Mãe-de-santo Lúcia de Jesus faz 101 anos

Evandro Júnior - O Estado do Maranhão

Atualizada em 27/03/2022 às 14h30

SÃO LUÍS - Chefe de uma das mais importantes e respeitadas casas de culto afro-brasileiro do Maranhão, Lúcia Maria de Jesus, matriarca da Casa de Nagô, está completando hoje 101 anos de idade.

Lúcida, bem-humorada e comunicativa, como na época de sua juventude, a mãe-de-santo continua fazendo o que mais gosta: dançar no terreiro quando a casa está em festa, hábito que mantém desde os 12 anos.

Sentada numa rede armada na sala de sua residência, localizada no bairro Bom Milagre, Mãe Lúcia gosta de contar sua história de vida e relembrar momentos marcantes de sua trajetória, como quando assumiu definitivamente as ‘rédeas’ da Casa de Nagô, em 1986, ano de falecimento de Mãe Dudu, ex- comandante do terreiro situado na rua Cândido Ribeiro, no Centro.

Dona de uma memória invejável, tal qual a de seus 15 netos, dez tataranetos e cinco bisnetos, a centenária começou a freqüentar a Casa de Nagô por influência de sua madrinha, Anacleta Rita do Egito, e de sua bisavó Maria Vitória Miranda.

Aos sete anos, começou a observar os cultos, mas somente algum tempo depois passou a receber entidades e a integrar o grupo de Vodunsis da casa, que hoje dirige depois de ter assumido cargos como o de tocadora de ferro (agogô).

“Não tenho mais nem um desejo para realizar. Já fiz tudo o que tinha de fazer. Já cumpri a minha missão. Mas ainda vou pular o Carnaval”, brinca.

Descendência

Mãe Lúcia lembra que sua mãe, Maria do Carmo Silva, não suportava terreiros e por isso não consegue entender porque ela foi escolhida para seguir a religião afro. Mas afirma: “Sou descendente de africanos”.

Tatiana Silveira, afilhada que hoje é o ‘braço direito’ da matriarca, conta que a madrinha tem uma responsabilidade muito grande à frente da casa de Nagô e é respeitada por todos.

“No entanto, por causa da idade dela, eu passei a organizar a Festa do Divino, uma das mais importantes da casa”, diz.

Mãe Lúcia não esquece do período em que vendia doces pelas ruas de São Luís para garantir o pão de cada dia. Ela diz com todas as letras: “Fazia os melhores doces de São Luís. Todo mundo dizia”, conta.

Apesar das dificuldades para enxergar e se locomover, a mãe-de-santo não perde a alegria e o bom humor.

“Quero morrer de manhã e ser enterrada às 4h da tarde. Já pensou, a distância até chegar ao cemitério?”, diverte-se, acrescentando que depois desse tempo todo ainda não aprendeu a dançar e agora o reumatismo está lhe impedindo de aprender.

O segredo da longevidade? Mãe Lúcia tem na ponta da língua: “Beber e comer com regras e orar muito”.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais X, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.