SÃO LUÍS – A vacina contra a Covid-19 é aguardada por muita gente mas, por enquanto, as poucas doses são destinadas ao público prioritário. No entanto, boa parte da população ainda tem demonstrado resistência e não confia em nenhuma das vacinas em produção.
O Imirante.com lançou uma enquete na última terça-feira (19), e o resultado nessa quarta-feira (20) mostrou que a maioria está otimista pela vacina. Perguntamos: “Você pretende tomar a vacina contra a Covid-19?”. Um total de 3.237 (76%) internautas responderam SIM e 1.031 (24%) responderam NÃO.
Nossa reportagem procurou a bióloga e doutora em Imunologia, Rosane Guerra, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), que respondeu algumas questões sobre as vacinas contra o coronavírus.
Ela explica a importância de tomar a vacina, bem como as diferentes tecnologias usadas nas produções. Rosane demonstra ainda a segurança destes imunizantes, cujos investimentos financeiros e a união de forças da comunidade científica internacional proporcionou mais agilidade em todo o processo de produção das vacinas. Leia a entrevista completa:
1. Por que se vacinar contra a Covid-19?
R: A Covid-19 tem elevada taxa de transmissão e muitos pacientes acabam por ter complicações, em graus variáveis, associadas à infecção. As internações, seja em leito clínico ou em UTI, são muito demoradas, com tempo sempre superior a 10 dias, podendo se estender até 6 meses, nos casos mais graves. A infecção grave pode resultar em óbito, razão pela qual o mundo todo parou. A vacinação, nessa em outras infecções, previne as internações, os casos graves e o óbito. Além disso, ao ser vacinado a pessoa se protege e também protege aos familiares e comunicantes, pois as vacinas reduzem a circulação dos vírus e são a única forma de controle dessa pandemia, considerando que não há medicação preventiva e que a variáveis respostas aos protocolos terapêuticos disponíveis.
2. O tempo de estudo e produção é considerado ideal? A produção dessas vacinas pulou alguma etapa que possa comprometer a eficácia?
As vacinas são desenvolvidas a partir de várias etapas que, em geral, são sequenciais e podem levar muitos anos, por razões diversas. No caso das vacinas Covid-19, os investimentos financeiros sem precedentes e o grande número de colaborações científicas internacionais acabaram por permitir uma aceleração em todo esse processo, mudando um pouco o curso dessa história. No caso da vacina para a Covid-19 algumas das etapas do processo de pesquisa e desenvolvimento vêm acontecendo em paralelo, mas ainda assim, mantendo padrões clínicos e de segurança rigorosos. Por exemplo, alguns ensaios clínicos estão avaliando várias vacinas ao mesmo tempo e, também, o número de pessoas testadas é bem grande, e, número sem precedentes na história recente da ciência, pois esses testes clínicos são muito caros. Importante ressaltar, que todas as vacinas testadas e as que já estão sendo utilizadas, foram desenvolvidas a partir de estudos em andamento para surtos de doenças infecciosas e epidemias como Ebola, Zika e H1N1. Há também as vacinas, como a Coronavac que utilizaram os conhecimentos já obtidos e consolidados acerca de vacinas que já são amplamente utilizadas. Assim, mesmo mantendo todo rigor científico esses estudos puderam ser acelerados o que não torna esses estudos menos rigorosos. Em todos os estudos foram considerados como tópicos principais: - Capacidade de estimular o sistema imune considerando a produção de anticorpos e a ativação de linfócitos - Segurança - Efeitos colaterais mínimos - Estabilidade - Fácil produção
3. Fale sobre a eficácia das vacinas contra o coronavírus. É necessário tomar as duas doses?
Sim, pois pode prevenir óbitos, doenças graves e assim evitar o congestionamento dos serviços de saúde. Além disso, a Anvisa, a Organização Mundial de Saúde e outros órgãos de controle mundo afora estabeleceram como desejável, para as vacinas emergenciais da Covid, uma eficácia de até 50%. Há, por exemplo, outras vacinas com taxas de eficácia menores como é o caso da vacina de influenza em relação aos diferentes subtipos. Ainda assim, muitas mortes e internações já foram evitadas, entre as pessoas vacinadas. A necessidade de tomar duas doses, bem como os intervalos entre as doses, foram determinados em ensaios clínicos e visam aumentar a eficácia. O mesmo já ocorre com outras vacinas que usamos , como é o caso da vacina para Hepatite B recombinante (3 doses) e a dupla bacteriana (difteria e tétano – 2 doses) usadas para vacinar adultos e idosos
4. Como funciona a vacina de vírus inativado como a Coronavac, a primeira aplicada no Maranhão?
As vacinas servem para estimular a imunidade, gerando memória imunológica e evitando os casos graves das doenças entre os pacientes mais susceptíveis, como os que estão no grupo de risco para a Covid-19. Há sete tipos de vacinas em desenvolvimento contra o coronavírus e mais de uma centena de estudos. As que já estão sendo utilizadas no mundo usam tecnologias bem diferentes. Vou falar só das 3 que já estão em uso ou, em breve, poderão chegar ao Brasil.
Vacinas com vírus inativados: Utilizam os vírus inativados por calor, ou quimicamente (pH, proteases, etc.), ou por métodos físicos (ex. alta pressão) e não podem mais se multiplicar. Dessa forma, os vírus não são mais capazes de causar doenças, mas ainda são capazes de estimular uma resposta imune e aumento da produção de anticorpos, pois preservam a imunogenicidade. Precisam de pelo menos duas doses para promover respostas mais duradoras e efetiva. Ex: Coronavac da Sinovac. Outros exemplos: Vacinas para influenza, raiva, poliomielite inativada, HPV, tríplice bacteriana (difteria, tétano e coqueluche (Pertussis)
Vacinas de vetor viral não replicante: usam um vírus que foi geneticamente modificado para que não possa causar doenças, e introduzem nesse vírus o pedaço do Coronavírus para gerar uma resposta imune com segurança. Ex. Oxford/AstraZeneca usa vírus modificados. Usa as mesmas plataformas das vacinas que estavam sendo estudadas para as vacinas contra Zika e Chicungunha.
Vacinas de mRNA: tem uma abordagem de ponta que usa materiais sintéticos e não precisa do vírus. o RNA viral, geneticamente modificado, para gerar proteínas capazes de estimular o sistema imune, sem causar doenças. Ex: Pfizer.
5. Posso ser infectado ao tomar a vacina?
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Não, nenhuma das vacinas tem o vírus vivo ou ativo. A segurança é uma prioridade máxima nas vacinas. Assim, há muitas razões para se vacinar.
6. Quais os efeitos colaterais normais das vacinas contra Covid-19? Quanto tempo podem durar?
As reações adversas mais frequentes são dor, inchaço e vermelhidão no local de aplicação da vacina, além de calafrios, cansaço e dor de cabeça. São considerados efeitos leves, parecidos com uma gripe. Efeitos colaterais mais comuns que podem começar até dois dias após a primeira dose e podem durar até 7 dias. No braço vacinado: Dor, inchaço, vermelhidão; no resto do corpo: calafrios, cansaço, cefaleia - dor de cabeça.
7. Quanto tempo é necessário para se afirmar que o individuo está imune a Covid?
R: A produção de anticorpos ocorre cerca de 4 dias após a primeira dose. Entretanto é necessária a segunda dose para ativar mais linfócitos e a produção de anticorpos.
8. Há uma vacina melhor do que a outra?
No momento não temos como identificar isso, o fato é que todas as aprovadas e em uso, mostraram boa eficácia e evitaram óbitos e sintomas graves.
9. A vacinação acabará com o coronavírus?
R: Não se sabe ainda, pois depende do tipo de imunidade que as vacinas utilizadas poderão gerar. Entretanto, a vacinação em massa poderá reduzir as taxas de novos casos, casos graves e óbitos, o que pode contribuir para o controle da pandemia.
10. Por que alguns grupos não podem se vacinar?
Porque ainda não há estudos, como crianças e gestantes. Já outros devido aos tratamentos que estão sendo submetidos, como pacientes com câncer ou com doenças autoimunes, por exemplo.
11. A vacina é efetiva para a nova variante do vírus?
Ainda não há dados sobre isso, esperamos e desejamos muito que seja
12. Há medicamentos aprovados para prevenção ou tratamento da Covid-19?
Não há remédios capazes de prevenir a infecção e o tratamento ainda é muito variado e individual, pois depende do tipo de sintoma e de qual o órgão mais afetado pela Covid-19. Assim, no momento, a única opção que dispomos é a vacina.
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