COLUNA
Curtas e Grossas
José Ewerton Neto é poeta, escritor e membro da Academia Maranhense de letras.
Curtas e Grossas

Devemos tudo a um palavrão

Nenhum ser humano nasce sem que se fale um palavrão (carinhoso, vá lá!) na hora do êxtase sexual.

José Ewerton Neto

Atualizada em 02/05/2023 às 23h39
 

José Ewerton Neto 

Imagine o tédio de uma eternidade sem tempo e sem espaço. Sem   celular para distrair e sem poder xingar alguém nas redes sociais. Pior que isso:  sem vivalma, nem pensamento, nem matéria. Só Deus e Deus.   

Sentia vontade de reclamar para alguém, mas não havia. De quem reclamar se ele era o próprio Deus? Até que um dia não aguentou, e sentiu o impulso, muito natural - até para Deus - de mandar tudo à ...Puta que pariu. Mandou. 

A dúvida é se teria sido esse o palavrão inicial, ou teria sido outro: Merda, Porra, Putaria, Vida fodida...? Ninguém sabe. O que se sabe é que Deus xingou pela primeira vez e foi então que aconteceu o big-bang, uma explosão divina e infinita, decorrente de um tédio eterno.

Hoje, para a Ciência, pouca dúvida resta de que o Universo nasceu, graças a Deus, por causa de um palavrão.

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2.Depois disso o palavrão adormeceu em sono profundo até que bilhões de anos depois nasceram Adão e Eva, à imagem e semelhança de Deus. A partir daí, como se sabe, foi palavrão para tudo quanto é lado  até porque nenhum ser humano nasce sem que se fale um palavrão (carinhoso, vá lá!) na hora do êxtase sexual.

 Houve tempo, no entanto, em que os piores impropérios eram de outras categorias. Como a religião tinha papel de destaque no cotidiano das pessoas, especialmente durante a Idade Média,  não havia nada pior que desejar que seu interlocutor fosse para o inferno ou coisas afins. Com o passar do tempo a secularização fez com que esse tipo de injúria se tornasse menos ofensivo. Se hoje poucas pessoas acreditam em Deus quanto mais no inferno! Então mandar alguém para o Inferno perdeu o impacto. 

Em gravação que se tornou pública certa reunião ministerial, da era Bolsonaro, mostrou  o quanto o palavrão chegou, no século atual, às altas esferas. Em pouco mais de duas horas o presidente emitiu uma preciosa coleção: 8 porras, 7 bostas, 5 merdas, 4 putarias, 2 foder, 2 puta que o pariu, 2 filhos da puta e 1 cacete.

Hoje, a grande preocupação da Ciência é justamente que o PALAVRÃO vire palavrinha e, assim, consiga tolher o homem de sua mais preciosa válvula de escape conhecida. Nos pavorosos tempos atuais procura-se por um palavrão forte, impactante, imponente e abrangente para xingar o Covid 19, os políticos,  o VAR ,  etc. e não se encontra! 

Conclusão: A falta de um bom palavrão é pior que uma pandemia e muito da neurose atual deve-se a isso.  

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