Justiça proíbe filho de bicheiro de desfilar no Salgueiro

O Globo

Atualizada em 27/03/2022 às 14h51

RIO - O filho de 16 anos do “banqueiro” de jogo do bicho Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, assassinado em setembro passado, está proibido de participar do Desfile das Campeãs, hoje à noite no Sambódromo.

A juíza da 1 Vara da Infância e da Juventude, Ivone Ferreira Caetano, concedeu liminar pedida pelo Ministério Público numa ação civil pública contra o Salgueiro, impedindo a presença do filho de Maninho. Para o MP, a presença do menor, imitando os gestos do pai contraventor, viola as normas de proteção à infância e à adolescência.

A exibição de imagens dos patronos da escola, Maninho e Waldemir Paes Garcia, o Miro, num telão, sobre um carro alegórico também foi proibida pela Justiça. O objetivo é evitar que o Salgueiro repita a homenagem que fez aos bicheiros durante o desfile do Grupo Especial, na noite de domingo. A homenagem, segundo o MP, configurou apologia à prática de crimes. Em sua decisão, a juíza enfatizou que o adolescente foi usado “para propagar a imagem negativa de seu pai e avô paterno, candidatando-se como sucessor”. Em caso de descumprimento, o Salgueiro pagará multa de até R$ 1 milhão.

Juíza diz que escola violou normas do alvará do Juizado

Segundo a juíza, a presença do menor e o carro alegórico com o telão violam a imagem do Rio e do rapaz. “A presença deste adolescente caracterizado como seu genitor e a projeção em telão de seus ascendentes em carro alegórico na festa mais popular do país viola a própria imagem da cidade do Rio, e, em especial, a do Brasil, como um dos signatários da Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente”, afirma um trecho da sentença.

Segundo a juíza, a escola violou as normas de proteção à criança e ao adolescente contidas no alvará concedido pelo Juizado antes do desfile. Ela afirmou que a intervenção do Judiciário é necessária para garantir o cumprimento do estatuto. “Tais regras não existem tão somente para serem aplicadas aos pobres e desvalidos, como ao que parece vem sendo noticiado pelos jornais. Há que se entender que todos, sem exceção, devem ser abrangidos pelas mesmas regras, não podendo ficar acima do bem e do mal”, diz.

Maninho foi assassinado a tiros durante uma emboscada quando saía de uma academia de ginástica em Jacarepaguá. Uma das versões da polícia é que o crime teria sido motivado por disputas pelos pontos de jogo na Zona Oeste.

O envolvimento do jogo do bicho com o carnaval já levou o deputado federal Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ) a pedir que o MP investigue possível apologia ao crime no desfile do Salgueiro. A Mocidade, que homenageou César Andrade, sobrinho do falecido “banqueiro” Castor de Andrade, também será investigada. Em 1993, 13 chefões do jogo, entre eles Miro e Castor, foram condenados à prisão por crime de formação de quadrilha. Na época das investigações, Biscaia era procurador-geral do Ministério Público.

O MP também está agindo dentro da própria instituição. Anteontem o procurador-geral de Justiça, Marfan Vieira, pediu à corregedoria que investigue se o promotor Marcelo Buhatem tem algum vínculo com a Beija-Flor, por ter aparecido no Sambódromo com a camisa da agremiação. Buhatem disse ontem que a camisa com a qual desfilou na Sapucaí não era da diretoria da Beija-Flor e negou que faça parte da escola. Ele contou que comprou a camisa numa loja do Sambódromo e foi informado que, se estivesse com uma calça branca, poderia desfilar discretamente com a escola:

—- Eu era um folião normal. Comprei a camisa da Beija-Flor como poderia ter comprado a de um time de futebol. Não queria desfilar com fantasia. Eu nem sabia que não era permitido desfilar desta forma. Estou me sentindo patrulhado.

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