40 anos de redemocratização

José Sarney relembra fatos históricos sobre sua posse e celebra democracia

Ex-presidente tomou posse em 15 de março de 1985, sendo o primeiro civil no cargo após 21 anos de ditadura militar.

Imirante.com

Atualizada em 15/03/2025 às 15h36
O ex-presidente José Sarney foi entrevistado pela GloboNews e falou sobre os 40 anos da transição democrática. (Reprodução / GloboNews)

BRASÍLIA - O ex-presidente José Sarney concedeu uma entrevista ao programa Em Pauta, da GloboNews, na noite desta sexta-feira (14), para falar sobre os 40 anos de sua posse como presidente da República. O momento foi um marco na redemocratização do Brasil, já que Sarney foi o primeiro presidente civil após 21 anos de ditadura militar.

Durante a entrevista, Sarney relembrou eventos históricos e os momentos decisivos da madrugada de 15 de março de 1985, quando tomou posse como vice-presidente de Tancredo Neves e, interinamente, assumiu a presidência da República. Eleito de forma indireta, Tancredo não pôde tomar posse devido a uma cirurgia abdominal e faleceu 39 dias após sua internação.

Segundo Sarney, parte dos militares era contra sua ascensão à presidência, em meio à incerteza sobre o estado de saúde de Tancredo. No entanto, a liderança de Ulysses Guimarães (MDB), então presidente da Câmara dos Deputados, e o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) garantiram a continuidade do processo democrático. Essa transição seria consolidada posteriormente com a Constituição de 1988, fruto da Assembleia Constituinte convocada por Sarney.

Principais pontos da entrevista de José Sarney à GloboNews:

Apreensão sobre a posse e internação de Tancredo Neves

"Eu disse a Tancredo que queria ser um vice-presidente fraco de um presidente forte. Jamais imaginei – assim como qualquer brasileiro – que o que aconteceu naquela noite pudesse se tornar realidade. Assumi a presidência da República como se estivesse levitando. Nas poucas palavras que proferi ao empossar os ministros, disse que estava com os olhos de ontem, pois havia passado a noite em claro, tomado pela perplexidade diante da responsabilidade de governar um país tão grande e com problemas tão complexos. Apesar da minha experiência política – tendo sido governador, senador por cinco mandatos e deputado federal – nada me preparava para aquele momento.

Mais do que o peso político, eu pensava no drama humano vivido por Tancredo. A história o havia conduzido à presidência após um processo político complexo, mas, de repente, ele estava impossibilitado de assumir. Expressei a Ulysses Guimarães que não queria tomar posse naquele dia. Desejava assumir apenas quando Tancredo se recuperasse, pois a maioria de nós acreditava que ele sairia daquela situação. Os médicos haviam descrito o procedimento como simples, mas complicações inesperadas mudaram o quadro.

Foi então que começou o debate sobre quem deveria assumir. O jurista Afonso Arinos argumentou que eu não era o vice-presidente de Tancredo, mas sim o vice-presidente da República, e que, portanto, cabia a mim a sucessão. Ulysses reforçou essa posição de forma enfática, dizendo: ‘Sarney, você não pode criar dificuldades agora. Lutamos muito para chegar até aqui. Não há espaço para sentimentalismos.’ Eu, no entanto, temia que minha posse fosse interpretada como oportunismo. Quando aceitei ser vice-presidente, jamais imaginei que substituiria Tancredo permanentemente. Foi um momento extremamente difícil, marcado por perplexidade e emoções intensas. Além disso, eu não tinha uma base partidária consolidada, pois havia deixado o PDS para ingressar no MDB devido às exigências da legislação."

Conversas com militares na véspera da posse e noite de "perplexidade"

"Os militares estavam divididos. Parte deles achava que eu não devia assumir, pois o presidente João Figueiredo não compreendia por que eu havia me afastado dele. Na realidade, foi ele quem não aceitou as propostas que fizemos para realizar uma eleição democrática dentro do partido. Naquele momento, os militares, por meio do ministro do Exército, Walter Pires, procuraram Leitão de Abreu, então chefe da Casa Civil, e disseram que não aceitavam minha posse. Walter pretendia acionar os comandos militares para interromper a transição democrática.

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No entanto, Leitão de Abreu argumentou que, juridicamente, minha ascensão era inevitável. Diante dessa reação, Walter Pires percebeu que não tinha apoio suficiente para impedir a posse. Naquela noite, o Supremo Tribunal Federal se reuniu secretamente e decidiu, por maioria, que eu deveria assumir a presidência. Paralelamente, Ulysses Guimarães articulou no Congresso um documento que reforçava essa decisão."

Momento marcante

"Na madrugada, por volta das 3h, recebi uma ligação do general Leônidas Pires Gonçalves, que disse: 'Sarney, às 10h você tem que assumir a presidência da República. O general Deny vai buscá-lo para cumprir todas as formalidades que estavam previstas para Tancredo.' Eu insisti que queria esperar, mas ele respondeu: 'Não crie mais nenhum caso, Sarney. Boa noite, presidente!'

Aquele telefonema foi definitivo. Eu sabia que, a partir dali, era o presidente do Brasil."

Reflexões sobre a democracia brasileira

Sarney destacou que a transição foi considerada uma das mais exitosas do mundo, pois consolidou uma democracia de massa. Ele lembrou que, apesar dos desafios econômicos e políticos, o Brasil conseguiu manter suas instituições democráticas, resistindo a tentativas de rupturas.

Ele também mencionou que o país ainda precisa de uma reforma política profunda para fortalecer seu sistema eleitoral e partidário. Por fim, reforçou a importância da liberdade e da vigilância constante para a preservação da democracia.

"A democracia veio para ficar. Ela se constrói dentro de cada um de nós e deve ser defendida diariamente."

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