SĂO PAULO â Ă comum para quem sofre de enxaqueca a vontade de, ao ter um ataque, querer se refugiar em um quarto silencioso e escuro. Embora hĂĄ tempos se saiba que a luz piora o quadro dessa cefaleia, os motivos por que isso ocorre sĂŁo desconhecidos.
Agora, um grupo de cientistas nos Estados Unidos identificou um mecanismo que ocorre na sensibilidade Ă luz durante as crises de enxaqueca tanto em pessoas com visĂŁo normal como em deficientes visuais.
Os resultados da pesquisa, divulgados neste domingo (10) na edição on-line da revista Nature Neuroscience, ajudam a compreender melhor os mecanismos por trås do problema ainda sem cura e que atinge milhÔes de pessoas em todo o mundo.
De acordo com o estudo, cerca de 85% dos indivĂduos com enxaqueca sĂŁo extremamente sensĂveis Ă luz. A fotofobia faz com que muitos evitem atividades como dirigir ou atĂ© mesmo ler e trabalhar. âAlguns pacientes chegam atĂ© mesmo a usar Ăłculos escuros durante Ă noiteâ, disse um dos autores do estudo, Rami Burstein, professor do Beth Israel Deaconess Medical Center (BIDMC) e da Escola MĂ©dica Harvard.
Foi a constatação de que a fotofobia atinge, entre os pacientes com enxaqueca, até mesmo as pessoas cegas que levou o grupo a investigar a hipótese de que os sinais transmitidos pela retina por meio dos nervos ópticos intensificariam as dores.
Os pesquisadores examinaram dois grupos de deficientes visuais que sofriam de enxaqueca. Os voluntårios no primeiro grupo eram totalmente cegos devido a doenças como cùncer na retina ou glaucoma. Como eles não eram capazes de ver imagens ou de perceber luz, tinham dificuldade de manter ciclos normais de sono.
O segundo grupo era formado por deficientes visuais devido a doenças degenerativas como retinite pigmentosa. Embora não fossem capazes de perceber imagens, podiam detectar a presença de luz e manter ritmos normais de dormir e ficar acordado.
âEnquanto os pacientes no primeiro grupo nĂŁo experimentaram piora em suas dores de cabeça a partir da exposição Ă luz, os do segundo grupo tiveram uma intensificação nas dores, particularmente na exposição Ă luz nos comprimentos de onda azul e cinzaâ, disse Burstein.
âIsso indicou que o mecanismo da fotofobia deveria envolver o nervo Ăłptico, porque em indivĂduos totalmente cegos esse nervo nĂŁo transporta os sinais luminosos atĂ© o cĂ©rebroâ, afirmou.
Os cientistas levaram os resultados ao laboratório, onde realizaram uma série de experimentos em modelos animais da enxaqueca. Após injetarem melanopsinas (fotopigmentos) nos olhos de ratos, eles traçaram o caminho dos sinais pelos nervos ópticos até o cérebro, onde descobriram um grupo de neurÎnios que se tornaram eletricamente ativos durante as crises de enxaqueca.
âQuando pequenos eletrodos foram inseridos nesses âneurĂŽnios da enxaquecaâ descobrimos que a luz estava disparando um fluxo de sinais elĂ©tricos que estava convergindo nas melanopsinas. Isso aumentava a sua atividade em segundosâ, disse Burstein.
Mesmo quando a luz era apagada, os neurĂŽnios permaneciam ativos. âIsso ajuda a explicar por que pacientes contam que suas crise se intensificam segundos apĂłs a exposição Ă luz e melhoram de 20 a 30 minutos depois que passam para ambientes escurosâ, disse.
Para os autores do estudo, a descoberta fornece novas rotas para abordar o problema da fotofobia em portadores de enxaqueca. âClinicamente, a pesquisa monta um cenĂĄrio para identificar maneiras de bloquear o caminho da dor de modo que os pacientes possam suportar a luz sem desconfortoâ, apontou.
Saiba Mais
Leia outras notĂcias em Imirante.com. Siga, tambĂ©m, o Imirante nas redes sociais X, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa pĂĄgina no Facebook e Youtube. Envie informaçÔes Ă Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.
+NotĂcias