COLUNA
Curtas e Grossas
José Ewerton Neto é poeta, escritor e membro da Academia Maranhense de letras.
Curtas e Grossas

Se ainda houvesse marchinhas

Como seriam as letras hoje das antigas canções que embalavam os carnavais?

José Ewerton Neto

Atualizada em 02/05/2023 às 23h39
 

José Ewerton Neto 

Se ainda houvesse marchinhas (estamos falando daquelas que o tempo nunca vai apagar), as letras teriam de ser mais ou menos assim em nome da modernidade. 

1.Ontem: “Olha a cabeleira do Zezé. Será que ele é, será que ele é? Será que ele é bossa nova, será que ele é Maomé. Parece que é  transviado, mas isso não sei se ele é”

Hoje: Olha a cabeleira do Vital

Será que ele é, será que ele é.

Será que ele é dançarina, será que ele é travesti

Parece que é tudo isso, mas isso eu não sei se ele é.

2. Ontem: “Oh, jardineira, por que estás tão triste? Mas o que foi que te aconteceu? Foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros, depois morreu!”.

Hoje: Oh, periguete, por que estás tão triste?

Mas o que foi que te aconteceu

Foi o velhinho que quebrava teu galho

Deu dois suspiros, depois morreu.

3. Ontem: “Se você fosse sincera, ô ô Ô Aurora, ai meu Deus que bom que era, ô ô Ô , Aurora. Um lindo apartamento com porteiro e elevador e ar refrigerado para os dias de calor.  Madame antes do nome, você teria agora,  ô ô Ô Aurora!”

Hoje: Se você fosse safada, ô ô Ô, Aurora

Ai meu Deus que bom que era, ô ô Ô Aurora!

Um apê de cobertura, com cinema e elevador.

E um personal training pra teus dias de calor

Um chifre bem na testa, eu teria agora

Oooô, que Aurora!

4.Ontem: “Solteira eu não quero. Casada traz complicação. A viúva tem saudade, a desquitada é a minha solução”.

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Hoje: Hetero eu não quero,

Suruba traz complicação

LGBT pode dar cadeia

Masturbação é a minha solução.

6.Ontem: “Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí, em vez de tomar chá com torrada ele bebeu Parati. Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão, e sorria quando o povo dizia mamãe eu quero mamar, mamãe eu quero mamar, mamãe eu quero mamar. 

Hoje: Pegou uma moto emprestada e saiu por aí

Em vez de tomar café com torrada cheirou um monte de pó

Levava um canivete no cinto e um trabuco na mão

E sorria quando o povo dizia sossega leão, sossega Leão, sossega Leão! 

5.Ontem: As águas vão rolar, garrafa cheia eu não quero ver sobrar, eu passo mão na saca, saca, saca rolha, e bebo até me afogar. Se a polícia por isso me prender, mas na última hora me soltar, eu passo a mão no saca, saca, saca rolha ninguém me agarra, ninguém me agarra

Hoje: (cantada pelas blitzes)

As multas vão rolar,

Cachaceiro hoje eu quero ver soprar

Eu passo a mão no  bafômetro e esfrego

No nariz dele até chiar 

 

Se o infeliz pedir pra aliviar 

E vier me implorar para soltar

Eu passo a mão no cassetete e ameaço

Ninguém me agarra, ninguém me agarra!

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