A inveja e a saúde mental
A inveja, em si mesma, revela cobiça e traição, expressa um desejo incontrolável de possuir, conseguir e dispor da felicidade, do bem-estar, da notoriedade, da superioridade ou de qualquer outro valor de outrem.
Esse é o quarto artigo que trato desse tema. Faço isso, por reconhecê-lo como um tema altamente complexo, abrangente e com múltiplas causalidades. Além do mais, é uma vivência humana altamente significativa, emocionalmente singular e cheia de sentimentos ambivalentes e contraditórios de dor, ódio e sofrimento.
Como vimos anteriormente, o termo inveja provém do latim e significa invidia, “olhar torto, lançar mau-olhado sobre”, de IN, “em”, mais VIDERE, “olhar”. Segundo Aurélio, trata-se de um "desgosto" profundo ou pesar pelo bem ou pela felicidade de outrem. A inveja é um sentimento permanente de desejo, de ter para si, se apossar, do que é do outro ou mesmo querer ser o que o outro é.
Expressa-se nas relações humanas e sempre foi objeto de interesses de filósofos, psicólogos, psiquiatras, antropólogo, escritores e muitos outros estudiosos do comportamento humano. Embora, ainda pouco conhecida em suas origens e em suas bases científicas, a inveja precisa ser mais estudada para que possamos compreendê-la melhor e com isso ajudar milhões de pessoas que padecem desses sentimentos.
A inveja, em si mesma, revela cobiça e traição, expressa um desejo incontrolável de possuir, conseguir e dispor da felicidade, do bem-estar, da notoriedade, da superioridade ou de qualquer outro valor de outrem. Como nos diz Aurélio, esse sentimento traduz "um desejo violento de possuir o bem alheio" provocando nessas pessoas uma tristeza profunda ou um grande desgosto, inexplicável, que se origina da prosperidade, do bem-estar e/ou da fortuna alheia. Isto é, são pessoas tomadas por um desejo particular e excessivo de possuir exclusivamente o bem que não lhe pertence.
Portanto, uma das bases vivenciais da inveja é o desejo violento ter o que é do outro, ou querer sê-lo. Esse desejo, que beira as fronteiras da morbidade, é repleto de ódio e fúria, por isso mesmo, procura diretamente atingir o outro para se empossar daquilo que é o objeto de seu desejo / inveja.
Para a Igreja Católica, a inveja é um dos sete pecados capitais, além da soberba, orgulho, luxúria, gula, preguiça, avareza. No cristianismo, inveja é sinônimo de ganância, ou seja, é o desejo exagerado de possuir qualquer coisa. É um desejo descontrolado, uma cobiça de bens materiais e dinheiro. Ainda, para a Igreja, a inveja é considerada pecado, porque o invejoso "ignora suas próprias bênçãos e prioriza o status de outra pessoa no lugar do próprio crescimento espiritual. É o desejo exagerado por posses, status, habilidades e tudo que outra pessoa tem e consegue. O invejoso ignora tudo o que é e possui, para cobiçar o que é do próximo".
Do ponto de vista comportamental e psicopatológico, considera-se a inveja como um sentimento anômalo, disfuncional que, provoca rupturas nessas relações, dor, angústia e sofrimento. Por outro lado, desejar o que é dos outros, ou ser o que eles são, sobretudo, se houver admiração e respeito, é algo natural que pode favorecer o crescimento das pessoas em determinadas etapas da vida. Todavia, quando esse comportamento é proeminente, se torna uma característica marcante da personalidade, gera dor, ódio e sofrimento ao ponto de interferir negativamente nas relações psicossociais, estamos diante de uma questão psiquiátrica grave.
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A inveja, é uma condição que tem várias causas, surge e se desenvolve ao longo do desenvolvimento da personalidade, aparece precocemente na infância e se desenvolve de forma progressiva e lenta ao longo do tempo. Como ocorre com outros sentimentos, esta pode variá de vivências discretas à quadros graves, onde, nesses casos o sentimento toma conta dos invejosos, se tornando um traço marcante de sua personalidade. Isto é. há pessoas onde a inveja é tolerável e compreensiva em quanto que há outras onde a inveja é sua marca predominante.
Entre os transtornos psiquiátricos, que mais apresentam esse problema é o Transtorno de Personalidade tipo Boderline - TPB que tem como principais características clínicas: baixa autoestima, carência de si mesmo e dos outros, desconfiança patológica, péssima imagem de si mesmo, impulsividade e agressividade. Em geral, são inseguras e imaturas, que levam a vida e seus compromissos com dificuldades. Apresentam-se, frequentemente, irritáveis, possessivos e explosivos, com instabilidade afetiva e do humor. São impacientes raivosos.
Portanto não devemos repudiar ou excluí-los e sim ajudá-los a superarem seus problemas. O tratamento médico e a psicoterapia cognitivo-comportamental (TCC) são boas ferramentas terapêuticas de ajuda. Há muitos outros fatores, psicopatológicos, especialmente de ordem psicológicas e sociais, que colaboram muito para o surgimento da inveja, porém em todos os casos o aconselhável é tratar e orientar bem essas pessoas para superarem essas barreiras a fim de poderem desfrutar de sua saúde mental.
O mundo e a sociedade contemporânea incentivam as pessoas a se tornarem invejosas. As relações se dão inspirados em uma competição desvairada. Cada um disputando com cada um, nem se sabe bem o que disputam. O comum, nos dias atuais, é o egocentrismo e o egoísmo. Há uma espécie de culto à posse onde o ter é exortado e o ser é menosprezado. Há uma cultura de relações frouxas e superficiais, onde as pessoas não se dão entre si e menosprezam e se desvalorizam uns aos outros.
As relações, além de frouxas e superficiais, são efêmeras e utilitárias, tornando as pessoas objetos apenas de interesse e de consumo, promovendo e estimulando o egocentrismo e o egoísmo, produzindo relações sociais onde as pessoas não se desprendem de si mesmas, por conseguinte se ligando muito mal aos outros.
A posse exacerbada, o egoísmo desvairado, a vaidade, o ciúme e o ódio são as bases psicopatológicas desses sentimentos desagregadores de inveja e de muitos outros transtornos emocionais e psicológicos, tão comuns nos dias atuais.
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