SÃO LUÍS - Melissa de Oliveira, de 6 anos de idade, hoje brinca normalmente com uma boneca após dias de sofrimento. Semana passada, ela teve que ser internada no Hospital Materno Infantil com dores de cabeça e no corpo e febre alta. O diagnóstico dado no hospital foi dengue. Após quatro dias de tratamento, a menina já esbanja a mesma alegria de antes, e a mãe, Antônia Cleide Oliveira, de 27 anos, deixou para trás o semblante pesado de antes. “Com a minha filha melhor, sem dúvida, a gente fica mais aliviada. Agora, o que preocupa é que são muitas pessoas na mesma situação”, observou a dona-de-casa.
A preocupação não é somente da dona-de-casa mas também das autoridades de saúde do Estado e do Município. Isso porque o grande número de casos de dengue que foram notificados entre o fim de fevereiro deste ano e início deste mês serviu de alerta para um problema que, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (Semus), deixou de ser exclusivo do tempo chuvoso. Apesar de não afirmarem que a cidade vive um surto da doença, os órgãos de saúde assumem que o cenário é endêmico e até que o número de casos pode ser maior do que os 180 registrados entre o 1º dia deste ano e o dia 9 último.
De acordo com o coordenador do Programa de Combate à Dengue de São Luís, Pedro Tavares, a doença, que tinha uma característica tipicamente sazonal, já que a sua incidência era maior no período chuvoso, hoje tem registros estáveis. “Essa é a nossa maior preocupação. A dengue não é mais uma doença que ocorre entre janeiro e junho. Hoje a incidência dela é estável em praticamente todo o ano”, assinalou ele. “Não temos um quadro de surto epidêmico, mas, sim, de endemia generalizada. E é esse quadro que estamos tentando solucionar”, acrescentou.
casos
Segundo dados da Semus, foram registrados, oficialmente, 180 casos de dengue clássica este ano. Contudo, a grande quantidade de casos foram registrados entre os dias 23 de fevereiro e 9 deste mês e 60% aconteceram durante um período de 14 dias.
Somente para se ter uma idéia do problema, entre o dia 1º de janeiro e 22 de fevereiro a média de incidência da doença era de 1,15 caso diário. Já no período entre 23 de fevereiro e 9 deste mês, essa média saltou para 7,6 registros/dia. Entretanto, o número de casos pode ser até maior. Agentes de saúde, enfermeiros e médicos que trabalham em postos de saúde e em hospitais ligados à rede pública afirmam que há vários casos subnotificados. Inclusive, o próprio coordenador de combate à dengue admite que existem as subnotificações, embora ressalte que a margem de erro dos registros oficiais seja muito pequena.
“De fato, existem vários casos que não são oficialmente notificados porque as pessoas se tratam em casa. Por isso, diante de qualquer sintoma de dengue, nós pedimos para que os moradores procurem uma unidade de saúde, para que nós possamos ter um cenário real da doença. Acredito que a diferença entre os casos notificados e as subnotificações seja relativamente pequena”, assinalou Tavares.
“Pela minha experiência em vários postos de saúde, digo que o problema seja maior do que se está divulgando. Não creio em apenas 180 casos registrados, acredito que o número seja, pelo menos, 20% maior”, contou uma médica que trabalha no Município, mas preferiu não se identificar.
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Em todo o ano passado, foram registrados, em São Luís, 1.218 casos de dengue clássica. Os bairros com maior número de ocorrências foram Coroadinho, com 120 registros, Cidade Operária, com 56, e Liberdade, com 55. Figura também nas áreas de preocupação da Semus os bairros Cidade Olímpica, Centro, Bairro de Fátima, Bequimão, Anjo da Guarda, Habitacional Turu I, João Paulo, Monte Castelo, Jardim Tropical, São Cristóvão, Conjunto Vinhais e Jordoa.
Em 2005 houve o maior número de registros de dengue clássica, com 2.651 casos.
Fumacê
A redução do trabalho de borrifação de veneno contra o mosquito Aedes aegypti tem gerado reclamações, principalmente de moradores de bairros com grande incidência da doença.
Na Camboa os moradores da travessa Carvalho Branco afirmaram que o carro borrifador passou pelo local apenas uma vez este ano. “Em qualquer local do bairro pode se verificar que as pessoas não têm conhecimento sobre a passagem dos carros-fumacê”, reclamou a dona-de-casa Ana Rosa Ferreira.
Na rua 10 do Vinhais o autônomo Ricardo Martins também reclamou. “Depois que suspenderam a passagem desses carros, tive informações que várias pessoas tiveram dengue. Acho que é por isso que temos tantos casos da doença na cidade”, disse.
De acordo com Pedro Tavares, a redução no uso dos carros-fumacê ocorreu por mudanças na política do programa em todo o Brasil. “Hoje só usamos o veículo caso o índice de infestação seja maior do que 5% e com pelo menos um registro da doença naquela localidade”, justificou ele.
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