SÃO LUÍS – Longe da escola, eles podem se tornar presas frágeis para o mundo do crime. Quem não se lembra das festas promovidas por facções criminosas, no ano passado, que terminaram em prisões e apreensões de adolescentes, na capital maranhense?
Em uma delas, na noite de 11 de dezembro de 2014, na avenida Santos Dumont, no bairro do São Cristóvão, a polícia conduziu 130 pessoas. No local, ainda, foram apreendidas drogas e celulares.
Estudantes de escola próxima do local daquela festa, que preferiram não se identificar, relataram ao Imirante.com que alguns participantes desses encontros, regados a muita bebida alcoólica, eram seus colegas de sala. Esse universo tentador para jovens ávidos por todo tipo de experiência torna complicada, para a família e para o professor, a tarefa de estimular o prazer pelos estudos nos filhos e alunos. “Quem não é educado pela família, ou pela escola, vai ser capturado pelos traficantes”, avalia a psicopedagoga May Guimarães.
Vida de educador
Uma mãe de três filhos e um jovem, como tantas pessoas pelo país, assumiram o compromisso de transmitir ensinamentos a dezenas de alunos em escolas da rede pública, em São Luís. Eles sabiam, desde o começo, o que os esperava: salas lotadas, indisciplina, mas talvez, não contassem com a desilusão. O Imirante.com ouviu a história desses dois profissionais, que expuseram suas ânsias por tentar transformar a vida de crianças e adolescentes com uma ferramenta chamada Educação.
Todos os dias, Kátia Ferreira, 45 anos, saía do Pão de Açúcar para dar aulas em um colégio, no bairro da Liberdade. No começo, havia muito entusiasmo, como ela própria admite. Contudo, as frustrações surgiram em pouco tempo. “Eles não queriam aprender, não queriam nada com a vida. Eles só obedeciam aos gritos e nem toda professora quer trabalhar gritando”, desabafa.
Kátia é formada em Filosofia , com pós-graduação em Psicopedagogia Clínica e Institucional, e lecionou nessa escola, somente, por três meses. “Tinha vez que eu ficava triste. Você prepara uma aula, usa dinâmica para ver se eles interagem, mas eu vinha arrasada. Era difícil trabalhar. Eu já era a quarta professora, só nesse ano, que assumia”, revela nove meses depois de ter deixado o emprego.
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A realidade dela não é muito diferente da de George Azevedo, 26 anos, que faz estágio em uma escola, no bairro do Coroadinho. O jovem, que estuda Pedagogia e deve se formar em breve, resiste às dificuldades. “É um trabalho meticuloso, cansativo, mas o resultado é gratificante”, afirma. Bolsista, ele tem como função despertar o fantástico mundo da imaginação nos pequenos aprendizes, de três a nove anos de idade, e dar a eles uma realidade diferente da qual estão acostumados. “É muito difícil para uma criança que nasce ali não se deparar com a criminalidade”, declara.
A maioria dos alunos de Kátia e de George se torna adulto em ambientes onde é alto o índice de violência. “Quando eles chegavam cada um contava uma coisa pior que a outra. Fiquei triste de ver essa realidade. Histórias de brigas, morte... Só o que eles vêem é isso”, relata a professora. Quanto ao problema, o futuro pedagogo demonstra otimismo. “Se a gente consegue colocar um pouco de conhecimento, falar que aquilo é errado, que ele pode ter uma vida, mesmo no meio daquela atmosfera, bem mais segura, ele vai ter”, conclui.
Evasão
A professora Kátia desiste de uma escola e vai para outra. Mas, e quando é o aluno quem decide abandonar a sala de aula? De acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep), a taxa de abandono ou evasão, nos primeiros anos da escola, aumentou na rede pública municipal de São Luís entre 2013 e 2014. Já na rede pública estadual, em igual período, o sentido foi o inverso.
Para a psicopedagoga May Guimarães, esse tipo de evasão é uma consequência da falta de implementação de políticas socioeconômicas. Para ela, abandono escolar e criminalidade caminham juntos. “O adolescente que está fora da escola fica mais vulnerável ao mundo de crimes e drogas”, explica.
Vivemos um momento de discussão sobre reduzir ou não a maioridade penal de 18 para 16 anos. A psicopedagoga é contra. “Se for aprovada, o Brasil vai para o abismo. Eu diria que é um infanticídio e o extermínio dos jovens”, aponta.
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