mais — sabe que não é com bravatarias nem com balbúrdia que será recomposta a harmonia entre os Poderes da nossa triste república. Eis aqui uma bela lição de política conservadora.
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