COLUNA
Curtas e Grossas
José Ewerton Neto é poeta, escritor e membro da Academia Maranhense de letras.
Curtas e Grossas

O Infinito

Desconfia-se que o Infinito só deu as caras pelo mundo quando alguma questão estava difícil de resolver.

José  Ewerton Neto

Atualizada em 02/05/2023 às 23h39
 

Desconfia-se que o Infinito, (que ninguém sabe se existe de verdade) só deu as caras pelo mundo quando alguma questão estava difícil de resolver. O primeiro recurso dos humanos, como se sabe, sempre foi recorrer a Deus, e quando este começou a dar para trás, foi necessário inventar o Infinito.

Para questões quantitativas, os matemáticos um belo dia criaram o Coeficiente de Segurança K que passou a aparecer solenemente nas fórmulas quando a equação não fechava. Óbvio que para questões mais abstratas e poderosas os matemáticos não poderiam se socorrer de um coeficiente de segurança e, neste caso, surgiu o Infinito, que deve ter aparecido na mesma toada: “Bota um infinito aí na coisa, e pronto, temos solucionada a questão.”

O infinito, portanto, é uma espécie de coeficiente de segurança da ilusão do conhecimento humano. 

1.A HISTÓRIA (Primeira Tentativa) 

O problema do infinito e do seu significado para a matemática, a filosofia e a teologia – era discutido havia mais de 2 mil anos. Utilizada por Aristóteles, a palavra grega “apeiron” era debatida há muito tempo pela sua multiplicidade de significados. Curiosamente ela queria dizer sem limites, incerto, absurdamente grande, mas possuía também uma conotação negativa, correspondente ao caos do qual o mundo se formou, ou, em outras palavras, do incognoscível.

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Aristóteles, de fato, via a infinitude como imperfeição. Foi somente no início da era cristã que se identificou o “infinito” ao “Um” divino. Recentemente o papa João Paulo II disse: “Sem Deus as contas não fecham”, mas não se referiu ao infinito. O fato é que ambos se tangenciam, mas é bom não mexer nesse assunto, justamente porque entre Deus e Infinito ninguém sabe onde termina um e começa outro e não pegaria muito bem botar Deus numa fórmula porque aí sim é que a briga da Ciência com a Igreja não chegaria ao fim. 

2.A HISTÓRIA  (Segunda Tentativa )

Foi o sacerdote e matemático inglês John Wallis (1616-1703) quem usou o símbolo do infinito pela primeira vez na matemática, em 1655. Sobre esse uso não se sabe ao certo no que Wallis se baseou, mas há argumentos de que a escolha tenha se inspirado no numeral romano mil, utilizado na época como sinônimo de muitos. E sua forma naquele período lembra mesmo o símbolo do infinito: CƆ, um oito deitado, tão conhecido até hoje quanto indescritível. . 

3. A VERDADE (Terceira Tentativa) Para um sujeito tão complicado assim, como o Infinito, talvez seja mais fácil encarar a sua verdade histórica via poesia. Foi o que tentou fazer, um dia, dia determinado autor em seu livro Cidade Aritmética: 

O infinito, na Matemática / mal consegue disfarçar/ sua sina de impostor / Suas mãos úmidas de estrelas/ ao cravar-se nas fórmulas/da essência dos signos se apropria/ e reluz a insana farsa/ de caber-se no tempo sendo eterno/ na fração sendo infinito./ Pela  soberba, talvez, de sendo tudo/ Imaginar que só lhe basta/Vestir-se do avesso para ser nada. 

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