MaceiĂł - O vice-presidente JosĂ© Alencar voltou a dizer, nesta terça em MaceiĂł, que o "Brasil fez um pacto com o Diabo" ao adotar uma polĂtica de juros altos que inibe o crescimento da sua economia e agrava os problemas sociais. Ele jĂĄ havia feito crĂtica semelhante em outubro. Alencar voltou a criticar o ministro da Fazenda, AntĂŽnio Palocci, ao participar das comemoraçÔes ao 116 anos da Proclamação da RepĂșblica, inaugurando um monumento aos herĂłis republicanos de Alagoas, os marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.
Alencar representou e fez um discurso em nome do presidente Luis InĂĄcio Lula da Silva. A solenidade de inauguração do Memorial Ă RepĂșblica contou com a participação de cinco governadores de Estado, do presidente do Senado, Renan Calheiros, do presidente da CĂąmara, Aldo Rebelo (PC do B/SP), do comandante do ExĂ©rcito no Nordeste, general Eron Carlos Marques; do embaixador do Brasil em Portugal, Paes de Andrade, entre outras autoridades.
O governador alagoano Ronaldo Lessa (PDT) disse que a partir de agora as comemoraçÔes da RepĂșblica terĂŁo sempre Alagoas como principal palco. "Se no 21 de abril as atençÔes da pĂĄtria se voltam para Minas Gerais, em homenagem a Tiradentes, no 15 de novembro as atençÔes se voltarĂŁo para Alagoas, em homenagem aos proclamadores da RepĂșblica, os marechais alagoanos Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto", afirmou.
Alencar parabenizou Ronaldo Lessa por ter construĂdo um monumento que jĂĄ faz parte do patrimĂŽnio nacional, pois funcionarĂĄ como extensĂŁo do Museu da RepĂșblica, do PalĂĄcio do Catete, no Rio de Janeiro. O vice-presidente elogiou a iniciativa do governo estadual de transformar as comemoraçÔes da Proclamação da RepĂșblica em uma festa nacional e disse que "no Brasil, a ordem Ă© justa porque o progresso Ă© para todos".
O memorial fica na praia da Avenida, foi construĂdo em seis meses com recursos estaduais, tem 2.500 metros quadrados de ĂĄrea e custou R$ 1,5 milhĂŁo. A solenidade de inauguração, que reuniu cerca de 4 mil pessoas, contou com desfile militar e teve como atração a apresentação da Esquadrilha da Fumaça. Houve ainda a entrega da Medalha do MĂ©rito da RepĂșblica Marechal Deodoro da Fonseca e um show de pagode com o grupo Exaltasamba.
Fome Zero
No discurso oficial, o vice-presidente disse que gostaria de falar de improviso, "sem script", mas como estava ali representando o presidente Lula ia ler o discurso que tinham lhe preparado. Depois de cumprimentar as autoridades e de enaltecer a importĂąncia da contribuição de Alagoas para a proclamação da RepĂșblica e a luta contra a escravatura, JosĂ© Alencar destacou os feitos do governo Lula.
Alencar fez um balanço dos investimentos do governo na ĂĄrea social, lembrando que 3 milhĂ”es de nordestinos tiveram acesso ao Fome Zero, por meio da Bolsa-FamĂlia e outros programas sociais, enquanto no paĂs foram contemplados cerca de 8 milhĂ”es de pessoas carentes. O vice-presidente prometeu que 50 milhĂ”es de brasileiros terĂŁo acesso Ă renda mĂnima atĂ© dezembro de 2006.
Ainda no discurso oficial, Alencar destacou o desempenho da balança comercial do Brasil e disse que o volume de recursos arrecadados com as exportaçÔes brasileiras daria para pagar a dĂvida externa. "Em 2002, precisarĂamos de trĂȘs anos e meio de arrecadação das nossas exportaçÔes para pagar a nossa dĂvida externa", destacou o vice-presidente, fazendo um apelo Ă juventude para nĂŁo se deixar influenciar pela crise polĂtica.
Crise polĂtica
"NĂŁo deixem que os opositores do governo antecipem o funeral da esperança", afirmou Alencar, em seu discurso, garantindo que, apesar da crise, o governo Lula mantĂ©m o compromisso com os ideais de democracia e respeito Ă s liberdades individuais. O vice-governador destacou ainda a recuperação do poder de compra do salĂĄrio mĂnimo, o aumento da renda dos brasileiros e o crescimento do nĂșmero de empregos.
Na entrevista coletiva Ă imprensa, Alencar mudou o tom do discurso e fez crĂtica Ă polĂtica econĂŽmica do governo. No entanto, ele disse que, apesar da crise polĂtica, "nunca a democracia esteve tĂŁo consolidada quanto agora". Elogiou o trabalho da PolĂcia Federal no combate Ă corrupção, investigando atĂ© "figurĂ”es" do governo. Para ele, esses fatos demonstram o aperfeiçoamento do sistema democrĂĄtico. "Mas, precisamos avançar tambĂ©m na democracia econĂŽmica, no campo social", acrescentou.
Tortura no Exército
Alencar, que tambĂ©m Ă© ministro da Defesa, falou mais uma vez sobre as denĂșncias de torturas a sargentos em uma unidade do ExĂ©rcito, no ParanĂĄ. "Foi abertura de um InquĂ©rito Policial Militar (IPM), por iniciativa do general Albuquerque, comandante do ExĂ©rcito, para apurar os fatos. AlĂ©m disso, por iniciativa dele, foi afastado todo o comando daquela unidade militar, para que sejam apuradas as responsabilidades", afirmou o vice-presidente.
Para ele, foi um trote exagerado. "O trote é uma tradição. Nós todos passamos por trote, mas aquele foi de um mau gosto muito grande. Ele simula um choque elétrico, mas ninguém sabe se tinha voltagem ou não. Ele simula um ferro quente, mas ninguém sabe ao certo se o ferro estava quente. Por isso tem que haver uma investigação séria sobre todos esses fatos".
O vice-presidente, que Ă© dono de uma fĂĄbrica de chinelos, lembra tambĂ©m as cenas onde alunos do curso de sargento sĂŁo torturados com chineladas nas palmas dos pĂ©s. "Havia uma imagem de uma chinelada, com um chinelo desses de dedo, que tambĂ©m nĂŁo deixa de ser deprimente", comentou o vice-presidente, dizendo-se contra qualquer tipo de "trote" e dando um exemplo pessoal sobre esse tipo de experiĂȘncia.
"Numa ocasião, atravessando a Linha do Equador de navio com minha esposa, em 1967, saindo de Nova Iorque para o Rio de Janeiro, na travessia do Equador, havia um tal de ŽbatismoŽ para as pessoas que nunca tinham cruzado a linha, um espécie de trote. Sabem como era o trote?: era uma banheira cheia de macarrão e molho de tomate para que as pessoas mergulhassem ali, era quase uma piscina. Eu não vou fazer isso, porque tem tanta gente passando fome no mundo e não tem um macarrão desse para comer. No final das contas, ganhei uma sonora vaia por não quis participar daquele trote".
CrĂtica a Palocci
Apesar de ter feito um discurso enaltecendo os feitos do governo federal, no que diz respeito ao combate ao desemprego, ao crescimento econĂŽmico e ao controle da inflação, Alencar nĂŁo poupou crĂticas Ă polĂtica econĂŽmica. Segundo ele, o ministro AntĂŽnio Palocci tem dado uma demonstração de que Ă© um homem capaz, competente, inteligente e sĂ©rio, mas continua insistindo em manter a alta taxa de juros.
"Eu discordo dele quando administra essa taxa de juros estratosfĂ©ricos, muito acima dos padrĂ”es internacionais. NĂłs somos um dos melhores paĂses do mundo, mas nosso povo ainda sofre por causa disso. NĂłs nĂŁo podemos pagar essa taxa", afirmou Alencar.
"Para vocĂȘs terem uma idĂ©ia, a ColĂŽmbia, por exemplo, que tem governo paralelo de guerrilha, Ă© um paĂs vizinho nosso, um paĂs amigo. Pois bem, o risco ColĂŽmbia Ă© mais baixo que o risco Brasil. A taxa bĂĄsica real que a ColĂŽmbia rola a sua dĂvida Ă© de 1,5% ao ano, enquanto nĂłs rolamos a nossa a uma taxa bĂĄsica real de 13,5% ao ano", acrescentou.
"EntĂŁo, em relação Ă ColĂŽmbia, nĂłs estamos pagando a mais nove vezes aquela taxa. EntĂŁo Ă© por isso que eu me bato contra a polĂtica de taxa de juros alto praticada pelo ministro Palocci", criticou o vice-presidente, acrescentando que "se nĂłs reduzĂssemos Ă metade a taxa bĂĄsica real de juros, nĂłs terĂamos feito uma economia, nesses trĂȘs primeiros anos, de R$ 210 bilhĂ”es", explicou o vice-presidente.
Juros altos
Para Alencar, "isso Ă© uma questĂŁo de aritmĂ©tica, porque nĂłs gastamos R$ 420 bilhĂ”es, nesses trĂȘs primeiros anos do governo Lula sĂł com os juros da dĂvida externa". "A taxa poderia ser a metade. E com esses R$ 210 bilhĂ”es nĂłs contemplarĂamos inĂșmeros problemas nas ĂĄreas de saneamento bĂĄsico, educação e saĂșde, mas nĂłs nĂŁo temos recursos para nada", acrescentou.
Segundo ele, o paĂs se ressente de recursos, principalmente, para obras de infra-estrutura, como construção de estradas e melhoramento de rodovias, para escoar a safra e conduzir as pessoas com mais segurança. "As estradas do Brasil, em determinadas regiĂ”es, acabaram", destaca o vice-presidente, cobrando investimento em rodovias, para reduzir os custos de produção.
Alencar critica tambĂ©m a falta de recursos para a segurança pĂșblica. "O Brasil Ă© hoje um paĂs de 185 milhĂ”es de habitantes, hĂĄ grande aglomeraçÔes populacionais, que estĂŁo sofrendo problema da violĂȘncia urbana, do aumento da criminalidade. O crime vem tambĂ©m dessa alta taxa de desemprego. Portanto, temos que combater isso".
Pacto com Diabo
"Eu tenho falado muito com o Palocci e com o presidente Lula, nas reuniĂ”es internas, sobre a necessidade de baixar a taxa de juros", afirma Alencar. Questionado porque a equipe econĂŽmica nĂŁo altera a polĂtica de juros do PaĂs, o vice-presidente respondeu. "Essa Ă© uma boa pergunta: Parece que o Brasil fez um pacto com o Diabo. Por que? O Diabo Ă© uma figura sobrenatural. Essa Ă© a Ășnica forma de explicar essa polĂtica cambial. Eu nĂŁo tenho outra explicação", disse.
O vice-presidente criticou ainda a falta de uma polĂtica de subsĂdio para a produção agrĂcola do Brasil. Ele citou o exemplo da França que concede atĂ© 100% de subsĂdio para a produção do açĂșcar de beterraba, protegendo, dessa forma, o mercado local da concorrĂȘncia do açĂșcar brasileiro.
"Os Estados Unidos deram U$ 2,8 bilhĂ”es para a cotonicultura produzir 4 bilhĂ”es de toneladas. Isso significou US$ 0,70 por quilo de algodĂŁo, num perĂodo que o algodĂŁo estava a US$ 1,1 por quilo. Isso foi mais de 60% de subsĂdio direto. Mesmo sem irrigação e sem subsĂdio, o Brasil produz um algodĂŁo melhor e com mais produtividade por hectare do que no Vale de SĂŁo Joaquim, na CalifĂłrnia, nos Estados Unidos".
"Isso mostra a força do brasileiro", acrescentou Alencar, destacando a riqueza da diversificação racial do Brasil e a criatividade do povo brasileiro, que apesar da crise, do desemprego e das altas taxas de juros, segundo ele, consegue sobreviver com dignidade e superar as adversidades. Para ele, "a sorte do Brasil é que apesar de integrantes do governo Lula ter feito um pacto com o Diabo, Deus é brasileiro".
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