COLUNA
Gabriela Lages Veloso
Escritora, poeta, crítica literária e mestranda em Letras pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Gabriela Lages Veloso

A Poesia do Instante

Na Antologia poética (1963), de Cecília Meireles, nos deparamos com a efemeridade da vida, a eternidade da alma, a importância dos instantes e do sagrado.

Gabriela Lages Veloso

Ilustração: Bruna Lages Veloso

Cecília Meireles foi poeta, jornalista, cronista, ensaísta, escritora de literatura infantojuvenil e professora. Segundo Otto Maria Carpeaux (1960), a autora foi uma mulher à frente de seu tempo, que não se enquadrou nas correntes artísticas vigentes em sua época. Em 1963, foi publicada pela primeira vez a Antologia poética, de Cecília Meireles. Vale ressaltar que essa é a única coletânea cujos textos foram selecionados pela própria poeta.

O livro reúne 168 poemas e é subdividido em 13 partes, que correspondem a algumas das obras cecilianas mais importantes – a saber, Viagem, Vaga música, Mar absoluto, Retrato natural, Amor em Leonoreta, Doze noturnos da Holanda, O Aeronauta, Romanceiro da Inconfidência, Pequeno oratório de Santa Clara, Canções, Metal rosicler, e Poemas escritos na Índia –, bem como apresenta alguns textos inéditos.

Antologia poética, de Cecília Meireles, é um livro que aborda a poesia do instante, tal como podemos notar em um dos mais emblemáticos poemas da autora. “Eu canto porque o instante existe/ e a minha vida está completa./ Não sou alegre nem sou triste:/ sou poeta” (poema “Motivo”, p. 19). Além disso, apresenta questionamentos filosóficos: “Em qual espelho ficou perdida a minha face?” (poema “Retrato”, p. 22).

Nessa reunião antológica, o tempo é constantemente atualizado, encontrando-se sempre no presente: “Não há passado/ nem há futuro./ Tudo que abarco/ se faz presente” (poema “Irrealidade”, p. 69). Isso porque a literatura tem o poder de congelar o tempo, de ser atual em qualquer momento. Assim, os versos cecilianos ecoam até os nossos dias, nos ensinando os frágeis limites entre a vida e a morte, a beleza estonteante da natureza, a dor incurável da saudade e a infinitude do amor.

Esse livro nos conta histórias antigas, como a da Inconfidência Mineira, na qual um rico tesouro foi “arrancado [....] com sangue sobre a espada, a cruz e o louro” (poema “Romance XXIV ou Da bandeira da Inconfidência”, p. 166); fala viagens a terras remotas, tais como a Holanda e a Índia, “pois vamos sempre além de tudo, para mais longe…” (poema “Mapa falso”, p. 311).

Nessa Antologia poética, de Cecília Meireles, nos deparamos com a efemeridade da vida, a eternidade da alma, a importância dos instantes e do sagrado, a preciosidade do silêncio, dos sonhos e da liberdade. Sejamos como o eu-lírico ceciliano que diz: “aprendi com as primaveras/ a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira” (poema “Desenho”, p. 77). Assim, quando enfrentarmos os golpes profundos do luto, das ausências e do sofrimento, poderemos ser brevemente cortados, para depois retornarmos inteiros, como a fênix que ressurge das cinzas.

 

REFERÊNCIAS:

CARPEAUX, Otto Maria. Poesia intemporal. In: Livros na mesa. Rio de Janeiro: Liv. São José, 1960.

MEIRELES, Cecília. Antologia poética [1963]. 3ª ed. São Paulo: Global, 2013.

Antologia poética está disponível para venda no site da Global Editora: https://grupoeditorialglobal.com.br/catalogos/livro/?id=3474 

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