SÃO PAULO - Os piores meses no combate à dengue no Brasil são tradicionalmente entre março e maio, quando as altas temperaturas e a umidade atmosférica criam situações propícias para a proliferação do mosquito Aedes aegypti, responsável pela transmissão da doença. Contudo, neste ano, começou a ser observado um aumento dos casos nos outros meses, que geralmente eram considerados mais tranqüilos pelos agentes de vigilância sanitária. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o aquecimento global, cujo reflexo foi sentido no prolongamento do período de calor no País, pode ser responsabilizado pelo avanço de doenças como malária, cólera e dengue pelo mundo.
Para o virologista Hermann Schatzmayr, do Instituto Oswaldo Cruz, o clima realmente pode ser considerado como um inimigo a mais na luta contra o Aedes. "Infelizmente, a dengue conseguiu se espalhar de maneira forte por todo o ano. No Brasil, ela já está deixando de ser epidêmica para ser endêmica", afirma. O clima também deixa o biólogo da coordenação do Programa de Combate à Dengue da Prefeitura de São Paulo, Adriano Ogera, apreensivo. "Não fossem as condições climáticas, eu poderia quase ter certeza de uma queda nos números absolutos da dengue em São Paulo para o ano que vem, depois de medidas que nós tomamos. Mas, com esse fator, não dá para projetar nada", lamenta.
Apesar de ser apontado como um forte fator de contribuição à proliferação do mosquito, o clima não é o único inimigo externo a ser combatido pelos agentes de saúde. Para Schatzmayr, a falta de informação de qualidade ainda impede o avanço na prevenção da dengue. "É muito pouco eficaz o resultado obtido com campanhas de conscientização em jornais e TVs. A população responde muito melhor às visitas dos agentes de saúde, que indicam o que deve ser feito", afirma o virologista.
Já Ogera crê que uma das maiores dificuldades é a organização para a realização de um programa coordenado entre todas as unidades da Federação para garantir um amplo combate à dengue. "Muitas vezes, não adianta nada um trabalho ser bem-feito num Estado, se em outro não há mobilização e a epidemia explode. É preciso que todos façam sua parte", cobra.
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Inseticidas
Em São Paulo, a Secretaria de Saúde decidiu, após estudos, oferecer à população carente uma tela especial para ser colocada acima das caixas d'água, que é um dos locais onde mais se concentram criadouros dos mosquitos. De acordo com Ogera, o objetivo é, além de educar, permitir que a população elimine a possibilidade de os mosquitos se reproduzirem.
Também empresas se mobilizam para auxiliar no combate à doença. Além do lançamento de produtos como inseticidas para serem utilizados em jardins, que matam o mosquito mas são inócuos às plantas, também lançam campanhas para conscientização. O químico responsável pela Indústria Anhembi, Celso Miranda, alerta para o uso de uma solução de água sanitária e água que é eficiente para matar as larvas do Aedes. "Basta misturar um litro de água com uma colher de chá de água sanitária e regar as plantas com isso, especialmente as bromélias, que acabam acumulando água onde o mosquito se reproduz. Também pode ser usado em ralos e grelhas de quintal", afirma.
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