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Pergentino Holanda
O colunista aborda em sua página diária os acontecimentos sociais do Maranhão e traz, também, notícias sobre outros estados e países, incluindo informações das áreas econômica e política.
Pergentino Holanda

Sopro do paraíso

Mais: Missa da Esperança para Zeca Belo

PH

Atualizada em 02/05/2023 às 23h35
Olga Nagem Frota foi sempre uma devoradora de obras literárias e cultuou a arte em suas mais diversas manifestações – em Kiev, por exemplo, hoje devastada pela guerra, Olga contempla um dos mais famosos teatros do mundo

Há uma semana, quando uma virose tomou conta de mim e eu fui obrigado a sair de cena e me refugiar num leito de hospital, mais que rápido peguei na cabeceira de minha cama um livro que ganhei de presente de uma amiga de sempre: “Aqui Nos Encontramos”, de John Berger.

Uma após outra, sucedem-se as aparições, esboçadas com esmero e reverência, antes de voltarem a desaparecer deixando para trás o vislumbre de uma mensagem.

Essa obra tocante que ganhei de Olga Nagem Frota, que partiu para a eternidade no começo da penúltima semana de maio, foi a última que ganhei dessa devoradora de grandes livros.

Nem sempre é fácil definir no trabalho de John Berger, onde a ficção encontra a autobiografia e onde o ensaio encontra a meditação, alertava Olga Frota, com quem mantive uma próxima amizade que durou mais de meio século. Em "Aqui Nos Encontramos" o autor encontra-se com personagens do passado – Jorge Luís Borges, Rosa Luxemburg, entre outros, em várias cidades europeias, de Lisboa a Madrid e de Genebra a Cracóvia. Uma a uma, as personagens aparecem e desaparecem com o sussurro de uma mensagem deixada para trás.

Numa tarde quente em Lisboa, John Berger encontra a mãe que morreu há quinze anos atrás, e que lhe diz que os mortos nunca ficam onde são enterrados. A partir daqui entramos numa viagem literária única, onde a vida e o trabalho do autor são inseparáveis. É uma narrativa com a voz do autor mas não é um livro de memórias, é um retrato que viaja através do tempo e do espaço mas que nunca perde a noção do presente, é uma confissão sem ressentimentos profundamente emocional e sensual.

Olga Nagem Frota em noite de elegância na comemoração dos seus 80 anos

Sopro do paraíso...2

Numa das últimas conversas que tive com Olga Frota, que carregava nos ombros mais de nove décadas de vivências pelo mundo, lembramos, sobre o livro, que homem se debruça na beira do mar e sopra a água até formar ondas. Ele apoia o corpo todo num só braço. Com o outro, empurra o resultado do seu esforço, encadeando as corcovas salgadas que explodem um pouco adiante, como se cada onda fosse parte de um rebanho. A espuma também vem desse sopro sobrenatural, fruto de um pulmão possante, de uma garganta profunda, de um olhar avesso, aquele em que o branco da córnea substitui a pupila.

Não foi a primeira vez que eu e Olga descobrimos seres em obras na natureza. O pequeno deus que contraria o crepúsculo, iluminando a boca da noite com sua tez laranja, confundindo turistas e camarões, é um deles. Outro é este descrito agora, que faz flexão com o torso enquanto providencia o chocalhar das águas, que bate nos banhistas. Ele usa um vento interior, vindo de suas grutas de veludo. Nada a ver com o Leste ou Sul, rebentos da ilha, já que esse arfar que fabrica a onda obedece a outro expediente.

Confesso que ele só existe no canto da baía de São Marcos, já que o miolo do lugar, tão calmo em outras estações, agora é um tapume de plásticos e sujeira. Talvez ele queira dar seu recado, já que o esgoto tomou conta do centro da curva, fabricada, possivelmente, por um seu semelhante. Imagino um encontro desses gigantes conversando sobre o estrago feito ao longo do ano e não apenas no verão. Eles sussurram e depois olham ao redor, ressabiados. O que estarão aprontando?

Sopro do paraíso...3

Porque divindades não se recolhem, como nós, depois de uma vida dedicada à sobrevivência. A inutilidade do nosso esforço para permanecer de pé sobre a Terra, quando o destino é deitar definitivamente sobre ela, deve enchê-los de assombro. Por serem eternos, confabulam mudanças para nos pregar sustos. Aprontam tempestades, obedecendo mapas riscados nas pedras. Providenciam avalanches em lugares planos. Salpicam de neve o deserto de nossas esperanças.

Não são cruéis, apenas querem compartilhar suas heranças. Por possuírem poder, sabem desviar a correnteza para que o navio fantasma evite os falsos faróis, colocados de propósito para gerar saques, a partir da costa, em brigues piratas. Mergulham tesouros no mar e de lá não tiram nada. Nem deixam que faísque no fundo alguma ametista, pois isso seria dar razão aos que ainda não desistiram totalmente da aventura. Eles precisam cercar os segredos de todos os cuidados, para assim não atrair os amadores que desvirtuam o horizonte, os pseudo viajantes noturnos, os pássaros de palha.

Eles criam dificuldades para que os heróis, se é que esses ainda existem, possam descobrir suas vocações. Colocam Quasímodos em todos os portais dos mares. Ciclopes vigiando enseadas e sargaços. Fazem chover lava onde se vislumbra oásis. Assim selecionam mortais determinados. Estes, quando ficam prontos, exibem corcéis couraçados na fronte, barbatanas afiadas nas omoplatas, garras que podem libertar Prometeu.

Uma doce recordação deste Repórter PH com Olga Nagem Frota em noite de charme e elegância

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Quando despertarem os heróis, transidos de pavor, pai da coragem, então será a vez de se desencadearem, em bandos, os cantores da eternidade. O som do mar é um poema épico, que só se escuta quando vemos o final do nosso tempo. Fora dessa sinfonia, só existem as ruínas e o vazio perverso.

Por enquanto, estou atento ao sopro que modula a flauta da manhã. As ondas beijam os pés dos passantes, enquanto gotas de orvalho queimam as últimas estrelas. Tudo parece tépido, tímido, como se os instrumentos do dia obedecessem ao um simulacro de dança, de arabesco, de braços imitando cisnes. É que não escutamos ainda a bigorna que pulsa no ventre das baleias. Ela avisa a súmula da reunião dos deuses anônimos, os que assessoram as águias, e apascentam nuvens e tufões. O veredicto é claro.

Somos prisioneiros da poesia, que nos carrega como um ramo de flor sobre o oceano interminável, sabendo que não haverá barca que nos salve, nem mesmo quanto entoarmos o cântico libertário.

Nossa sorte, minha eterna e saudosa Olga, será enxergar a melodia nas pequenas coisas, as que renovam nossas chances. Até acumularmos forças para nos aproximar de Deus, que nos recolhe.

Náufragos da solidão, seremos soprados ao paraíso pálido, mas ainda intacto.

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Vale lembrar que a Missa da Esperança, pelo sétimo dia do falecimento de Olga Frota, será realizada nesta segunda-feira, às 19h30, na Igreja de São Marcos, na Ponta d´Areia (entrada pela Fribal do mesmo bairro).

DE RELANCE

Missa da Esperança para Zeca Belo

Parece que foi ontem e já foi transcorrido um ano sem a presença entre nós do empresário e grande figura humana José de Ribamar Barbosa Belo, nosso saudoso e querido Zeca Belo.

A viúva Marilena Rosa Belo, as filhas, genros e netos mandarão celebrar a Missa da Esperança em memória desse grande maranhense, às 18hs do dia 30 de maio, na igrejinha do Olho d´Água.

O ato religioso será conduzido pelo Frei José Antônio Macapuna, OFMCap, da Província Capuchinha Nossa Senhora do Carmo, que abrange os Estados do Maranhão, Pará e Amapá, e o Padre Heitor Morais.

Festança Boi da Lua

A tradicional sociedade maranhense pediu e nós estamos promovendo a volta de um dos maiores e mais elegantes eventos do folclore maranhense na temporada junina.

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Com o selo do Grupo Mirante, será realizado no dia 17 de junho, após um longo período de hibernação, desta vez nos belíssimos jardins do Rio Poty Hotel, a Festança Boi da Lua, reunindo no palco as mais importantes brincadeiras dos folguedos no Maranhão. E no sofisticado arraial, de frente para o mar da Ponta d´Areia, as figuras de maior prestígio da sociedade maranhense.

Os detalhes do evento, ainda em fase de produção, serão revelados na próxima semana quando estiverem confirmadas todas as atrações da noite.

Para a alegria de seus numerosos amigos e admiradores, Roseana Sarney está de volta a São Luís praticamente recuperada de uma delicada cirurgia a que se submeteu em São Paulo

Roseana está de volta     

A ex-governadora Roseana Sarney levantou as mãos para os céus e está agradecendo a Deus por mais uma vitória conseguida. Depois de uma delicada cirurgia em São Paulo, ela está desde ontem de volta a São Luís com o astral elevadíssimo.

E não esconde que chegou pronta para tocar sua campanha para se eleger deputada federal em outubro deste ano.

Vila Galé celebra potencial do Maranhão

A Vila Galé realizou na noite de 19 de maio um coquetel em São Luís, para degustação dos vinhos da Casa Santa Vitória e apresentação das empresas do grupo.

O evento foi realizado no prédio da Fiema e contou com a presença de empresários, políticos, personalidades e jornalistas.

A Casa de Vinhos Santa Vitória é uma empresa do grupo Vila Galé, fundada em 2002, que produz vinhos e azeites alentejanos com ótima qualidade. Além disto, oferece geléias, compotas e vinagres.

Durante a estadia no estado maranhense, o presidente e fundador, Jorge Rebelo de Almeida, visitou possíveis locais para a implantação de um hotel do grupo.

A Vila Galé é a maior rede de Resorts do Brasil e o segundo maior grupo hoteleiro em Portugal. O grupo é composto por diversas sociedades, das quais se destaca, pela sua dimensão e importância, a Vila Galé – Sociedade de Empreendimentos Turísticos, S.A.

Governo e Academia de Letras

O presidente da Academia Maranhense de Letras (AML), Lourival Serejo, reuniu-se, na manhã da última sexta-feira, com o secretário chefe da Casa Civil do Governo do Maranhão, Sebastião Madeira. Na pauta do encontro, assuntos de interesse das duas instituições, como a conclusão do processo de desapropriação, pelo Estado, de imóvel pertencente à Academia na rua da Palma, no Centro de São Luís.

Outro tema que entrou em pauta na reunião, realizada no Palácio dos Leões, foi a retomada dos programas de reedição de livros, parceria entre a AML e o governo do Maranhão que já vem acontecendo há três anos.

Sebastião Madeira disse que o governo tem todo o interesse em continuar mantendo parcerias produtivas com a AML, no fomento à produção literária e a eventos culturais em diferentes regiões do Estado. “A Academia, associada a instituições como o governo, tem a missão primordial de ser uma guardiã permanente dos nossos valores literários e de abrir caminhos para a formação de novos leitores”, frisou Lourival Serejo.

Participaram também da reunião o secretário-geral da AML, Félix Alberto Lima, e a secretária estadual de Educação, professora Leuzinete Pereira.

 Para escrever na pedra:

“Ouse, arrisque, não desista jamais e saiba valorizar quem te ama, esses sim merecem seu respeito. Quanto ao resto, bom, ninguém nunca precisou de restos para ser feliz”. De Clarice Lispector.

TRIVIAL VARIADO

Tenho um amigo que desde muito criança, tem o hábito de escrever em diários. Hoje, ele tem cerca de 30 caderninhos com suas anotações. Há de tudo neles: frases soltas, provérbios, reflexões sobre a sala de aula, ideias de romances, poemas inacabados, confissões impublicáveis, decepções e conquistas amorosas, impressões de viagens e todo tipo de registo dos seus afetos.

Quem escreve diários vai muito além de um mero registro. Um diário é uma biografia dos próprios sentimentos. Uma confissão a nós mesmos. Como uma necessidade de viver a vida duas vezes: uma pela experiência e outra pela escrita.

Um diário recupera os rastros sentimentais de datas e dias fugazes. Porque a vida acontece sempre. Mesmo quando estamos num momento aparentemente monótono de um dia qualquer, a vida continua acontecendo. A vida não para. Um diário sobrevive à própria morte. Alonga nossa existência e nos dá uma ideia mais clara do quanto existir é raro.

Muitos jovens já compreenderam a importância de se manter um diário. Eles já sabem que a escrita é confissão. E encontraram na escrita um jeito de conversar consigo mesmo. Na verdade, estamos sempre em conversa com nós mesmos, falamos sozinhos mentalmente a todo momento.

O diário é uma companhia subjetiva, às vezes dura e implacável. Um diário aceita tudo: nossas fraquezas, nossas alegrias, nossos erros e tudo aquilo que nos constitui. Um diário não nos julga, por isso a sinceridade faz parte desse gênero.

Mantenho-me em estado de poesia quando escrevo. Mesmo quando não faço literatura. Acho que meus diários são uma espécie de cemitério de palavras, porque raramente aproveito as ideias que estão ali em meus livros.

O diário é uma segunda vida. Uma possibilidade de registrar os rastros e os vestígios sentimentais. Toda vida é importante e por isso registrá-la com as próprias palavras confere dignidade à nossa jornada. Portanto, caro leitor: escreva diários, mas não deixe ninguém ler, a não ser que você queira.

Em parceria com a editora da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), a Academia Maranhense de Letras (AML) acaba de publicar 16 livros relacionados a aspectos históricos e literários do Maranhão. A parceria editorial entre as duas instituições contempla obras da Coleção Biblioteca Escolar – Série Fundadores da Academia I.


 

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