ALCÂNTARA - Com a criação oficial na 3ª feira (21) da Alcântara Cyclone Space (ACS), joint venture que resulta der documento assinado pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Leonid Kuchma, da Ucrânia, o Programa Espacial Brasileiro se posiciona em uma outra órbita.
A parceria, iniciada simbolicamente com o descerramento de uma placa de bronze, ontem (22), no Centro de Lançamento de Alcântara (Cla), no Maranhão, pelo presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Luiz Bevilacqua, e pelo vice-primeiro ministro da Ucrânia, Dmitro Tabachnyk, cria condições à implantação em Alcântara da infra-estrutura necessária para o lançamento dos foguetes ucranianos Cyclone a partir do Brasil.
O empreendimento permite o aumento do potencial de uso do Cla, consolidando e tornando a base competitiva no mercado mundial de lançamento de satélites. Outro benefício para o país é que a transferência de tecnologia incluída no acordo, reflete no desenvolvimento do Veículo Lançador de Satélites (VLS). Hoje, só Estados Unidos, Rússia, China, França, Itália, Japão, Ucrânia, Índia, Israel e Paquistão, reúnem tecnologia para construir e operar veículos lançadores de satélites.
O primeiro foguete da série Cyclone deve partir de Alcântara no início de 2007. “Será um vôo para a qualificação do foguete e do complexo de lançamento, que será administrado pela ACS”, informa o brigadeiro Daniel Borges Netto, diretor de Transporte Espacial e Licenciamento (Dtel) da AEB. Ele disse que o complexo de lançamento está orçado em US$ 105 milhões “já incluindo nesse valor o vôo de qualificação que não leva nenhum satélite”.
Brigadeiro Netto: primeiro Cyclone-4 parte de Alcântara em 2007
O investimento para a implantação até dezembro de 2006 do sítio de lançamento exigido pelo Cyclone-4 será dividido entre a Infraero e as duas companhias ucranianas que formam a ACS. “Esse investimento deve ser recuperado quando a estrutura for usada para lançamentos contratados por outros países”, diz Netto. Israel, Rússia e Índia já manifestaram interesse em lançar seus satélites do Maranhão, onde a economia operacional é grande graças a sua localização equatorial.
Os lançamentos do Cyclone serão monitorados pelo atual Centro de Controle do Cla. “Ele está perfeitamente aparelhado para desempenhar essa função”, garante o coronel Jorge Pagés, diretor da unidade espacial de Alcântara. A única alteração necessária é a incorporação ao sistema do software que comanda e acompanha os movimentos do foguete. Ainda assim, ao Cla serão incorporadas uma série de melhorias que, segundo o brigadeiro Netto, exigirão gastos de US$ 30 milhões.
Fará parte desse reforço de infra-estrutura a construção de um porto flutuante, a recuperação e a abertura de outras vias de acesso. No porto móvel de 100x40mts, com capacidade para operar cargas acima de 10 toneladas, instalado na área conhecida como Ponta das Pedras, desembarcarão as partes dos foguetes a serem lançados, peças, combustíveis etc. Hoje, o aeroporto local não tem capacidade para operação de cargueiros de grande porte. Netto explica que um dos motivos para que o porto seja móvel “é o movimento da maré”, muito acentuado em parte do litoral de São Luiz.
O complexo da ACS estará ao norte da torre de lançamento de Alcântara, destruída há dois meses no acidente com o VLS-1. A área de um quilômetro por 800 mts “já está totalmente legalizada, desocupada e a Aeronáutica já recebeu a documentação”, informou o diretor da AEB. Essa área será subdividida em outras três onde serão instalados os módulos de armazenagem de peças e combustível, montagem dos foguetes, de apoio, logística e rampa de lançamento.
Todavia, não é apenas Alcântara que deve vestir uma roupagem mais moderna para essa sua nova fase. O foguete Cyclone-3, versão com a qual a Ucrânia já realizou 150 lançamentos, com apenas cinco falhas na localização exata de órbita de satélites transportados, também passará por uma remodelação tecnológica. Entre elas está a troca dos motores do terceiro estágio por cersão mais robusta o que dá a possibilidade de colocar em órbita até quatro satélites num único vôo.
O Cyclone-4, que já partirá de Alcântara, terá uma coifa (compartimento onde são instalados os satélites) maior com capacidade de carga útil de até 1.800 quilos para satélites de órbita geoestacionária ou a 36 mil metros de altitude. Também serão instalados filtros nos motores para que os gases tóxicos resultantes da queima da mistura da hidrazina (UDMH) e tetróxico de hidrogênio (NT), combustível líquido utilizado na propulsão, não polua o meio ambiente. O novo modelo terá acrescido à área de aviónicos (que controlam o lançamento) o monitoramento pelo sistema GPS (Global Position System), que deve reduzir ainda mais a probabilidade de erro na órbita de satélites transportados.
Algumas partes da estrutura do foguete serão adaptadas para as condições de clima nos trópicos, onde se localiza Alcântara, pois a temperatura na região de onde hoje o Cyclone é lançado na Ucrânia varia do positivo até 40° abaixo de zero. Muitas dessas alterações serão acompanhadas pelos técnicos brasileiros o que significa acréscimo de conhecimento que deve influir no programa espacial do país.
O brigadeiro Netto acredita ainda que haverá ganho para o programa do VLS, embora esclareça que os dois foguetes são completamente diferentes. Até mesmo a série de Veículos Sonda (VS), lançada desde a década de 70 e já consolidada, terá algum lucro com a simbiose tecnológica entre Brasil e Ucrânia. Os artefatos dessa classe são utilizados, como o próprio nome indica, para sondagens científicas na baixa atmosfera.
VS-40 volta ao espaço em 2004
O VS também é utilizado no Brasil para levar ao espaço experimentos científicos que precisam de ambiente de micro-gravidade para se desenvolver, como a cristalização de algumas proteínas. O VS-30, último foguete da série lançado do Cla, levou a bordo 12 experimentos de diversas instituições de pesquisa do país, mas seus resultados são desconhecidos porque a carga útil, que caiu no mar, não foi resgatada. Segundo o brigadeiro Netto, o VS-40 deve ser lançado em julho de 2004 e poderá transportar tanto experimentos científicos nacionais quanto alemães.
O presidente da AEB, Luiz Bevilacqua, que se diz muito confiante com o acordo com a Ucrânia, também concorda que a iniciativa terá reflexos positivos no programa do VLS. A tecnologia de uso de combustível líquido é um deles, por exemplo. Todavia, ele diz que o ponto crucial do projeto é mesmo o de orçamento. “O ideal é que tivéssemos garantido um investimento anual de US$ 100 mil”.
A ACS, que terá seu complexo espacial instalado bem próximo da torre do VLS, cobrará dos futuros clientes US$ 2.4 milhões por lançamento o que, segundo os técnicos, é um bom preço levando-se em conta as vantagens que a localização geográfica de Alcântara, próxima da linha do Equador oferece, como, por exemplo, a redução de 30% no gasto com combustível com a maior capacidade no transporte de carga.
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