BRASIL - A expectativa de vida em capitais brasileiras varia 15 anos, de 57 a 72 anos. A idade média ao morrer de moradores de Belo Horizonte ou Porto Alegre, por exemplo, gira em torno de 72 anos. No entanto, para quem mora em Boa Vista a idade média ao morrer é bem inferior, em torno de 57 anos.
Os dados constam do primeiro Mapa da Desigualdade entre as capitais brasileiras, lançado nesta terça-feira (26) pelo Instituto Cidades SustentĂĄveis (ICS), na capital paulista. O trabalho, inĂ©dito, compara 40 indicadores das 26 capitais brasileiras em temas como educação, saĂșde, renda, habitação e saneamento. O estudo reforça a percepção da distĂąncia que separa as vĂĄrias regiĂ”es e Estados do paĂs, demonstrando que o Brasil Ă© mesmo um paĂs desigual.
âEsse Ă© um dado que Ă s vezes fica mais escondido, mas que traduz muito a desigualdade. Essa diferença de 15 anos na idade mĂ©dia ao morrer [entre Belo Horizonte/Porto Alegre e Boa Vista], que Ă© uma coisa que chama muito a atenção, traduz muito a desigualdade", conta o coordenador geral do Instituto, Jorge AbrahĂŁo.
Em entrevista Ă AgĂȘncia Brasil, AbrahĂŁo conta que os Ăndices estĂŁo diretamente ligados aos investimentos em polĂticas pĂșblicas.
"As questĂ”es de saneamento, de habitação precĂĄria, de qualidade de saĂșde e educação, de mortalidade infantil, de violĂȘncia, de homicĂdios contra jovens, em geral, sĂŁo nĂșmeros muito ruins nessas cidades que tem uma idade mĂ©dia de morrer muito baixa. Portanto, para vocĂȘ conseguir aumentar esse nĂșmero, significa que vocĂȘ teria que investir em questĂ”es centrais para a qualidade de vida das pessoas.â
Outro indicador analisado pela publicação e que reforça a desigualdade existente entre as capitais brasileiras apontou que 100% da população de SĂŁo Paulo Ă© atendida com esgotamento sanitĂĄrio, enquanto em Porto Velho, apenas 5,8% da população tem esse acesso. Sobre esse dado, AbrahĂŁo faz ainda uma ressalva: embora os dados oficiais indiquem que 100% da população paulistana tem acesso a esgotamento sanitĂĄrio, o Ăndice nĂŁo reflete totalmente a realidade.
âĂ verdade que em uma cidade como SĂŁo Paulo hĂĄ algumas ĂĄreas de ocupaçÔes irregulares, muitas delas que nĂŁo tĂȘm essa questĂŁo resolvida. Mas isso acaba nĂŁo aparecendo nesses dados oficiaisâ, explicou.
Fontes
O Mapa da Desigualdade entre as capitais Ă© baseado no Mapa da Desigualdade de SĂŁo Paulo, que Ă© publicado hĂĄ mais de 10 anos pela Rede Nossa SĂŁo Paulo e pelo Instituto Cidades SustentĂĄveis.
As fontes dos dados sĂŁo ĂłrgĂŁos pĂșblicos oficiais como o Instituto Brasileiro de Geografia e EstatĂstica (IBGE), o Departamento de InformĂĄtica do Sistema Ănico de SaĂșde (DataSUS), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais AnĂsio Teixeira (Inep) e o Sistema Nacional de InformaçÔes sobre Saneamento (SNIS).
TambĂ©m foram utilizados dados de organizaçÔes nĂŁo-governamentais em dois temas: emissĂ”es de CO2 per capita â com dados do Sistema de Estimativas de EmissĂ”es de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do ObservatĂłrio do Clima (OC) â; e desmatamento â com dados do MapBiomas.
Ranking
Mesmo sabendo que o dado oficial pode não refletir totalmente a realidade brasileira, ele continua demonstrando a grande desigualdade de condiçÔes entre os Estados brasileiros. Isso é reforçado quando se analisa o desempenho de cada capital brasileira frente aos 40 indicadores.
Curitiba, por exemplo, é o destaque positivo, aparecendo na primeira posição do ranking das capitais, com 677 pontos, seguida por Florianópolis, Belo Horizonte, Palmas e São Paulo.
âMesmo as cidades melhores colocadas [no ranking] trazem desafiosâ, destacou AbrahĂŁo. âEu olharia com uma visĂŁo positiva esse resultado [de Curitiba], mas entendendo que ele encerra alguns desafios que Curitiba ainda nĂŁo conseguiu resolver.â
Jå na outra ponta do ranking estå Porto Velho (RO), a capital com o pior desempenho, com 373 pontos. Além dela, aparecem no outro extremo da tabela as cidades de Recife (PE), Belém (PA), Manaus (AM) e Rio Branco (AC).
âDas seis cidades melhores colocadas na mĂ©dia dos indicadores, cinco sĂŁo das regiĂ”es Sul e Sudeste. E das seis piores colocadas, quatro estĂŁo na RegiĂŁo Norte.â
Esse dado demonstra, segundo o coordenador do estudo, que o Brasil precisa de polĂticas pĂșblicas que valorizem as regiĂ”es onde a desigualdade Ă© maior.
âO Brasil Ă© muito eficiente em produzir polĂticas para gerar desigualdade. E Ă© por isso que nĂłs estamos nesse local, eu diria, vergonhoso de ser um dos dez paĂses mais desiguais do mundo. Se a gente foi capaz de chegar nesse ponto, a gente Ă© capaz de reverter isso com polĂticas que sejam proporcionadas com esse olhar", afirmou AbrahĂŁo.
Ele salienta que essas desigualdades sociais estĂŁo intimamente ligadas Ă questĂŁo econĂŽmica: "sem a gente resolver as desigualdades, nĂłs nĂŁo vamos resolver a questĂŁo de produtividade no paĂs, que estĂĄ ligada com a questĂŁo econĂŽmica. Sem resolver a educação, nĂłs nĂŁo estamos resolvendo as questĂ”es de pobreza ou de eficiĂȘncia. Sem reduzir os problemas de saneamento, nĂłs vamos continuar com problemas graves de questĂ”es sanitĂĄrias e de doenças no paĂs. E o caminho Ă© esse: fazer investimentos desiguais para os locais mais desiguaisâ.
Jorge Abrahão lembra ainda que 2024 é um ano de eleiçÔes municipais e que a população deve estar atenta a esses indicadores ao escolher seus candidatos a prefeito e vereador.
âĂ importante que as cidades se enxerguem para que possam ver onde Ă© que estĂŁo suas maiores fragilidades e, a partir daĂ, discutam esses problemas com os candidatos dos diferentes partidos para verificar como Ă© que esses candidatos estĂŁo olhando para os principais problemas das cidades e sĂł entĂŁo fazerem suas escolhas.â
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