Golpes virtuais

Como se proteger de golpes em sites fraudulentos na Black Friday

Golpes virtuais dispararam com o uso de inteligĂȘncia artificial, deepfakes e sites falsos altamente sofisticados. Com a chegada da Black Friday, eles tendem a se intensificar.

Projeto Comprova

Golpistas que atuam em golpes de compras online costumam iniciar o contato por meio de técnicas de engenharia social. (Foto: Divulgação)

GOLPES VIRTUAIS

As fraudes em compras online atingiram um nĂ­vel crĂ­tico em 2025. Dados da Serasa Experian mostram que as tentativas de golpe cresceram 22,9% no primeiro trimestre do ano em comparação com o mesmo perĂ­odo de 2024, o que reflete uma escalada preocupante. Segundo Thiago Guedes Pereira, CEO e fundador da DeServ Academy e da DeServ Segurança da Informação, esse avanço tem sido impulsionado pelo uso de inteligĂȘncia artificial para criar sites falsos, deepfakes e campanhas enganosas em larga escala.

Como os golpistas abordam as pessoas

Golpistas que atuam em golpes de compras online costumam iniciar o contato por meio de tĂ©cnicas de engenharia social. A estratĂ©gia consiste em criar situaçÔes que pressionam o usuĂĄrio a agir rapidamente sem verificar a legitimidade da oferta. Links maliciosos frequentemente aparecem em anĂșncios patrocinados em redes sociais como Instagram, Facebook, em buscadores como o Google, alĂ©m de mensagens enviadas por WhatsApp, SMS ou e-mail que imitam grandes varejistas, bancos e transportadoras. Outra tĂĄtica crescente Ă© o uso de deepfakes, vĂ­deos e ĂĄudios criados com inteligĂȘncia artificial para conferir credibilidade a promoçÔes falsas que usam a imagem ou a voz de pessoas famosas.

Que tåticas eles usam para chamar a atenção

Os golpes online tĂȘm se tornado cada vez mais sofisticados ao explorar a pressa, a emoção e a distração do consumidor. Uma das estratĂ©gias mais comuns Ă© o uso de ofertas com descontos muito acima do normal, como 70% ou 80%, com o objetivo de induzir compras impulsivas. Para reforçar essa sensação de urgĂȘncia, os golpistas utilizam contadores regressivos, alertas de “Ășltimas unidades” e mensagens que pressionam o usuĂĄrio a agir rapidamente, reduzindo sua capacidade de anĂĄlise.

Outra tĂĄtica recorrente Ă© a clonagem de sites. Criminosos criam pĂĄginas quase idĂȘnticas Ă s de lojas confiĂĄveis, alterando pequenos detalhes do endereço (URL), como a troca de letras, erros sutis de digitação ou o uso de domĂ­nios incomuns, como .shop, .live e .app. Essas alteraçÔes passam despercebidas para muitos consumidores. AlĂ©m disso, essas pĂĄginas fraudulentas geralmente limitam as opçÔes de pagamento a Pix ou boleto, pois esses mĂ©todos nĂŁo permitem contestação apĂłs a transferĂȘncia, o que facilita o golpe.

Alguns fraudadores também recorrem a tecnologias avançadas, como deepfakes e clonagem de voz, para simular familiares, amigos ou influenciadores recomendando ofertas inexistentes ou solicitando pagamentos urgentes.

Para se proteger, Ă© fundamental observar sinais de alerta crĂ­ticos. O primeiro Ă© a URL suspeita: verificar letra por letra, buscando erros de digitação, letras trocadas ou duplicadas e domĂ­nios estranhos que fogem do padrĂŁo das lojas oficiais. Outro ponto essencial Ă© a segurança do site: pĂĄginas legĂ­timas utilizam “https://” e exibem o cadeado na barra de endereços; se esses elementos estiverem ausentes, hĂĄ risco elevado de fraude.

Preços irrealisticamente baixos tambĂ©m devem levantar suspeita, sobretudo quando ultrapassam 70% ou 80% de desconto, ou estĂŁo muito abaixo do valor praticado no mercado. Comparar com outras lojas confiĂĄveis Ă© uma maneira simples de validar a oferta. AlĂ©m disso, sites sĂ©rios sempre exibem informaçÔes obrigatĂłrias no rodapĂ©, como CNPJ ou CPF (em caso de MEI), razĂŁo social, endereço fĂ­sico, telefone de atendimento e canais reais de contato. A ausĂȘncia desses dados costuma indicar falta de credibilidade.

Qual Ă© o objetivo do golpe

Golpes que prometem dinheiro råpido ou recompensas via Pix geralmente capturam dados das vítimas por meio de cadastros ou formulårios falsos. Os golpistas criam påginas que imitam sites oficiais e pedem informaçÔes como nome, CPF, endereço, telefone e até dados bancårios. Ao preencher esses formulårios, a vítima fornece dados suficientes para que os criminosos abram contas digitais fraudulentas, solicitem empréstimos, realizem compras indevidas ou até vendam essas informaçÔes na dark web.

Além dos formulårios, alguns sites maliciosos capturam automaticamente o que a pessoa digita. Mesmo antes de concluir um cadastro, o sistema pode registrar dados de pagamento, informaçÔes do navegador, localização aproximada e características do aparelho utilizado. Em golpes mais sofisticados, tudo digitado no site pode ser registrado sem que a vítima perceba.

Em golpes relacionados ao Pix, muitas vezes nĂŁo Ă© necessĂĄrio que a pessoa forneça dados bancĂĄrios completos. Os criminosos criam chaves ou QR Codes falsos e induzem a vĂ­tima a fazer um pagamento com a promessa de liberar um valor maior depois, o que nunca acontece. Esses sites costumam ficar no ar apenas por poucos dias, justamente para evitar rastreamento e denĂșncias

Como se proteger

Para evitar golpes digitais, além de tudo o que jå foi dito, a pessoa pode adotar alguns cuidados pråticos. Um deles é sempre desconfiar de qualquer oferta com preços muito abaixo do valor de mercado, pois esse tipo de apelo emocional é uma das ferramentas mais usadas por golpistas. Também é importante nunca clicar em links recebidos de desconhecidos e ter muito cuidado quando o link vem de alguém conhecido, jå que contas invadidas podem enviar mensagens suspeitas. Ativar a verificação em duas etapas nas principais contas (como WhatsApp, Instagram, e-mail e serviços bancårios) ajuda bastante, porque mesmo que alguém descubra a senha, não consegue entrar sem o segundo código.

Outro ponto importante Ă© evitar pesquisar o nome de lojas no Google ou em outros buscadores, jĂĄ que golpistas compram anĂșncios com nomes semelhantes aos de empresas reais. É mais seguro digitar o endereço diretamente ou usar o aplicativo oficial. TambĂ©m vale observar se o site estĂĄ usando HTTPS, o que aparece como um cadeado ao lado do endereço. Ter HTTPS nĂŁo garante que um site seja confiĂĄvel, mas a ausĂȘncia dele Ă© um sinal claro de que nele nĂŁo Ă© seguro.

Sobre deepfakes e propagandas falsas com celebridades, a melhor forma de verificar se um famoso realmente fez uma divulgação Ă© ir diretamente Ă s redes oficiais dele. Celebridades normalmente publicam parcerias em seus perfis verificados; se nĂŁo houver nada lĂĄ, a probabilidade de ser falso Ă© muito alta. TambĂ©m Ă© Ăștil verificar se outras pĂĄginas confiĂĄveis de notĂ­cias ou de entretenimento mencionam a parceria. Quando apenas um anĂșncio aleatĂłrio aparece nas redes sociais, sem nenhuma confirmação oficial, Ă© quase certo que foi criado sem autorização. Detalhes estranhos em vĂ­deos, como a boca se movendo fora de sincronia, sombras que nĂŁo combinam ou uma voz com som “plĂĄstico”, tambĂ©m sĂŁo sinais de deepfake. Outra forma de conferir Ă© abrir o perfil do anunciante: golpistas costumam usar pĂĄginas recĂ©m-criadas, com poucos seguidores e sem histĂłrico.

Quanto ao CNPJ, para pesquisĂĄ-lo, a pessoa pode acessar o site da Receita Federal e consultar gratuitamente. LĂĄ Ă© possĂ­vel verificar se o CNPJ existe, se estĂĄ ativo e quais sĂŁo os dados reais da empresa, como o nome oficial e o endereço. Se algo estiver diferente do que aparece no site da loja, Ă© um alerta de golpe. TambĂ©m Ă© possĂ­vel procurar o nome da empresa em plataformas como Reclame Aqui e consumidor.gov.br para ver experiĂȘncias de outras pessoas.

Por fim, o domĂ­nio Ă© o “nome” de um site na internet, aquilo que aparece antes do “.com”, “.com.br”, “.org” e assim por diante. Em “www.lojaexemplo.com.br”, o domĂ­nio Ă© “lojaexemplo.com.br”. Funciona como o endereço de uma casa: se vocĂȘ digita o endereço errado, vai parar em outro lugar, e Ă© justamente isso que muitos golpistas tentam explorar criando endereços muito parecidos com os verdadeiros. Por isso, Ă© essencial prestar atenção Ă s letras trocadas, nĂșmeros em lugar de letras ou extensĂ”es diferentes, porque uma loja legĂ­tima poderia usar “.com.br” e o golpista poderia criar “.shop” ou “.store”, por exemplo, para imitar.

A quem denunciar

VĂ­timas de golpes devem registrar um boletim de ocorrĂȘncia na Delegacia Virtual do estado, que possui validade legal. Em casos envolvendo compras ou relaçÔes de consumo, o Procon pode ser acionado, assim como a plataforma consumidor.gov.br, que permite registrar reclamaçÔes diretamente junto Ă s empresas participantes. A PolĂ­cia Federal, por meio do Comunica PF, recebe denĂșncias de golpes de alcance interestadual ou de crimes cibernĂ©ticos. Em fraudes financeiras, Ă© importante comunicar imediatamente a instituição bancĂĄria e registrar a reclamação no Banco Central, por meio do serviço de demandas do ĂłrgĂŁo, acessĂ­vel com login gov.br. Sites suspeitos tambĂ©m podem ser denunciados ao Google Safe Browsing, para serem rapidamente bloqueados, e publicaçÔes em plataformas como o Reclame Aqui ajudam a alertar outros consumidores.

Para fazer esses registros, a vĂ­tima deve reunir o mĂĄximo possĂ­vel de informaçÔes. Dados pessoais, como nome completo, CPF, RG, endereço, telefone e e-mail, sĂŁo necessĂĄrios para formalizar o boletim de ocorrĂȘncia, assim como os dados da conta bancĂĄria de origem, quando houver transferĂȘncia. TambĂ©m Ă© importante descrever detalhadamente como o golpe ocorreu, informando a data, o horĂĄrio, o canal utilizado (WhatsApp, ligação, site, redes sociais), o tipo de golpe e como o criminoso se apresentou. Comprovantes e registros sĂŁo fundamentais para a investigação: prints de conversas, anĂșncios, perfis, sites, e-mails, ĂĄudios, vĂ­deos, links suspeitos, nĂșmeros de telefone e comprovantes de pagamento (PIX, TED, boleto, cartĂŁo). Esses elementos ajudam a identificar os criminosos, especialmente nĂșmeros de telefone, chaves PIX, dados bancĂĄrios do recebedor e URLs utilizadas no golpe.

TambĂ©m devem ser informados dados financeiros, como o valor perdido, o meio de pagamento, as instituiçÔes bancĂĄrias envolvidas, os dados ou a chave do recebedor e o identificador da transação, como o E2E ID do PIX, que Ă© especialmente Ăștil para rastrear o fluxo do dinheiro e solicitar o bloqueio cautelar. Qualquer informação sobre o suspeito — nome informado, CNPJ usado, foto de perfil, endereço, placas de veĂ­culo ou ĂĄudios — tambĂ©m pode auxiliar, mesmo que parte desses dados seja falsa. Em golpes pela internet, informaçÔes tĂ©cnicas, como cabeçalhos completos de e-mails, IPs, domĂ­nios e dados de hospedagem, podem ajudar a PolĂ­cia Federal em investigaçÔes de crimes cibernĂ©ticos. Quanto mais dados forem reunidos, maiores serĂŁo as chances de identificar os responsĂĄveis e de tentar reaver o valor perdido.

Desconfiou que Ă© golpe? O Comprova pode ajudar a verificar. O Comprova monitora conteĂșdos suspeitos publicados em redes sociais e em aplicativos de mensagens sobre polĂ­ticas pĂșblicas, eleiçÔes e possĂ­veis golpes digitais, e abre verificaçÔes para os conteĂșdos duvidosos que mais viralizam. VocĂȘ tambĂ©m pode sugerir verificaçÔes pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais:

O Comprova jĂĄ explicou diferentes modalidades de golpes digitais, como phishing, engenharia social, clonagem de sites e uso de deepfakes para enganar vĂ­timas. O projeto mostrou como criminosos exploram emoçÔes, senso de urgĂȘncia e dados pessoais para induzir açÔes impulsivas, especialmente em situaçÔes envolvendo pagamentos por Pix ou ofertas aparentemente vantajosas

O Comprova tambĂ©m revelou como golpistas utilizam vĂ­deos manipulados, biometria falsificada e tĂĄticas de engenharia social para burlar sistemas de reconhecimento facial e acessar contas bancĂĄrias ou serviços digitais. As verificaçÔes apontaram sinais que ajudam a identificar pedidos suspeitos de “validação facial” e destacaram a importĂąncia de mĂșltiplas camadas de segurança para evitar esse tipo de fraude.

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