SÃO LUÍS - Por volta das 16h da tarde de 19 de junho de 1988, pai e filho passeavam na praia do Ipem. Lá encontraram colegas do menino, que se juntaram ao grupo. Um casal estranho também estava na praia e observava pai e filho, de longe. O pai deixou o filho sentado à beira mar e foi fazer uma caminhada. Quando retornou, cerca de cinco minutos depois, não encontrou mais o garoto. Desde então ele tenta entender o que aconteceu com o menino de 13 anos, que era seu único filho homem.
Na última sexta-feira, José Antônio Penha Brito esteve cara a cara com o homem acusado de ser o mandante da morte de seu filho, o ex-deputado José Gerardo de Abreu, acusado, também, da encomenda de mais de uma dezena de outros assassinatos. Tranqüilo, Penha Brito prestou depoimento e contou em detalhes, ao juiz José Joaquim Figueiredo dos Anjos, tudo sobre a morte de Brito Júnior.
Motivo
Quando Brito Júnior sumiu, o pai não conseguia entender o motivo do suposto seqüestro. Quatro dias depois, o achado de um corpo, já deteriorado, na praia de Itapireí, em Alcântara, acabou com as esperanças da família. Feitos os exames no Instituto Médico Legal (IML), foi constatado que se tratava do corpo do menino desaparecido. Para completar a identificação positiva, o odontolegista Patrício Câmara Filho, que era o dentista da família Brito, confirmou que a arcada dentária era mesmo do menino.
Inconformado, Penha Brito queria saber o que havia causado a morte do garoto, fato que não foi esclarecido no laudo do IML. “Não acreditava em afogamento. Pensava em assassinato e queria saber a causa da morte. Passei a buscar mais informações. Fui investigar. Contratei detetive. Fui buscar Badan Palhares (médico legista) para esclarecer o que havia ocorrido”, lembrou Penha Brito.
O médico legista Fortunato Badan Palhares, um dos mais conceituados peritos do Brasil, esteve em São Luís e, depois de levar a ossada para Campinas, em São Paulo, encaminhou laudo à família informando que a morte da vítima teria sido causada por um objeto perfuro-cortante. No laudo, porém, ele atestava que aquela ossada não pertencia a Brito Júnior, como havia sido dito pelos peritos do IML de São Luís e pelo odontolegista. Sem corpo, não havia assassinato.
Penha Brito, no entanto, mesmo após o laudo do legista Badan Palhares, continuou acreditando que o garoto estava morto. “Não acreditei nele. Iniciei uma campanha com o intuito de informar à opinião pública que estava oferecendo uma recompensa de CR$ 3 milhões, (dinheiro da época) por informações sérias sobre o seu paradeiro. Pensava que a pessoa que tivesse cometido o crime pudesse ser denunciado por alguém ou se denunciasse de alguma forma”, refletiu.
Como ninguém denunciou o fato, Penha Brito entendeu que o crime estava fora dos padrões normais. “Entendi que era alguém de nível superior ao meu e não precisava do dinheiro. Na época foram distribuídos 72 mil cartazes em todo o Brasil”, lembrou.
Não haviam informações que pudessem levar a autoria do desaparecimento do menino e, com a falta de interesse da polícia na época, o pai continuou a investigar o caso, sozinho. E foi por meio de um bilhete com um endereço, encontrado entre os cadernos escolares do filho, que Penha Brito começou a “desenrolar” o crime.
Ele, então, chegou à firma de confecções que tinha como sócio o contabilista Airton Godin - um dos indiciados no crime -, e identificou, em fotos, um homem que teria sido sócio da mesma empresa, cuja aparência se assemelhava a de um suposto elemento travestido de mulher, que vira na praia, com outro indivíduo, no dia do desaparecimento de Brito Júnior.
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Estas informações, que poderiam ser checadas, não teriam sido interessantes à polícia e o inquérito continuou parado por vários anos.
Retomada
Somente em 1999, com a vinda da CPI do Narcotráfico para São Luís e instalação da CPI do Crime Organizado, encabeçadas pelas investigações feitas pela Secretaria de Segurança Pública, Penha Brito conseguiu que o caso do desaparecimento de seu filho fosse reaberto. Não existiam mais autos.
O pai, ao acompanhar a divulgação dos casos ligados ao crime organizado, reconheceu um dos homens mostrados pela imprensa como aquele que esteve na praia no fatídico dia. Penha Brito esteve com o secretário de Segurança e revelou o fato, sendo encaminhado a um dos delegados encarregados da investigação. Quando entregou aos policiais os dados de sua investigação particular, o pai de Brito Júnior ainda não conseguia entender por que haviam levado o seu filho, já que não tinha inimigos. Somente ao longo das investigações, ao tomar conhecimento de que todas as pessoas por ele investigadas eram ligadas ao José Gerardo de Abreu, lembrou-se, então, do empréstimo negado ao ex-deputado no ano em que seu filho desapareceu.
“Pensei que estava louco, quando entendi que poderia ter sido por causa do indeferimento de um empréstimo”, lamentou, lembrando que um motorista de José Gerardo havia ido lhe buscar na agência do Banco do Brasil, no Centro, para que fizesse a avaliação do prédio oferecido pelo então deputado estadual, como garantia. Penha Brito verificou que o prédio não valia o suficiente e informou a seus superiores. O empréstimo foi indeferido. “Nunca falei com ele. Mas ele sabia que havia sido eu quem fizera a avaliação”.
A partir daí, Penha Brito começou a entender outras situações ocorridas na época, que até então passaram desapercebidas, como perseguição à esposa de outro então superintendente do Banco do Brasil, incêndio na cozinha da agência bancária e até um suposto assalto ao taxista que buscava seus filhos na escola alguns dias antes do crime. “Eles queriam que meus filhos fossem de ônibus para casa, e quem sabe os pegassem no caminho”, imaginou o pai.
Negativas
Indiciado como mandante do crime, José Gerardo de Abreu negou com veemência - como tem feito nos últimos cinco anos, em todos os processos que responde -, ser o mandante do crime. Os demais indiciados também negam o fato, principalmente o envolvimento deles com o ex-deputado.
O processo está em andamento na 2ª Vara Criminal, especial para crimes contra crianças e adolescentes, sob a responsabilidade do juiz José Joaquim Figueiredo dos Anjos. A confirmação de que a ossada encontrada em Alcântara é mesmo de Brito Junior está na credibilidade do exame de DNA, que confirmou 14 pontos convergentes com a mãe do menino.
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