O prefeito de Codó, Ricardo Archer, está concedendo entrevista à Rádio Mirante AM para falar sobre a matéria veiculada no Jornal Nacional de ontem que mostrava as desigualdades regionais na educação. A matéria comparava o ensino da cidade de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, com o da cidade de Codó, interior do Maranhão.
Segundo Ricardo Archer, que é também presidente da Associação dos Municípios Maranhenses (Famem), a matéria da TV Globo mostrou a discriminação que os sulistas têm com o povo nosdestino. Apesar de admitir que a situação da educação no interior do Estado, em geral, é precária, ele disse que a matéria deve ter sido encomendada com fins políticos.
O prefeito de Codó explicou que o ensino público no interior tem melhorado desde a implantação do Fundef. "O Fundef foi implantado no Maranhão a partir de 1998. Foi a melhor coisa que aconteceu para o desenvolvimento do ensino público no Estado. Mas, em tão pouco tempo não se pode mudar toda uma realidade lamentável", justifica.
Leia a matéria da TV Globo na íntegra:
EDUCAÇÃO DE CONTRASTES
A sexta série de reportagens sobre a realidade brasileira mostra as desigualdades regionais. Começamos pela educação. Apesar de 95% das crianças entre 7 e 14 anos estarem na escola, as condições de ensino no Norte e no Sul do país são muito diferentes.
Os filhos da agricultora Maria de Souza nunca viram escola.
"Ele não estuda porque eu não tenho condição de botar ele no colégio e aí ele já tem 16 anos e não sabe escrever sequer o nome", diz a agricultora.
Ai dos filhos do agricultor José Alcides Liesenberg se eles não estudarem...
"Ninguém vai pegar um cara que tem a quarta série hoje. Seja lá onde for, pode procurar a empresa que for", garante o agricultor.
A família de José Alcides em Jaraguá do Sul, Santa Catarina, mora tão pertinho que os meninos vão a pé. A escola municipal é impecável.
Em Codó, Maranhão, onde moram os filhos de Maria de Souza, o transporte é o mesmo que leva boi vivo. A escola municipal tem todas as séries na única sala.
"Nem tudo é 100%. A gente vai levando como dá para ser levado", observa a professora Dacília dos Santos Souza.
Merenda escolar em Codó é biscoito... E só. Em Jaraguá do Sul, arroz, feijão, salada... Na terra de José Alcides, 2% de analfabetismo. Na terra de Maria de Souza, 40% de analfabetos, inclusive ela.
"Tem uma faixa que coloquei na parede que eu achei na estrada. Achei as palavras bonitas e, mesmo sem saber o significado, cheguei e coloquei na parede", explica a agricultora.
No interior do município, há casos em que o índice de analfabetismo chega a 90%. No povoado de Capoeira, a 20 quilômetros do centro de Codó, os anos letivos começam e terminam sem que ninguém tenha percebido.
Gerações e gerações longe das letras.
"Eu não sei ler. Nem meu pai nem meu avô sabiam. Meus filhos também não sabem", declara o agricultor Oromar da Conceição.
Idade escolar, idade de trabalhar. Com 11 anos, um dos filhos do agricultor já trabalha. Só o caçula de 5 anos escapa do serviço.
"Ele ainda tá pequeno pra trabalhar", alega o agricultor.
Os fazendeiros da região não querem saber de escola.
"Colégio aqui o patrão não consente. Tinha uma relação com dez crianças para começar o colégio e ele não aceitou", revela o agricultor.
O comum em Codó é o inconcebível em Jaraguá do Sul.
"Não existe essa possibilidade de uma criança estar fora da sala de aula. Isso não passa pela cabeça das famílias da nossa cidade", afirma o contador Jaime Pedrotti.
Jaraguá agora cuida de seus adultos. Codó ainda sonha por suas crianças.
"Eu acho que o saber é uma coisa muito ótima. Eu sinto muito que eu sou um cego da vista limpa. Eu estimava que os meus filhos enxergassem a mais do que eu", avalia o agricultor Oromar da Conceição.
As desigualdades regionais no Brasil são herança da concentração de renda. Um problema que cresceu ao longo de cinco séculos de história e que precisará de muito mais do que quatro anos de mandato para ser resolvido - seja quem for o próximo presidente que se dispuser a enfrentá-lo.
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