BELÉM - O médico Anísio Ferreira de Souza, condenado por participação no crime de emasculação de crianças em Altamira, foi conduzido ontem para o Presídio Estadual Metropolitano (PEM) 1, em Marituba. Foragido desde o julgamento, em 2003, ele foi preso na quinta-feira passada no município de Porto Franco no Maranhão. Anísio começa a cumprir aos 67 anos de idade a pena a que foi condenado - 77 anos de reclusão. Com a saúde debilitada, o médico se diz 'vítima de injustiça' e se compara a Jesus Cristo quando fala da 'perseguição' que tem sofrido.
Anísio Teixeira foi transferido para Belém de avião, sob escolta de policiais militares, no final da manhã de ontem. O promotor de Justiça Milton Menezes, coordenador do Grupo Especial de Repressão e Prevenção às Organizações Criminosas (Geproc), do Ministério Público, acompanhou a transferência. O médico era foragido da justiça paraense desde 2005 e foi localizado em uma ação conjunta do Geproc e do Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado do Maranhão (Gecoc) no início de maio. Ele foi preso na quinta-feira passada no município de Porto Franco, distante 100 quilômetros de Imperatriz, no Maranhão.
Anísio alegou que não sabia que estava foragido e disse que viajara para o Maranhão para resolver questões pessoais. 'Eu me acho injustiçado, perseguido. Mas sofreu Cristo', disse, no momento do desembarque em Belém. 'Eu não sou foragido. Só fiquei sabendo que a Justiça estava atrás de mim na semana passada, quando me mostraram o mandado. Mas é um equívoco, vocês vão ver que é um equívoco. Um dia todos vocês verão que eu sou inocente', defende-se.
Informações oriundas de Porto Franco e repassadas ao promotor de justiça Milton Menezes, do Geproc, dão conta da atuação médica de Anísio na cidade. Ele nega, afirmando que desde o julgamento não mais exerceu a atividade clínica. 'São quatorze anos de tempestade que eu tenho passado dia após dia', diz. Anísio conta que o único envolvimento com a medicina no tempo seguinte ao julgamento foi um curso sobre ultra-sonografia em Ribeirão Preto, São Paulo.
Antes de seguir para o presídio de Marituba, onde começa a cumprir pena, Anísio foi submetido a exames de corpo de delito no Centro de Perícias Científicas Renato Chaves. A idade avançada e o corpo debilitado, segundo o promotor de justiça Milton Menezes, não devem servir para o abrandamento da pena ou a diminuição dos anos de condenação.
Júri
No julgamento em 2003, além de Anísio, foram considerados culpados o ex-policial militar Carlos Alberto dos Santos Lima, o médico Césio Brandão e Amailton Madeira Gomes. Os quatro recorreram da sentença, mas só três deles (Anísio, Césio e Amailton) puderam aguardar o julgamento do recurso em liberdade, sob habeas corpus. Em 2004, o Superior Tribunal de Justiça manteve a decisão da Justiça do Pará, que os condenava a mais de 30 anos de prisão cada. Césio Brandão e Amailton Madeira continuam foragidos da justiça.
A principal acusada e tida como mentora dos crimes, Valentina de Andrade Muñoz, acabou livre em função da demora da Justiça na marcação de um novo julgamento. O crime prescreveu e não cabe recurso contra a decisão do Supremo Tribunal de Justiça (STJ). O julgamento de Valentina, em 2003, foi anulado, a partir do pedido do Ministério Público do Estado (MPE), que alegou quebra de incomunicabilidade entre os jurados.
Os crimes de emasculação em Altamira ocorreram no período de 1989 e 1993 e as vítimas, meninos entre 8 e 14 anos, tiveram os órgãos sexuais extirpados.
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