Sem ciclovias

Ciclistas se arriscam em meio ao trânsito de São Luís

A capital maranhense possui, segundo a SMTT, 18km de ciclovias.

Heider Matos/Imirante.com

Atualizada em 27/03/2022 às 11h25
 Carlos Jorge Lima Martins chegou a ser atropelado quando trabalha em sua bicicleta. Foto: Heider Matos/Imirante.com.
Carlos Jorge Lima Martins chegou a ser atropelado quando trabalha em sua bicicleta. Foto: Heider Matos/Imirante.com.

SÃO LUÍS – Há oito anos, o vendedor de lanches Carlos Jorge Lima Martins, hoje com 38 anos, trabalhava na avenida dos Holandeses com outros colegas, quando foi surpreendido por um carro desgovernado. Segundo ele, o motorista jogou o carro pra cima dele e dos colegas. Ao perceber a ação, Carlos jogou-se para cima do meio fio e evitou o pior. Já o colega dele, foi atingido em cheio e não teve a mesma sorte. O homem teve ferimentos mais graves, mas sobreviveu. “O cara bateu atrás. Ele bateu de propósito. Primeiro foi em um bike lanches que estava atrás e mais a frente ele me bateu. Ai quando ele me bateu eu já estava na beirada (meio fio). Quando ele me bateu eu caí na sarjeta. Se eu fosse para o meio, ele passava por cima de mim”, contou o vendedor que trabalha há 18 anos na atividade para sustentar seus dois filhos. Carlos se desloca diariamente do Coroadinho até o bairro do Calhau, aonde vende seus lanches. Os desafios são muitos, ao olhar para sua bicicleta ele se emociona com o que já passou até o momento.

 José Carlos Ribeiro Carvalho, de 58 anos, trabalha há 40 anos como serralheiro e há 15 utiliza o veículo como meio de locomoção. Foto: Heider Matos/Imirante.com.
José Carlos Ribeiro Carvalho, de 58 anos, trabalha há 40 anos como serralheiro e há 15 utiliza o veículo como meio de locomoção. Foto: Heider Matos/Imirante.com.

O trabalho do senhor José Carlos Ribeiro Carvalho, de 58 anos, é bem diferente do vendedor Carlos, mas a companheira de trabalho é a mesma e a história quase que se coincide. Serralheiro há mais de quarenta anos, José Carlos decidiu há 15 anos trabalhar por contra própria e todos os dias a rotina é mesma. Ele sai de casa no bairro São Francisco com a sua companheira que ele a chama carinhosamente de “Bicicleta Rosa” em direção a Vila Embratel, onde presta a maioria dos serviços de serralheria, pintura entre outros serviços. Os desafios são muitos, além da falta de local apropriado para trafegar com a bicicleta, o serralheiro reclama da falta de educação dos motoristas. “Ando São Luís toda, vou e volto todos os dias para Vila Embratel. O problema é a área para andar de bicicleta. Motorista passar por nós e não respeita. Porque ele está lá em cima (se referindo a estar dentro do ônibus) ele é que tem que passar e não dá espaço pra gente. Aí a gente tem de se jogar pra cima da calçada. Eles deveriam ter responsabilidade com a gente”, explicou o serralheiro.

Renato da Silva dos Anjos Mendes utiliza a bicicleta como meio de transporte até o trabalho.Foto: Heider Matos/Imirante.com.

A nossa última história é do garçom Renato da Silva dos Anjos Mendes, de 27 anos, morador do Jaracaty, todos os dias ele sai do bairro em que mora em direção a Ponta do Farol, onde trabalha em um restaurante. São poucos os trajetos da sua casa até o local de trabalho que possui ciclovia. Ele precisa na maioria das vezes trafegar por entre os carros. Os riscos são gigantescos e muitas vezes ele não tem a preferência respeitada. Mas ele não pensa em abandonar a bicicleta. “Sem ela minha vida seria meio difícil. Eu saio de casa 8h do Jacaraty e venho pra cá pra Ponta do Farol. O perigo é muito. Às vezes eu venho na contramão. Os motoristas não repeitam ciclistas. Tem que ter uma via só pra bike, fica melhor com mais segurança”, disse.

As três histórias são distintas, mas tem algo em comum. São pessoas comuns que utilizam a bicicleta como meio de transporte e se arriscam diariamente nas avenidas de São Luís. Sem local apropriado para trafegar, se arriscam, colocam sua vida em jogo diariamente para garantir sua subsistência, como você pode acompanhar não é nada fácil. A capital maranhense não oferece ciclovias ou locais apropriados para o uso de bicicletas.

Conversamos com o urbanista Ronald Almeida que relatou que São Luís é um das cidades brasileiras com a menor quilometragem de ciclovias. Isso se contrapõe ao fato de termos um elevado número de adeptos de ciclismo de pessoas que utilizam o veículo para chegar até seu local de trabalho. “Nós temos uma taxa de ciclista muita alta no Brasil. Fala-se muito em mobilidade urbana, mas os dois principais elementos da mobilidade urbana são as calçadas e as ciclovias, do ponto de vista urbano o pedestre e o ciclista. São poucos os bairros de São Luís que tem calçadas organizadas, não se repeita o gabarito das calçadas, são mal feitas. São fora do padrão e da norma. Cada uma de um jeito. E na maioria das vezes, o bairro nem tem calçada, o espaço é tomado por mato”, explicou.

Segundo dados do IBGE, a Secretaria de Trânsito e Transportes, a capital maranhenses possui 18 km de ciclovias, quase nada se comparada com São Paulo. A capital paulista é a cidade com a maior malha cicloviária do Brasil e da América Latina, com 468 quilômetros, seguida por Bogotá (Colômbia) 467 quilômetros e Rio de Janeiro, 450 quilômetros. Isso gera uma reação em cadeia. O ciclista não possuindo um local adequado para transitar utiliza o mesmo espaço de veículos maiores expondo sua vida a riscos.

A SMTT informou à reportagem que pretende ampliar este número com a construção de novas ciclovias nas principais avenidas da capital, região litorânea e região da Lagoa da Jansen.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais X, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.