Afeganistão

Afeganistão: instituições denunciam violação dos direito das mulheres

Denúncias foram feitas por ONG e Universidade de San José.

Agência Brasil

Atualizada em 27/03/2022 às 11h01
Os talibãs voltaram ao poder em praticamente todo o Afeganistão em agosto. (Foto: Reprodução/TV Globo)

CABUL (AFEGANISTÃO) - Os talibãs estão cometendo graves violações dos direitos humanos contra as mulheres e jovens em Herat, no oeste do Afeganistão, denunciaram hoje (23) a Human Rights Watch (HRW) e a Universidade Estadual de San José (SJSU, a sigla em inglês).

Segundo a HRW e o Instituto de Direitos Humanos da SJSU, desde que assumiram o controlo da cidade, em 12 de agosto de 2021, os talibãs em Herat negam às mulheres a liberdade de movimento fora de suas casas, impõe códigos de vestuário obrigatórios, restringem severamente o acesso ao emprego e à educaçã, além do direito à reunião pacífica.

As mulheres de Herat disseram às duas organizações que as suas vidas foram completamente destruídas no dia em que os talibãs assumiram o controle da cidade.

Essas mulheres trabalhavam fora de casa ou eram estudantes, desempenhavam funções ativas e frequentemente de liderança em suas comunidades.

Elas afirmaram que estão enfrentando problemas econômicos devido à perda de rendimento e à incapacidade de trabalhar.

As mulheres em Herat foram das primeiras a organizar protestos em defesa dos seus direitos, depois de os talibãs assumirem o controle de Cabul e de grande parte do país.

Poucos dias após a tomada de Herat pelos talibãs, um grupo de mulheres pediu para se reunir com os líderes locais a fim de discutirem seus direitos e, vários dias depois, puderam encontrar-se com um representante do grupo islâmico.

No entanto, o representante do novo governo foi inflexível e disse às mulheres para parassem de insistir na questão dos direitos e que, se apoiassem o grupo no poder, seriam recompensadas com anistia total pelas atividades anteriores, talvez até conseguissem cargos no governo.

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Após as manifestações em Herat, os talibãs proibiram protestos que não tinham aprovação prévia do Ministério da Justiça em Cabul. Determinaram que os organizadores incluíssem informações sobre o propósito de quaisquer protestos e as frases a serem usadas em quaisquer solicitações ao ministério.

As mulheres entrevistadas pela HRW e pela SJSU manifestaram preocupação especial com o fato de os talibãs imporem novamente a política de exigir que tenham como companhia um ''mahram'' [familiar masculino] sempre que saírem de casa, como os talibãs fizeram quando estiveram no poder anteriormente, entre 1996 e 2001.

Essa exigência afastou as mulheres da vida pública, isolou-as da educação, do emprego e da vida social, e dificultou a obtenção de cuidados de saúde, tornando-as completamente dependentes de membros da família do sexo masculino e impedindo-as de escapar caso sofressem abusos em casa.

Zabiullah Mujahid, porta-voz dos talibãs, disse, em entrevista em Cabul no último dia 7, que estar acompanhado por um ''mahram'' só seria necessário para viagens de mais de três dias, não para atividades diárias, como ir ao trabalho, escola, compras, consultas médicas e outras necessidades.

No entanto, as autoridades talibãs em Herat não têm sido consistentes na execução dessa política.

A Human Rights Watch e o Instituto de Direitos Humanos SJSU fizeram entrevistas detalhadas por telefone com sete mulheres em Herat, incluindo ativistas, educadoras e estudantes universitárias sobre as suas experiências desde que os talibãs assumiram o controle da cidade. Todas elas falaram sob condição de anonimato, temendo pela sua segurança.

Os talibãs voltaram ao poder em praticamente todo o Afeganistão em agosto, quando tomaram a capital, Cabul.

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