Um caldo de cana em Joinville
Volto para São Luís com a impressão de que nós, nordestinos e migrantes, somos apontados como a causa das mazelas que acometem Joinville e outras cidades do Sul do país.
Faz calor em Joinville. Eu e um amigo vamos a um quiosque tomar caldo de cana. Perguntado se quero com ou sem limão, digo que sem.
– De onde você é? – um dos atendentes pergunta. – Aqui em Santa Catarina todo mundo só bebe com limão.
– São Luís, Maranhão – respondo.
– Também sou maranhense! – comenta o rapaz, surpreso.
– Lá tá muito violento, né?! – intervém uma senhora, aparentemente dona do estabelecimento.
– É... a depender do bairro, sim... – digo, quando o funcionário complementa minha resposta:
– Mas violência tem em todo lugar, né?! Aqui também tá violento.
– Aqui em Joinville a cultura é outra. O problema é que tá vindo muita gente de fora, por isso que a violência tá aumentando – rebate a mulher.
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Se faz um silêncio constrangedor.
– É claro que tem pessoas bem e mal-intencionadas vindo pra cá. Estou falando das mal-intencionadas...
– Ainda bem que somos bem-intencionados – pontua meu amigo, descendente de nordestinos e paulista residente em Santa Catarina.
Terminados os caldos, pagamos, nos levantamos para sair e eu comento:
– Que calor!
Outra pessoa, também atendente – parecendo ser filha da dona –, argumenta:
– Pelo menos vocês do Nordeste já estão acostumados com o calor, né?! Acho que você que trouxe o calor de lá pra cá.
Volto para São Luís com a impressão de que, desde a violência até as altas temperaturas, nós, nordestinos e migrantes, somos apontados como a causa das mazelas que acometem Joinville e outras cidades do Sul do país. Mas de uma coisa não vão poder nos culpar: nunca vi um nordestino colocar limão no caldo de cana.
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