Especial São João

Tradição junina no Maranhão, Dança Portuguesa continua encantando no São João

Hoje em dia, a Dança Portuguesa já é atração confirmada nos festejos juninos, com apresentações nos arraiais, nas praças e ruas dos bairros, nos pátios de igrejas, entre outros pontos da Grande São Luís e nas cidades da Baixada Maranhense.

Na Mira

Atualizada em 24/04/2024 às 11h18
Dança Portuguesa Tesouro de Coimbra em São Luís. / Foto: Divulgação/Instagram.

A cultura do Maranhão é rica e encantadora e, no período junino, as manifestações populares que engradecem o folclore do Estado ficam ainda mais evidentes, do Bumba Meu Boi ao Tambor de Crioula, não há como não se sentir contagiado com as cores e ritmos que dão vida ao nosso São João, que este ano, entrou na temporada ‘julhina’, com apresentações no mês de julho, para matar a saudade da festança que ficou parada por dois anos, por causa da pandemia da Covid-19.

E entre as manifestações que fazem parte do São João no Estado, em especial na capital maranhense, está a Dança Portuguesa, que como outros elementos culturais nossos, é fruto do contato com outras culturas.

De origem lusitana, como o próprio nome já diz, a Dança Portuguesa foi inserida nas festividades juninas há quase 50 anos, quando, segundo pesquisadores, a filha de uma portuguesa decidiu apresentar a dança durante a festa de São João da escola. Com o sucesso da apresentação, a mãe da menina decidiu criar um grupo e ensinar os integrantes a dançarem o estilo lusitano. Desde então, outros grupos foram sendo formados para se apresentarem nos arraiais da cidade. 

Hoje em dia, a Dança Portuguesa já é atração confirmada nos festejos juninos, com apresentações nos arraiais, nas praças e ruas dos bairros, nos pátios de igrejas, entre outros pontos da Região Metropolitana de São Luís e nas cidades da Baixada Maranhense. 

Figurino e elementos da Dança Portuguesa

A dança, que chama a atenção pela riqueza e exuberância das indumentárias tantos dos homens quanto das mulheres, já foi tema de tese de Doutorado em Arte. A pesquisadora maranhense Tânia Cristina Costa Ribeiro foi quem elaborou o estudo intitulado: ‘É uma dança portuguesa com certeza? Um estudo sobre formas de pertencimentos, processos de criação e influências da dança Portuguesa do Maranhão’. Na pesquisa, ela explica que a Dança Portuguesa se destaca pelo figurino exuberante dos brincantes, que usam roupas com paetês, plumas, longas botas em veludo, capas e com bordados e cores variadas. 

No figurino feminino, chamam a atenção as meias, leques e lenços, que são vestidos típicos de Portugal. No figurino feminino, chamam a atenção as meias, leques e lenços. Já os homens se apresentam com chapéus, luvas e bengalas.

Dança Portuguesa Tesouro de Coimbra em São Luís. / Foto: Divulgação/Instagram.

Ainda segundo a tese, a Dança Portuguesa do Maranhão utiliza elementos do Vira e do Malhão de Portugal, o que pode ser visto na forma como os brincantes colocam os braços, nas formações circulares e no emprego dos giros. 

“Os brincantes se alinham em filas duplas, dispondo-se no espaço, voltados de frente para o público, com uma postura física de altivez e exuberância com a qual aguardam o início da dança que é definido por uma voz em off que narra o texto de apresentação da temática e da brincadeira acompanhado de uma música mixada. Depois o grupo começa a fazer a coreografia, caracterizada com movimentos e gestos corporais, acompanhados de elementos que compõem a cena. No caso das mulheres, elas trazem nas mãos leques, lenços ou castanholas, já os homens utilizam bastões em formato de bengalas. Os brincantes dançam em pares (casais), com palmas, voltas e saltinhos, como fazem os lusitanos”, explica a pesquisa de Tânia Cristina. 

Dança Portuguesa Tesouro de Coimbra em São Luís. / Foto: Divulgação/Instagram.

A dança, que é coreografada, conta com movimentos lentos e sequências de movimentos rápidos, havendo saltos e giros em torno do próprio corpo ou em torno do outro brincante. E, para combinar com a beleza dos figurinos, os integrantes da dança se apresentam com uma postura altiva e elegante, que tem forte ligação com a postura dos participantes dos bailes europeus.

“A postura corporal que prevalece durante toda a dança envolve os braços abertos e semiflexionados erguidos acima da cabeça, exibindo o peitoral. Essa é uma postura que caracteriza a presença dos rapazes em cena. Entre as mulheres, a postura dos braços se diversifica: ora utilizam as mãos na cintura, ora obedecem à mesma postura dos rapazes, ao fazerem uso dos lenços ou leques. O conjunto dos brincantes apresenta a cabeça sempre erguida, o que acentua um olhar em direção à linha do horizonte”, destaca a tese.

Mas não é só o figurino que chama a atenção, as músicas utilizadas nas apresentações também trazem as raízes portuguesas. Os grupos dançam sempre aos pares, ao som de músicas tradicionais de Portugal e outros gêneros, como fados e viras.

“A mudança da estrutura coreográfica entre os pares acontece seguindo o constante ritmo da música que é eletronicamente mixada. O repertório musical apresentado é gravado e inclui diversos gêneros (romântico, pop, clássico, pop francês, sertanejo, circense, portuguesa contemporânea e zouk, entre outros). É comum a todos os grupos, a presença de músicas mixadas com um texto elaborado por eles, inserido na mudança das músicas durante o espetáculo. Na maioria das vezes, a passagem de uma música para outra altera a posição dos brincantes no espaço. A cada interferência da mixagem, são feitas mudanças na dinâmica da dança que alteram suas formas e também o seu ritmo”, aponta a tese de Tânia Cristina.

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Dança Portuguesa Tesouro de Coimbra

Dança Portuguesa Tesouro de Coimbra em São Luís. / Foto: Liliane Cutrim/Grupo Mirante.

Há dezenas de grupos de Dança Portuguesa na Grande São Luís, que fazem a alegria dos moradores e visitantes nos arraiais, entre esses grupos está o Tesouro de Coimbra, que há 18 anos se apresenta no São João do Maranhão. O grupo, que tem sede no bairro Parque Timbira, na capital, foi criado pela enfermeira Marina Marta, que criar o grupo para dar uma ocupação para as crianças e adolescentes do bairro, impedindo que elas entrassem na criminalidade.

“Então, a única coisa que me veio na cabeça foi botar um grupo cultural, que é uma coisa que eles poderiam gostar. E a Dança Portuguesa era uma coisa que meus filhos saíam e eles gostavam. Aí eu decidi fundar uma dança, com meu filho Rui ensinando os outros. Isso foi em 2004, quando a gente começou com os meninos tudo criança. Aí eu queria botar o nome do grupo Infância de Portugal, mas minha colega disse assim, Marina esses meninos vão crescer e eles vão continuar na dança. Foi quando ouvi uma colega chamando o filho de tesouro. Aí eu me lembrei que, pra todas as mães, os filhos são tesouros, então decidi colocar o nome do grupo de Tesouro de Coimbra. Aí as crianças cresceram e não quiseram mais sair da dança, não me largam por nada”, conta a enfermeira e dona da dança.

Marina é fundadora da Dança Portuguesa Tesouro de Coimbra em São Luís. / Foto: Liliane Cutrim/Grupo Mirante.

A enfermeira aponta que a dança tem uma importância social muito grande, pois serve como atrativo para os jovens e um incentivo aos estudos e ao trabalho.

“Em vez deles estarem na rua, fazendo coisas erradas, graças a Deus estão dentro da minha casa. E eu sei o que eles estão fazendo. Eles vêm, eles almoçam, eles jogam, mas é assim mesmo. E hoje, muitos dos meninos já trabalham, outros só estudam, uns já tem família, mas não saem daqui, eles amam fazer parte da dança”, afirma.

E nada de competição entre aos grupos, como acontecia há alguns anos, o que de acordo com Marina é uma grande conquista, pois tirou o espírito de rivalidade entre os jovens e se implantou a solidariedade.

“Antes tinha aquela rivalidade, sim, hoje não temos mais, a gente tem uma associação onde fomos conversar e trabalhamos a mente dos donos das brincadeiras. Porque a competição não leva a lugar nenhum. Antes os meninos brigavam, eles ficavam com raiva de outra dança. Agora não, aqui são três danças e eles vêm dançar pra mim, eu vou dançar pra eles. Os ensaios são todo mundo junto, a gente compra tecido e divide. E isso acaba ensinando esses jovens também esse espírito de solidariedade, de parceria e não de rivalidade”, destaca Marina.

Outro aspecto interessante da Dança Portuguesa, segundo a fundadora da dança Tesouro de Coimbra, é a mudança nas indumentárias do grupo. Marina explica que, antes, o grupo usava a roupa tradicional, mas agora eles adotam o brilho em referência ao Bumba Meu Boi.

“Aqui é tudo São João, é brilho, então a gente achou melhor incrementar mais as roupas. Em Portugal eles não dançam assim, porque é na zona rural. Na verdade, eles são bem tradicional. Aqui é totalmente diferente, porque a roupa é luxuosa, cheia de brilho, como são os grupos de Bumba Meu Boi”, explica a enfermeira.

E cada integrante da brincadeira tem a missão de confeccionar sua própria indumentária, que, por ser muito cara, conta com a ajuda da comunidade. O grupo faz bingo, rifa, entre outras coisas para juntar a verba e bancar o material de cada integrante. E, na retomada do São João, após dois anos de paralisação por causa da pandemia da Covid-19, os brincantes estavam mais que ansiosos para voltarem a se apresentar e ensaiavam de segunda a sexta, para poder estarem preparados para a grande quantidade de apresentações na temporada junina.

Integrantes da Dança Portuguesa Tesouro de Coimbra fazem suas indumentárias. / Foto: Liliane Cutrim/Grupo Mirante.

E o mês de junho acabou, com intensa apresentação de grupos juninos em diversas partes da Região Metropolitana de São Luís, mas como este ano o São João vai até o fim de julho, os integrantes da dança Tesouro de Coimbra, assim como outros grupos de Dança Portuguesa, vão continuar se apresentando nos arraiais da cidade, encantando moradores e visitantes.



 

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