COLUNA
Sexo com Nexo
Sexo com Nexo por Mônica Moura, sexologia clínica e Educação sexual.
Sexo com Nexo

Sexo com Nexo: A ironia do amor romântico

(Quando vai chegar a pessoa certa?)

Dra Mônica Moura/ Sexologia clínica e Educação sexual

Atualizada em 02/05/2023 às 23h58
Dra Mônica Moura/ Sexologia clínica e Educação sexual. (Divulgação)

"A gente consome o amor como um produto. E espera que ele não apresente defeitos, que não dê problema, que seja perfeito. E eterno. E que sejamos só nós dois. E que o desejo sexual seja exclusivo. E eterno. Eu já falei eterno?" 

Esse trecho acima poderia ser fruto de uma criação minha, ou sua, ou do nosso vizinho de cima. 

Não surpreende que a maioria de nós tenha a idealização do amor romântico ainda vigente ou latente ou pungente. 

Essa ideia ainda tá aqui dentro, embalando os nossos sonhos e/ou agitando muitos pesadelos nossos.

Nessa perspectiva impaciente, não conseguimos desenvolver a empatia nem o acolhimento sobre as dores do outro. Queremos alguém pronto, estejamos nós mesmos assim ou não. Esse amor que eu espero não deve carregar feridas de um amor passado, nem depressão por uma perda recente, nem ansiedade por um reposicionamento de carreira. Se vier com algum defeito, não é pra ser amor.

Na perspectiva intolerante, não cabe em nossa vida alguém com questões a resolver, inseguranças a sanar, ciúmes a entender. Não cabe ex-mulher, filho pequeno, família caótica, não, não cabe! Esse amor pelo qual eu anseio tem que ser leve, fluido, livre, alegre, fácil. Se vier me trazendo problemas, não pode ser amor.

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Na perspectiva da Disney, o amor da nossa vida chega na hora certa. Acerta até o nosso endereço. Quando for pra ser, o sapatinho de cristal me acha. Mas se não tiver o mesmo gosto musical, gastronômico, humorístico, como conviver e aceitar? Se não for perfeito, nem dá pra confiar que seja amor de verdade.

Na perspectiva imatura, o amor é sólido feito rocha. Ninguém solta a mão de ninguém. O equilíbrio está instalado no lar daqueles que amam e são amados de verdade. Se alguém perde a linha, o ânimo, o caminho de casa (...) se alguém decide fazer um programa com os amigos em detrimento do programa a dois, sai fora! Não é amor. Se fosse amor, um estaria para o outro sempre. Dois corpos em um só. Isso sim é amor.

E tem aquela perspectiva sofrida que desacredita na história do amor quando descobre que o parceiro se envolveu sexualmente com outra pessoa. Desconsidera o fato de também ter desejado por algo (ou alguém) diferente ao longo dessa união de 5 ou 50 anos. É que se fosse amor mesmo, não teria se deixado envolver. Quando o amor é verdadeiro, o desejo sexual é exclusivo.

Passeando por essas perspectivas, eu percebi que o amor vai se apresentar de várias formas. Vai, sim. O amor é um produto valioso. Vou encontrá-lo! Não desisto dele!

Até já tive uma excelente convivência com alguém, mas nos separamos na primeira quarentena da pandemia. O sentimento não foi forte o suficiente para suportar. E se terminou, se acabou, se não ficou eternizado… é porque não era amor, certo?!

Continuo buscando…

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