Luiz Gonzaga

Diretor de 'Gonzaga - de pai para filho' diz se apoiar em 'drama familiar'

CauĂȘ Muraro/G1

Atualizada em 27/03/2022 Ă s 12h29

SÃO PAULO - “Quem foi minha mĂŁe? Quem Ă© meu pai?” Era esse o tipo de questĂŁo que Gonzaguinha fazia a Luiz Gonzaga durante a turnĂȘ “Vida de viajante”, em 1981. Pai e filho tinham uma relação problemĂĄtica e distante desde sempre, mas estavam excepcionalmente prĂłximos, na Ă©poca. As conversas ocorridas durante a excursĂŁo foram registradas em fitas cassete – e o material, alguns anos atrĂĄs, caiu na mĂŁo do diretor Breno Silveira, de “2 filhos de Francisco” (2005). “Quando ouvi as fitas, aquilo me emocionou. Eram perguntas muito contundentes”, explica o cineasta em entrevista ao G1, por telefone. “Eu senti logo que tinha uma histĂłria importante por trĂĄs disso tudo.” O resultado concreto da audição começa a tomar forma a partir desde domingo (11), primeiro dia de filmagens de longa “Gonzaga – de pai para filho”.

As cenas serĂŁo gravadas num show em homenagem a Luiz Gonzaga, que acontece no simbĂłlico Marco Zero, no Recife. Trata-se, no entanto, de um evento real, e nĂŁo de ficção: Silveira apenas aproveitarĂĄ o cenĂĄrio real, e a presença do pĂșblico, para rodar uma apresentação que o sanfoneiro pernambucano teria feito no inĂ­cio da carreira, por volta de 1950. Mas por que iniciar os trabalhos ali e por que agora? “Primeiro: a gente estĂĄ praticamente na data de aniversĂĄrio do GonzagĂŁo [13 de dezembro]. Segundo: o Recife tem uma cultura nordestina muito grande. Terceiro: o Marco Zero, graças a Deus, Ă© preservado como construção de Ă©poca”, justifica Silveira.

De acordo com ele, o filme nĂŁo serĂĄ uma biografia – como nĂŁo Ă©, em sua visĂŁo, “2 filhos de Francisco”: “Ali eu fiz uma histĂłria de pai e filho. Foquei principalmente no sonho daquele pai em relação ao ZezĂ©â€. O novo filme seguirĂĄ mĂŁo inversa, a visĂŁo do filho sobre pai. “Meus filmes se apoiam muito nesse drama familiar, principalmente na relação paterna”.

Registrado Luiz Gonzaga do Nascimento Junior, Gonzaguinha nasceu e cresceu no Rio de Janeiro, em 1945. Perdeu a mĂŁe aos dois anos de idade e foi criado por um casal de amigos do pai, que Ă quela altura nĂŁo era ainda o "rei do baiĂŁo". A reaproximação entre os dois tardou a acontecer. “Nessa entrevista de Gonzaguinha com GonzagĂŁo, o tom Ă© muito emocionado, e eu entendi que o filho tambĂ©m nĂŁo entendia o pai direito”, observa Silveira. “Apesar de o pai mandar dinheiro, ele nĂŁo estava presente. No fundo, no fundo, acho que existia uma vontade do Gonzaguinha de ser aceito como mĂșsico e como filho. Acho que ele se ressentiu disso a vida inteira, da falta do reconhecimento paterno.”

As fitas que chegaram ao diretor nĂŁo continham revelaçÔes inĂ©ditas: foram utilizadas pela jornalista Regina Echeverria no livro “Gonzaguinha & GonzagĂŁo – uma histĂłria brasileira”, originalmente publicado em 2006. O filme, contudo, nĂŁo serĂĄ uma versĂŁo audiovisual da obra escrita, mesmo porque o diretor informa que seu projeto existe hĂĄ cerca de seis anos.

TrĂȘs atores diferentes interpretarĂŁo Luiz Gonzaga, a depender da Ă©poca retratada. O papel de Gonzaguinha foi entregue ao ator gaĂșcho Julio Andrade. O diretor antecipa que pretende fazer um longa â€œĂ©pico”, para rever a vida do Gonzaga dos 17 anos de idade atĂ© a morte, em 1989, apenas dois anos antes do filho. “É um projeto muito grande. NĂŁo porque eu quero que seja assim, mas porque GonzagĂŁo Ă© grande demais.” Ele pondera ainda que este Ă© “com certeza absoluta” o maior orçamento com que jĂĄ trabalhou.

As filmagens passarĂŁo por Rio de Janeiro, Minas Gerais e talvez SĂŁo Paulo. Para as cenas a serem rodadas no show deste domingo, ele planeja anunciar no palco, diante do pĂșblico, a presença do sanfoneiro Nivaldo Expedito, o “Chambinho do Acordeon” – serĂĄ ele o intĂ©rprete de GonzagĂŁo na fase dos 30 aos 50 anos.

A ideia Ă© estrear “Gonzaga – de pai para filho” em 2012, ano do centenĂĄrio de Luiz Gonzaga. Para cumprir o prazo curto, Silveira adotarĂĄ a estratĂ©gia de fazer a edição paralelamente Ă  filmagem (â€œĂ© uma coisa que o cinema americano faz muito”). “Pretendo lançar, no mĂĄximo, atĂ© outubro”, prossegue. Talvez o filme traga algumas respostas para as muitas perguntas de Gonzaguinha. Sua mĂŁe, a cantora Odaleia Guedes dos Santos, aparecerĂĄ em cena representada pela atriz Nanda Costa. O diretor recorre tambĂ©m a uma das frases que ouviu nas fitas e o marcou. A certa altura das conversas, GonzagĂŁo teria dito, sobre si prĂłprio: “Eu nĂŁo sei mais eu sou – virei um tal de folclore”.

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