SÃO PAULO - O alcoolismo já é um problema grave no Brasil. Segundo o GREA (Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo) cerca de 15% da população brasileira consome álcool de maneira abusiva.
O grande problema é que não é fácil determinar o volume de consumo de alccol tolerado pelo organismo, uma vez que uma vez que as más conseqüências do uso do álcool ocorrem também em pessoas que ingerem quantidades bem inferiores àquelas que indicam abuso ou dependência.
Algumas pessoas já colocam a saúde em risco, ingerindo volumes alcoólicos considerados pequenos, como quatro doses para um homem, e três para uma mulher, em uma única ocasião. Outras pessoas toleram grandes volumes de bebida alcoólica, sendo mais susceptíveis ao abuso e à dependência.
Os efeitos do consumo crônico do álcool são bem conhecidos, mas as pessoas não se consideram alcoólatras, ou com alto risco de se tornar alcoólatras até sofrerem as consequências da dependência.
Altos níveis de álcool no sangue podem deprimir o Sistema Nervoso Central e causar perda da consciência, baixa da pressão arterial e da temperatura corporal, baixa dos níveis de açúcar no sangue, depressão respiratória, coma e morte.
Cronicamente, o álcool pode causar várias doenças e incapacitações, que abrangem doenças do trato gastrintestinal - esofagites, gastrites, doença do refluxo gastro-esofágico, hepatite e cirrose hepática - doenças cardiovasculares – geralmente, desencadeadas pela hipertensão arterial e pela elevação do colesterol induzidos pelo álcool - osteoporose e vários tipos de câncer.
Principais carências nutricionais relacionadas ao alcoolismo
Dificilmente, pessoas que abusam ou são dependentes alcoólicos conseguem manter um bom padrão nutricional. Isso ocorre devido à ingestão insuficiente de alimentos, dificuldade de absorver os alimentos ingeridos, perda de proteínas pelo intestino e redução da síntese de proteínas pelo fígado.
Quando o fígado está metabolizando o álcool os alimentos ingeridos ficam esperando o processo, e acabam sendo acumulados na forma de gordura. Além disso, os nutrientes não se perdem, havendo assim uma deficiência nutricional.
Outro fator importante é a falta de apetite que o álcool causa, por não ser apenas uma substância psicotrópica, mas também uma fonte calórica – 1g de álcool fornece 7 calorias – chegando a suprir, em grandes ingestões, 50% das necessidades calóricas diárias, sem nenhum traço de nutrientes em sua formulação. Além disso, as queixas de falta de apetite e náuseas ocorrem, respectivamente, em 87% e 55% desses pacientes.
As deficiências mais comuns e, particularmente preocupantes, que pacientes que abusam de álcool sofrem é: a desnutrição protéica, as deficiências de vitaminas A, C, D e do complexo B, magnésio e zinco”, diz a médica.
A desnutrição protéica é uma característica importante do consumo crônico e inadequado do álcool. Na maioria das vezes, há perda de peso, com redução da massa muscular, alterações de pele e cabelos que sugerem redução do aporte protéico. Para resolver o problema o ideal é procurar o nutricionista para uma dieta balanceada. Não há indicação de suplementos protéicos ou dieta com maiores quantidades de proteínas do que as recomendações normais.
Deficiência das vitaminas do Complexo B
(1) Tiamina – sua deficiência é muito comum em alcoolistas e pode causar complicações graves como doença neurológica incapacitante, cardiopatia grave e doença dos nervos periféricos, com formigamentos e dores em queimação, fraqueza das extremidades inferiores e até perda da sensibilidade das pernas. Para recuperação é necessário fazer reposição de Tiamina.
(2) Niacina – a carência dessa vitamina é a responsável pelas lesões de pele e de mucosas tão comuns em alcoolistas. A pele sofre pigmentação e descamação das lesões, principalmente nas áreas expostas ao sol. A deficiência de niacina também pode causar quadros de demência. Para resolver o problema é necessário criar a abstinência do álcool e uma alimentação equilibrada .
(3) Ácido Fólico - a deficiência dessa vitamina só aparece nos casos de alto consumo alcoólico e deficiente ingestão do ácido fólico. A manifestação mais comum é a anemia e o tratamento é feito através de uma dieta rica nesse nutriente.
A deficiência de vitamina A aparentemente é mais acentuada no fígado de alcoolistas crônicos e nesses casos parece não depender da ingestão da mesma. Muitos estudos científicos relacionam esse achado à maior propensão ao câncer de fígado relacionado à cirrose.
Neste caso é importante a terapia nutricional, porque os suplementos desta vitamina não são tolerados pelo paciente que faz uso de álcool. Este paciente se intoxica com pequenas doses de suplementos de vitamina A. A opção é a administração de alimentos ricos nessa vitamina, como os carotenóides encontrados nas frutas e hortaliças de cor amarelo-alaranjado: cenoura, moranga, abóbora madura, manga e mamão; ou verde escuro: mostarda, couve, agrião e almeirão. Outras fontes de vitamina A são fígado, ovos, leite integral e laticínios como manteiga, creme de leite e queijo. É importante ressaltar que qualquer tentativa de reposição de vitamina A deve ser feita diante da certeza da abstinência alcóólica.
A deficiência de vitamina C é comum em pacientes alcoolistas, com ou sem doença do fígado. Sua suplementação diária pode ser necessária durante semanas ou meses para restaurar os níveis normais da vitamina.
A deficiência de vitamina D no organismo leva a redução dos níveis de cálcio no esqueleto, osteoporose e maior suscetibilidade às fraturas. Nesses casos, pode ser indicada a exposição ao sol e uma correção nutricional associada à abstinência do álcool.
A deficiência de minerais como magnésio e zinco tem sido descrita, em alcoólatras, com manifestações de tremores, no caso do magnésio e cegueira noturna referente à falta de zinco. A reposição vitamínica normalmente é alcançada através de fontes nutricionais, não sendo necessária a suplementação de nenhum deles, com exceção de casos muito graves, pacientes hospitalizados, quando são oferecidos esses minerais em soluções endovenosas.
De uma maneira geral, a melhor proteção contra os efeitos lesivos do álcool ainda é uma boa nutrição. Assim, a recomendação geral é a de uma dieta caloricamente adequada e que garanta as recomendações de vitaminas e minerais necessários. Enquanto isso for possível através de uma dieta balanceada, não há motivo para suplementações.
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