Linchamento repercutiu internacionalmente

Polícia ainda não localizou nenhum dos envolvidos em linchamento; investigações continuam

Até o momento, cinco suspeitos foram ouvidos. Envolvidos poderão responder por homicídio triplamente qualificado.

Daniel Moraes / Imirante.com

Atualizada em 27/03/2022 às 11h41
Imagem de Cleidenilson morto, amarrado ao poste, circulou o país. Foto: Biné Morais / O Estado

SÃO LUÍS – Três dias após o linchamento do suposto assaltante Cleidenilson Pereira Silva, 29 anos, em plena luz do dia em uma rua do bairro Jardim São Cristóvão, em São Luís, a polícia ainda não conseguiu localizar nenhum dos envolvidos.

Segundo o delegado Guilherme Sousa Filho, da Delegacia de Homicídios, até o momento, cinco suspeitos foram ouvidos. A polícia trabalha com a hipótese de que um grupo pequeno de pessoas foi responsável pela morte de Cleidenilson. “Não é uma coisa praticada pela multidão”, afirmou o delegado.

Na investigação, a polícia teve acesso a imagens do crime, que o delegado classificou como “chocantes”, e é com base nessas imagens que ela espera identificar todos os envolvidos. “Até o momento, a única coisa que podemos afirmar com certeza é que o Cleidenilson, juntamente com o menor, ia praticar um assalto”, completou. A polícia tem 30 dias para concluir o inquérito.

Injustificável

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Para o delegado Guilherme Sousa Filho, o linchamento de Cleidenilson é um fato injustificável. “Foi uma barbárie. O papel de punir criminosos não é da população, é do Estado. Nós temos uma Constituição, uma das mais avançadas do mundo, que garante os direitos fundamentais e a dignidade da pessoa humana. A população prendeu, condenou e executou o Cleidenilson. O que não é o seu papel, até porque, no Brasil, não existe pena de morte. Era assaltante? Que o prendessem e ligassem para o 190”, afirmou Sousa Filho.

Sobre as críticas de parte da população, que chegam a justificar o linchamento baseada no sentimento de insegurança que o Estado vive, o delegado afirmou que esse sentimento é uma realidade mundial. “Não é só aqui no Maranhão que há criminalidade, sentimento de insegurança. Isso é uma realidade mundial, não é culpa da polícia, ou da Justiça; o que falta são políticas públicas mais eficazes, principalmente na área da educação. É preciso parar um momento e questionar: o que levou os dois a entrarem no mundo do crime? É nesse ponto que temos que focar se quisermos realmente resolver a problemática da segurança pública no Brasil”, opinou.

Envolvidos responderão por homicídio

Ainda de acordo com o delegado Guilherme Sousa Filho, os envolvidos no linchamento de Cleidenilson poderão responder pelo crime de homicídio triplamente qualificado. “O suspeito já estava rendido, sem oferecer risco a ninguém, e mesmo assim foi amarrado a um poste e espancado brutalmente até a morte. Os responsáveis pelo crime responderão por homicídio triplamente qualificado, por motivo torpe, sem a menor chance de defesa e, principalmente, pela crueldade. As imagens são chocantes”, destacou.

Repercussão

Poucas horas após o Imirante e O Estado noticiarem o linchamento, o caso ganhou bastante repercussão no país. Periódicos de circulação nacional, como o “Estadão”, “Correio Braziliense” e “Extra” deram destaque ao fato. Neste último, inclusive, sendo matéria de capa. O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) comentou o caso por meio do seu perfil no Facebook. Ele classificou os envolvidos na morte de Cleidenilson como uma “turba de psicopatas”.

O espanhol "EL País", em sua versão online, fez uma análise do caso por meio de uma entrevista com José de Souza Martins, autor do livro “Linchamentos – A Justiça Popular no Brasil”. Para Souza Martins, apesar da repercussão, o linchamento de Cleidenilson foi apenas mais um. “É mais um linchamento. O Brasil tem média de um linchamento por dia, não é nada excepcional nesta rotina de violência, este caso não tem nada diferente do resto ao não ser a imagem, que choca outras pessoas. A atenção publica é atraída mais pelas imagens, que pelo fato de ter virado rotina”, afirmou o autor.

Veja a repercussão

Delegado Guilherme Sousa Filho. Foto: Divulgação
Linchamento foi matéria de capa do jornal carioca Extra, do grupo Globo. Foto: Reprodução
Jornal "O Estado de São Paulo", um dos de maior circulação do país, repercutiu o linchamento. Foto: Reprodução
Repercussão do jornal "Correio Braziliense". Foto: Reprodução
Destaque dado pelo espanhol "EL País". Foto: Reprodução

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