Caso Décio Sá

Quadrilha que matou Décio Sá se beneficiava de 'proteção'

Secretário de Segurança Pública, Aluísio Mendes, comenta ao Imirante fases de elucidação do crime.

Maurício Araya/Imirante

Atualizada em 27/03/2022 às 12h20

SÃO LUÍS – Foi elucidado o caso sobre o assassinato do jornalista Décio Sá, morto em 23 de abril deste ano, em um bar da Avenida Litorânea. As investigações da "Operação Detonando", que duraram cerca de 50 dias, chegaram a sete pessoas que participaram do crime. Uma pessoa – já identificada – ainda está foragida, já que apenas um dos oito mandados de prisão não foi cumprido. Carros, documentos, cheques e notas de empenho de prefeituras maranhenses foram apreendidos e serão periciados.

Nessa quarta-feira (13), em entrevista coletiva, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Maranhão apresentou alguns dos criminosos: Gláucio Alencar, de 34 anos, apontado como um dos mandantes do crime e suspeito de ter financiado a execução do jornalista; José de Alencar Miranda Carvalho, de 72 anos, pai de Gláucio Alencar, apontado, também, como mandante e financiador do crime; capitão Fábio, conhecido, também, como "Capita", subcomandante do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Estado do Maranhão, suspeito de fornecer a arma que executou o jornalista; Jhonatan de Sousa Silva, de 24 anos, apontado como executor de Décio Sá e que está preso desde o dia 5 deste mês por tráfico de drogas – com uma extensa ficha criminal; Fábio Aurélio do Lago e Silva, de 32 anos, o "Bochecha", preso na Chácara Brasil, é suspeito de participar do crime e teria todo oconhecimento das ações do grupo; José Raimundo Chaves Júnior, o "Bolinha", de 38 anos, preso no Jardim Eldorado, suspeito de intermediar as ações do crime; e Airton Martins Monroe, de 24 anos, suspeito de ter apresentado o executor do crime a "Bolinha". Eles deverão ser transferidos a presídios de segurança máxima em outros Estados.

O crime

De acordo com o secretário de Segurança Pública, Aluísio Mendes, o crime foi motivado por reportagens publicadas no blog do jornalista. A quadrilha, que atuava no desvio de verbas de merenda escolar e em crime de agiotagem, começou a ter prejuízo a partir da publicação de reportagens no Blog do Décio. Um consórcio formado por empresários encomendou a execução do jornalista. "O fator decisivo foi a denúncia que ele (Gláucio Alencar) estaria envolvido na morte de Fábio Brasil, na cidade de Teresina (PI). O blog auxiliou e complicou o trabalho de investigação, porque, a partir do blog, nós começamos a filtrar, mas o leque se abriu muito. Havia vários grupos incomodados pelas matérias do jornalista. Por outro lado, nos ajudou, porque conseguimos, por meio dele, identificar um caminho correto para a investigação do crime. Dado a dimensão, a amplitude e dificuldade desse crime, nós elucidamos o crime em tempo recorde. A polícia do Maranhão está de parabéns", afirmou em entrevista ao Imirante na manhã desta quinta-feira (14).

O executor cobrou R$ 100 mil para matar o jornalista, mas teria recebido apenas R$ 20 mil do valor combinado. Jhonatan Silva, então, voltou a São Luís para receber o valor restante. Quanto à morte de Valdênio José da Silva, de 38 anos, que teria envolvimento no crime, o secretário afirmou que pode tratar-se de uma "queima de arquivo". "Em função desse crime, nós tivemos que antecipar a investigação para que a quadrilha não voltasse a matar outras pessoas", disse.

Prisão do executor

Desde o momento da prisão de Jhonatan Silva, no início do mês, a polícia já tinha convicção da participação dele no assassinato do jornalista Décio Sá. "Houve uma estratégia da polícia de divulgar isso, em primeiro momento, porque nós tivemos que mapear o restante da quadrilha e encontrar os outros integrantes. Por isso, a polícia divulgou a prisão, para criar certa intranquilidade na quadrilha, para que ela pudesse se movimentar", explicou o secretário.

Quanto à conduta do capitão Fábio "Capita", o secretário afirma que há "fortes indícios de participação, mas isso vai ser comprovado junto ao Judiciário".

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Envolvimento de políticos

Segundo o secretário Aluísio Mendes, não há indícios de participação direta de políticos no crime, mas explica que a quadrilha responsável pela morte do jornalista gozava de uma "proteção", fato que será investigado. "Não temos nada que comprove, neste momento, envolvimento de políticos. O que nós temos de concreto é que essa quadrilha teria uma ‘proteção superior’ e, durante muitos anos, atuou no Maranhão de maneira impune. Então, o que nós estamos fazendo, agora, é investigar quem é que vendia essa proteção, quem é que garantia a eles essa proteção e se havia, realmente, essa proteção", diz.

Gravação

Em maio, o presidente do Sindicato dos Jornalistas do Maranhão, Leonardo Monteiro, divulgou uma suposta gravação recebida por meio de uma chamada telefônica que poderia revelar como o crime teria acontecido. O áudio, entregue para a polícia, teria sido gravado pela secretária eletrônica (sistema utilizado na ausência da secretária do sindicato) no dia seguinte da morte do jornalista e, segundo o sindicato, representava os momentos que antecederam o assassinato de Décio Sá.

Segundo o secretário, pode-se tratar de um "trote", com o objetivo de confundir as investigações. "Não há nenhuma vinculação com o homicídio", disse Aluísio Mendes.

Reconhecimento

O secretário reconheceu o auxílio prestado pela Polícia Federal, nas perícias e na confecção do retrato falado, pelo Ministério Público e pelo Poder Judiciário do Estado. Disse, ainda, que a informações repassadas ao Disque-Denúncia auxiliaram de maneira fundamental nas investigações.

O trabalho de investigação continua em uma nova fase, já que, agora, a polícia quer entender a participação da quadrilha em outros crimes praticados no Maranhão. Nessa nova fase, também, serão definidas os crimes de competência estadual e federal.

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