Brasileiros descobrem peixe primitivo na costa de Santa Catarina

Atualizada em 27/03/2022 às 15h03

SÃO PAULO - Um animal com características primitivas --suas origens remontam a 350 milhões de anos, antes dos dinossauros-- foi descoberto por cientistas brasileiros na costa de Santa Catarina e do Rio de Janeiro. Trata-se de uma nova espécie de quimera --animal do grupo de peixes cartilaginosos, que inclui raias e tubarões--, cuja descrição será publicada neste mês no periódico "Zootaxa" (www.mapress.com/zootaxa).

É a primeira nova espécie de quimera já descoberta na costa atlântica da América do Sul, segundo o pesquisador Jules Soto, curador do Museu Oceanográfico da Univali (Universidade do Vale do Itajaí), um dos responsáveis pelo achado científico. A espécie foi batizada de Hydrolagus matallanasi em homenagem ao ictiólogo (especialista em peixes) catalão Jesús Matallanas, da Universidade Autônoma de Barcelona.

As primeiras capturas do animal foram realizadas no início de 2002 por meio da pesca de arrasto feita por embarcações estrangeiras arrendadas por brasileiros. A quimera, segundo os cientistas, é encontrada a uma profundidade de 400 metros a 750 metros, a cerca de 370 quilômetros da costa, na porção oceânica chamada de Quebra do Talude.

Em 2003, Soto e Carolus Vooren, pesquisador da Furg (Fundação Universidade Federal do Rio Grande), começaram a pesquisa e capturaram mais 21 unidades do animal para análise. Embarcações do projeto Reviver, do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) foram utilizadas.

Os cientistas provaram que a quimera era desconhecida pela ciência. A revisão do trabalho foi realizada pela pesquisadora Dominique Didier, da Academia de Ciências da Filadélfia, nos EUA.

Didier, que estuda as cerca de 30 espécies de quimeras existentes no planeta, apontou a descoberta brasileira como o elo que faltava para o entendimento da cadeia evolutiva do grupo.

A Hydrolagus matallanasi mede de 30 cm a 40 cm, tem os nervos expostos, o que a torna muito sensível para detectar predadores e presas por meio de campos elétricos e para se comunicar com outras quimeras. Possui um espinho venenoso no dorso, e sua boca tem semelhança com um bico de papagaio.

Os pesquisadores acreditam que a espécie seja endêmica (só ocorre na região) do Brasil, mas ainda não há conclusão definitiva a respeito. Também não foi possível estimar ainda a quantidade de animais da espécie.

"As características são de um peixe muito primitivo. Pela análise que fizemos de achados fósseis de quimeras, com até 350 milhões de anos, esse gênero específico, Hydrolagus, data de 150 milhões de anos e não mudou quase nada. Estamos falando de uma época em que os dinossauros estavam no auge. É como se tivéssemos um Tiranossauro rex dentro do oceano", afirmou Soto.

Mesmo com o ineditismo e a importância científica da espécie, o animal, segundo os pesquisadores, não está protegido, pois o Brasil está incentivando "de forma desordenada" a captura de peixes oceânicos. "Temos diversos animais que vivem em águas profundas da costa brasileira que são desconhecidos e que, infelizmente, estão sendo dizimados pela pesca predatória", disse Soto.

A descoberta ainda não está disponível para visitação pública. Apenas pesquisadores podem ter acesso aos exemplares do animal, que estão no Museu Oceanográfico da Univali (SC), que possui a maior e mais importante coleção de peixes cartilaginosos da América Latina.

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