Morcego transmissor de raiva volta a atacar no interior

Secretário de saúde de Cândido Mendes denuncia o registro de ataques em bovinos.

Estado do Maranhão

Atualizada em 27/03/2022 às 14h08

SÃO LUÍS - O secretário de Saúde do município de Cândido Mendes, Joel Ribeiro, denuncia que morcegos transmissores da raiva voltaram a atacar bovinos na região. O problema tomou grandes proporções em fins de 2005, quando foram relatados casos de infecção da doença em centenas de humanos, tendo ocorrido pelo menos 24 mortes em vários municípios maranhenses como Godofredo Viana, São Vicente de Férrer e São João Batista. Na ocasião, dezenas de outras mortes também foram registradas no Pará. Por enquanto, o problema parece restrito à bovinos.

"Há cerca de duas semanas eu trouxe para São Luís três cérebros bovinos com suspeita de infecção por raiva para o laboratório de virologia da Universidade Estadual do Maranhão (Uema). A princípio, eu procurei a Agência Estadual de Defesa Agropecuária (AGED). Ocorre que, como já tivemos aquele problema com a doença em 2005, que nos pegou de surpresa porque até então desconhecíamos os sintomas, revolvemos tomar nossas precauções no sentido de alertar o Governo do Estado para que a situação não tome as proporções que registradas no passado", relatou Joel Ribeiro.

Segundo o secretário, é visível nesta época do ano a presença de morcegos hematófagos na região, da espécie Desmodos rotundos, portadores da doença. " Já foram capturados, inclusive, dezenas de morcegos no povoado Limão, em Cândido Mendes, localizado na divisa entre o Maranhão e o Pará. Soubemos também da presença desse morcego nos municípios de Carutapera, Luís Domingues e Godofredo Viana", acrescentou Joel Ribeiro.

Ainda segundo o secretário, o problema com os morcegos hematófagos se agrava na região devido aos criadores de gado não investirem em vacinas para o rebanho. "Existe um plano de controle da doença na região, mas temos problemas com o criadores. Ocorre com freqüência que o criador vai à AGED e cadastra o seu rebanho, mas não informa o número total de cabeças, pois ele precisa comprar a vacina já que o Governo do Estado não oferece. Houve um período em que falou-se, inclusive, que a AGED compraria essas vacinas e repassaria para os pequenos criadores, mas isso não aconteceu. Hoje, alguns criadores fazem questão de vacinar o rebanho, até para não perder cabeças por causa da doença. Mas já soubemos de alguns criadores que perderam cerca de 10 cabeças de gado com sintomas típicos da raiva", denunciou Joel Ribeiro.

MORTES EM 2005

Em fins de 2004, início de 2005, um surto de raiva atingiu cerca de 40 seres humanos a partir dos municípios de Viseu, Portel e Augusto Corrêa, no Pará, na divisa com o Maranhão. A doença se espalhou para o Maranhão em fins daquele ano, a partir dos municípios de São Vicente Férrer e São João Batista, progredindo para Godofredo Viana, Turiaçu, Apicum-Açu, Bacuri, Porto Rico Cururupu, Carutapera e Serrano. Somente neste último, foram registrados mais de 200 ataques de morcegos a agricultores da região. Em toda a região do Gurupi, 24 pessoas morreram por raiva humana transmitida por morcegos.

Preocupado com a situação, em outubro de 2005 o juiz Luís Carlos Licar, da Comarca de Turiaçu, cobrou da prefeitura e do governo estadual ações mais eficazes de combate à raiva provocada por ataques de morcegos em humanos. O magistrado entendeu que a prefeitura e o governo não cumpriram com a sua parte no que tange ao esclarecimento e informação aos 34 mil habitantes do município sobre a incidência, prevenção e tratamento da doença. Para o juiz, a situação agravou-se mais ainda no tocante aos 685 moradores do povoado de Antônio Dino, maior foco da doença e onde ocorreram 15 mortes e 358 agressões.

Na ocasião, a professora da Universidade Federal do Maranhão, Maria dos Remédios Branco, médica infectologista, falou da possibilidade do surto de raiva humana chegar à Ilha de São Luís, uma hipótese remota, mas não impossível, lembrando que ocorreram casos de ataques de morcegos hematófagos em humanos no município de Raposa, na década de 1990.

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