Israel vai dificultar acesso da população ao funeral de Arafat

Atualizada em 27/03/2022 às 14h56

JERUSALÉM - O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, e integrantes de seu gabinete concordaram, nesta quarta-feira, que o enterro do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Yasser Arafat, seja em Ramallah, na Cisjordânia. A informação foi divulgada pela Rádio Israel. Os preparativos para os funerais estão em franco andamento. Antes de ser levado à Cisjordânia, o corpo de Arafat seria brevemente velado no Egito.

Apesar de concordar com o sepultamento de Arafat na Muqata, Israel deve restringir o acesso a políticos da Faixa de Gaza e apenas parte da população da Cisjordânia. A Muqata, QG da Autoridade Palestina na Cisjordânia, tornou-se um símbolo de resistência palestina com os três anos de confinamento de seu líder ali, sob cerco, bombardeios e ameaça de expulsão pelo governo de Israel.

Nesta quarta-feira, o principal clérigo muçulmano nos territórios palestinos, que é amigo de Arafat, chegou ao hospital militar de Paris onde o presidente está internado desde o dia 29. A Autoridade Palestina teve que negar que a visita tenha se dado para autorizar o desligamento de aparelhos que mantêm Arafat vivo. O líder palestino continua em coma profundo e, segundo a principal representante palestina na França, Leila Shaheed, houve "complicação no estado de todos os seus órgãos vitais".

Segundo o site do jornal israelense "Haaretz" , o governo de Israel já teria formalmente aceito que o enterro seja realizado em Ramallah. Segundo a publicação, a decisão foi anunciada após um encontro do gabinete do primeiro-ministro Ariel Sharon.

"O gabinete do primeiro-ministro me ligou e informou sobre a aceitação de nosso pedido para enterrar Arafat na Muqata", contou ao jornal o ministro palestino Saeb Erekat, referindo-se com composto de Arafat.

A decisão foi tomada apesar das objeções feitas por algumas autoridades militares, que disseram que um funeral na Cisjordânia, área sob ocupação israelense, representaria uma ameaça de segurança.

Mais cedo, o líder religioso palestino Taisir Al Tamimi, que visitou hoje Yasser Arafat, disse que ele está vivo e descartou qualquer possibilidade de que os aparelhos que ajudam a Arafat se manter vivo sejam desligados.

O presidente do Conselho Superior do Tribunal Islâmico da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, que havia chegado hoje pela manhã em Paris, assegurou que a religião de Arafat proíbe a eutanásia. Tamimi fez essa breve declaração ao sair do hospital.

Algumas autoridades palestinas disseram esperar que Arafat, que está internado em coma no Hospital Militar Percy, em Paris, possa ser declarado morto na manhã desta quarta-feira.

Israel queria que Arafat fosse enterrado na Faixa de Gaza, mas autoridades palestinas insistiram para que a cidade escolhida fosse Ramallah.

Fontes políticas ligadas a Israel contaram que os ministros decidiram permitir que os líderes árabes e dignatários estrangeiros tenham acesso livre à cerimônia em Ramallah, mas vão barrar integrantes de grupos extremistas palestinos, responsáveis por quatro anos de levante no Estado judeu. Civis palestinos de Gaza não poderão entrar na Cisjordânia. Os judeus israelenses que quiserem se juntar aos que pessoas que estiverem em luto por Arafat serão responsáveis por sua própria segurança, disseram as fontes. O acesso da população da Cisjordânia também deve ficar restrito, com o Exército cercando algumas cidades para evitar distúrbios.

Na terça-feira, o presidente do Egito, Hosni Mubarak, havia oferecido a cidade do Cairo para a realização do velório de Arafat. De acordo com a agência Saba, líderes palestinos já teriam aceito o convite do mandatário egípcio. A decisão foi tomada para facilitar que líderes árabes no Oriente Médio e dirigentes de outros países participem da cerimônia.

De acordo com biógrafos respeitados, Arafat nasceu no Cairo em 1929. Mas o líder diz que o local de nascimento foi Jerusalém.

Autoridades israelenses e palestinas já negociam desde a noite de terça-feira os detalhes do funeral.

- Os primeiros contatos aconteceram à noite para fechar um acordo sobre a organização do funeral - disse uma fonte palestina, acrescentando que o anúncio da morte do líder não deverá ser feito antes que todos os detalhes do enterro sejam fechados.

Estados Unidos e nações da Europa não pretendem enviar chefes de Estado. Os países seriam representados por ministros ou diplomatas, informaram funcionários de governos, que debatem sobre a melhor maneira de se fazer representar em uma cerimônia em homenagem a uma personalidade política que tanto é visto como o pai da causa palestina como um cruel terrorista.

Principalmente para os EUA, que marginalizaram Arafat nas negociações de paz no Oriente Médio, o assunto é bastante delicado. Um funcionário de Washington, sob condição de anonimato, disse que a Casa Branca não havia tomado uma decisão. O país tanto pode enviar o secretário de Estado, Colin Powell, quanto convidar o ex-presidente Jimmy Carter para participar do funeral.

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