Dia Mundial sem Tabaco

Fumantes usam 8% da renda familiar per capita para compra de cigarros

Pesquisa divulgada pelo Inca marca o Dia Mundial sem Tabaco.

Alana Gandra/AgĂȘncia Brasil

Atualizada em 31/05/2023 Ă s 10h25
O Dia Mundial sem Tabaco é comemorado em 31 de maio. (divulgação)

BRASIL - Os brasileiros que fumam destinam cerca de 8% da renda familiar per capita (por indivĂ­duo), mensalmente, para a compra de cigarros industrializados. O gasto mensal chega a quase 10% da renda entre os fumantes na faixa etĂĄria de 15 a 24 anos, atingindo 11% entre aqueles com ensino fundamental incompleto. Os dados constam de pesquisa do Instituto Nacional do CĂąncer (Inca), que serĂĄ apresentada nesta quarta-feira (31), na sede da instituição, no Rio de Janeiro, durante o lançamento da campanha "Precisamos de comida, nĂŁo tabaco”, da Organização Mundial da SaĂșde (OMS).

A campanha marca o Dia Mundial sem Tabaco, comemorado em 31 de maio. A sondagem teve por base dados da Pesquisa Nacional de SaĂșde (PNS) de 2019.

“De maneira geral, a variação maior ocorre no rendimento e nĂŁo tanto no gasto. Para pessoas que tĂȘm escolaridade mais baixa, que moram em estados ou regiĂ”es em que a renda mĂ©dia Ă© menor, o gasto com cigarro acaba tendo uma contribuição relativa maior”, destacou, em entrevista Ă  AgĂȘncia Brasil, o mĂ©dico AndrĂ© Szklo, um dos autores do estudo, realizado pela DivisĂŁo de Pesquisa Populacional do Inca. Por isso, entre os fumantes de baixa escolaridade, o comprometimento do gasto com cigarro, em função da renda domiciliar per capita do domicĂ­lio onde reside, Ă© maior do que entre fumantes que tenham escolaridade mais elevada.

A mesma coisa ocorre em regiĂ”es do paĂ­s. No Norte e Nordeste, onde a renda mĂ©dia Ă© menor, comparada com o Sudeste e Sul, o comprometimento do gasto com o cigarro acaba sendo maior tambĂ©m, indicou Szklo. Por sexo, o percentual alcança 8% para os homens e 7% para as mulheres.

Por regiÔes

As regiÔes Norte e Nordeste concentram os maiores gastos com o tabagismo, sendo o Acre o estado com o maior comprometimento de renda (14%), seguido por Alagoas (12%), Cearå, Parå e Tocantins (11% cada). Na Região Sul, Paranå e Rio Grande do Sul registram 8% de gastos com cigarros e Santa Catarina, 7%. No Sudeste, Rio de Janeiro e Minas Gerais apresentam gastos em torno também de 8%, enquanto São Paulo e Espírito Santo atingem 7%. Os menores índices de comprometimento de renda, em contrapartida, aparecem na Região Centro-Oeste, com Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal mostrando gastos de 6% cada. Mato Grosso e Goiås alcançam 9% cada.

AndrĂ© Szklo informou que essa contribuição Ă© derivada de duas variĂĄveis: quanto a pessoa estĂĄ gastando em mĂ©dia, naquele mĂȘs, com cigarro, e o rendimento mĂ©dio dos domicĂ­lios daqueles estados onde hĂĄ um morador fumante. “NĂŁo necessariamente vai ser o mesmo (gasto) para todos os estados. Porque tem a relação de quanto vocĂȘ gasta e o rendimento mĂ©dio do domicĂ­lio daquele estado, per capita’. Por exemplo, quando se nota que Mato Grosso do Sul tem contribuição menor, isso pode ser em função tanto de um rendimento maior domiciliar entre as famĂ­lias que tĂȘm pelo menos um fumante, como tambĂ©m um gasto proporcional menor desse fumante de Mato Grosso do Sul, nĂŁo necessariamente porque ele estĂĄ comprando menos cigarro, mas tambĂ©m pelo preço que estĂĄ pagando pelo produto.

Preço mais barato

O pesquisador do Inca lembrou que Mato Grosso do Sul faz fronteira com o Paraguai, porta de entrada importante para cigarros que nĂŁo pagam imposto, os chamados ilegais, cujo preço Ă© menor do que o do produto legal. Depois do Paraguai, o Brasil Ă© o paĂ­s que tem o cigarro mais barato das AmĂ©ricas. “Desde 2017 que a gente tem uma queda real, isto Ă©, jĂĄ descontada a inflação, do preço do cigarro legal brasileiro. É um cigarro muito barato”. No gasto analisado pelo Inca, estĂĄ incluĂ­do o gasto com cigarro legal e ilegal.

Como se consome um cigarro muito barato no Brasil, AndrĂ© Szklo disse que isso leva a pessoa a nĂŁo parar de fumar e, tambĂ©m, que adolescentes e jovens, principalmente, acabem sendo motivados e conduzidos a começar a fumar, estimulados pelo preço muito baixo. O pesquisador alertou que o gasto com cigarro que estĂĄ comprometendo a renda domiciliar poderia ser aproveitado de outra forma, como no consumo de alimentos saudĂĄveis ou investindo em atividades de lazer, fĂ­sicas, esportivas, de prevenção de uma sĂ©rie de doenças. Mas, ao contrĂĄrio, ele estĂĄ sendo direcionado para o consumo de cigarros.

A recomendação Ă© que Ă© preciso voltar a criar barreira, defendeu Szklo. “E essa barreira para o gasto com cigarro Ă© voltar a aumentar o preço”. Na avaliação do pesquisador do Inca, aumentar as alĂ­quotas que incidem sobre os produtos finais do tabaco e, consequentemente, sobre o preço final do cigarro, Ă© a medida mais efetiva de saĂșde pĂșblica e controle do tabaco, para reduzir a iniciação e estimular a suspensĂŁo desse hĂĄbito. “Se a gente voltar a aumentar o preço do cigarro, os fumantes vĂŁo acabar gastando menos, porque vĂŁo parar de fumar”.

SUS

O estudo do Inca destaca a importĂąncia de ser criado de fato um imposto especĂ­fico para produtos derivados do tabaco, de forma que se possa voltar a ter aumento de preço. Os recursos desse imposto devem ser canalizados para o Sistema Único de SaĂșde (SUS), por exemplo, para tratamento de doenças relacionadas ao uso do tabaco. “O custo do tabagismo para o paĂ­s representa muito mais do que Ă© arrecadado em termos de impostos pela indĂșstria do tabaco”. Segundo Szklo, a arrecadação chega a 10% do custo estimado de R$ 125 milhĂ”es por ano.

O mĂ©dico do Inca insistiu que o estudo Ă© um alerta para que se volte a aumentar o preço do cigarro, a fim de que os gastos dos brasileiros com a compra do produto deixem de ser feitos. “Para que os fumantes parem de fumar ou nem comecem a fumar e, com isso, a gente possa reduzir a iniquidade na distribuição de fumantes na população e, tambĂ©m, em termos de desfechos de saĂșde. Porque Ă© exatamente nas populaçÔes de menor renda, nos estados mais pobres, entre as famĂ­lias de menor escolaridade, que o cigarro acaba comprometendo mais o rendimento domiciliar per capita".

Szklo reforçou que se os integrantes desses domicĂ­lios pararem de fumar ou nem começarem a fumar, esse dinheiro que hoje Ă© gasto com cigarro poderĂĄ ser canalizado para outras açÔes de promoção da saĂșde das pessoas, alĂ©m da compra de alimentos, que Ă© o tema deste ano do Dia Mundial sem Tabaco.

A pesquisa mostra que se a pessoa nĂŁo estiver gastando com tabaco, ela pode usar o dinheiro para comprar comida, sem cair, porĂ©m, na interferĂȘncia da indĂșstria de alimentos ultraprocessados, mas dando preferĂȘncia a alimentos saudĂĄveis. “Obviamente, se tiver menor consumo de tabaco, vai ter mais comida no prato do brasileiro, porque a pessoa pode destinar tambĂ©m uma parte da ĂĄrea empregada atualmente no cultivo de folhas de tabaco para alimentos como arroz e feijĂŁo, entre outros. O estudo alerta para que o paĂ­s continue avançando no combate ao tabagismo”.

AçÔes

A campanha da OMS Ă© liderada no Brasil pelo Inca. Ela destaca a importĂąncia de açÔes que incentivem a produção de alimentos sustentĂĄveis em substituição ao cultivo do tabaco, alĂ©m da diversificação da produção, da proteção do meio ambiente e da melhoria da saĂșde dos trabalhadores envolvidos com essa cultura.

Durante evento alusivo ao Dia Mundial sem Tabaco, o Inca exibirĂĄ estratĂ©gias que visam Ă  redução do consumo. O ĂłrgĂŁo do MinistĂ©rio da SaĂșde receberĂĄ, na ocasiĂŁo, prĂȘmio da Organização Pan-Americana da SaĂșde (Opas) em reconhecimento Ă s açÔes que contribuem para a diminuição do consumo de produtos de tabaco no paĂ­s. Em parceria com as secretarias estadual e municipal de SaĂșde do Rio de Janeiro, o Inca promove ainda ação na Praça da Cruz Vermelha, regiĂŁo central da capital fluminense, destinada Ă  sensibilização de tabagistas para que parem de fumar. SerĂŁo distribuĂ­dos materiais informativos Ă  população. 

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