SÃO LUÍS - Em 2021 todas as forças política do Brasil, pelo menos teoricamente, deveriam estar centradas na luta contra a pandemia e pela redução de seus efeitos catastróficos na sociedade e na economia. Teoricamente deveria, na prática não é o que acontece. Para infelicidade dos brasileiros, o sistema eleitoral congela o país a cada dois anos por conta de eleições. E o que deveria ser daquelas unanimidades absolutas, simplesmente passa despercebido por quase todos.
A pandemia afetou o Brasil em 2020, ano de eleições municipais. Logo no começo foi cogitado o adiamento das eleições, a unificação dos pleitos. Vereadores e prefeitos ganhariam mais dois anos de mandato e o Brasil começaria a ter apenas uma eleição a cada quatro anos.
Em meio a apelos por distanciamento social, a ideia foi perdendo força ao ponto de não chegar, sequer, a ser uma lembrança. Enquanto a ideia de unificação das eleições agonizava, a classe política foi para a rua e fez campanha.
Em 2021, passada a eleição municipal, agora é a eleição de 2022 que sequestra a atenção dos políticos. Enquanto a pandemia não dá sinais de descanso, a atenção dos políticos em relação à saúde pública descansa. O segundo trimestre inaugura a temporada de articulações políticas.
O infortúnio de enfrentar duas eleições em meio a uma crise de saúde pública de proporções mundiais é evidente em si mesmo. Contudo, há muito mais a se argumentar contra a enxurrada de eleições.
As eleições municipais de 2020 custaram bilhões aos cofres públicos. Apenas os gastos com logística representaram mais de R$ 600 milhões. “Investimento” destinado à escolha de vereadores e prefeitos. Dois anos antes custos ainda maiores foram despendidos na eleição de presidente, senadores, deputados federais, deputados estaduais e governadores.
Na matemática eleitoral a subtração do dinheiro do pagador de impostos prevalece. Faz-se em dois anos, gasta-se duas vezes, por dois processos que poderiam muito bem ser unificados.
Do ponto de vista de gestão de recursos, o calendário eleitoral brasileiro é uma blasfêmia. No entanto, não só de impropérios orçamentários se construiu o castelo infame que abriga as incômodas eleições municipais e regionais.
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A divisão das eleições causa uma simbiose parasitária entre ambas. Prefeitos e vereadores já eleitos dois anos antes, por conta de estarem na “ponta da corda”, costumam ser os maiores cabos eleitorais de deputados, senadores e governadores. Estes, por sua vez, dois anos depois direcionam esforços para eleger a maior bancada de prefeitos e vereadores que puderem.
O círculo vicioso da retroalimentação eleitoral costuma ser trágica para cofres de pequenas cidades do interior cuja única função é eleger o deputado estadual, eleger o deputado federal, o prefeito e o vereador.
Além de cortar custos diretos, a unificação das eleições também reduziria os consórcios políticos.
E para finalizar, talvez o maior argumento de todos: ao invés de deixar para trás problemas da sociedade para se dedicar a eleição a cada dois anos, a classe política só o faria assim a cada quatro com eleições unificadas.
A obviedade do absurdo está posta. A razão de não ser percebido enquanto tal... Esse já é um problema muito mais complexo.
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