SÃO LUÍS - Na transição entre os séculos XIX e XX, a capital maranhense passava por transformações urbanas, especialmente após o período escravocrata. Com a consolidação do período republicano, gestores – na intenção clara de mostrar serviço – passaram a executar serviços que modificaram a configuração da cidade, especialmente na região central.
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Para valorizar a grande concentração de moradores na principal área ludovicense, o poder público passou a focar suas atenções para a área que, até o fim da década de 1890, era agregada ao Cais da Sagração (consagrada por Josué Montello em suas obras famosas) e funcionava como uma espécie de pièr da área de embarque, conforme cita em seus estudos o pesquisador Ramssés Silva.
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A partir da intenção do então gestor Nuno Álvares de Pinheiro, de acordo com “Becos e Telhados”, de Antônio Guimarães de Oliveira, a administração municipal passou a planejar a construção de uma via ao lado da Baía de São Marcos. Era a concepção de uma avenida que cortaria uma importante região da cidade e, ao mesmo tempo, possibilitaria a consolidação de uma das mais belas vistas da nobre Ilha.
Conhecida atualmente como Avenida Beira-Mar (em uma espécie de licença “poética”, já que a via não fora feita na beira do mar, e sim abrangendo um braço de rio), a via já recebera outros nomes, ligados especialmente a ex-gestores.
De acordo com o pesquisador Antônio Guimarães, a construção da via fora concebida ainda no final do século XIX. No entanto, devido ao orçamento curto (à época estimado em aproximadamente 400 mil contos de réis), optou-se até meados de 1920 em elaborar-se somente o estudo técnico para a viabilização da obra.
Na segunda metade da década de 1920, executou-se a partir da intervenção do governo à época, encabeçado por Magalhães de Almeida, um trecho revestido com tijolos para passagens de automóveis (poucos à época por sinal) e carroças. A via começaria a ser feita a partir da antiga Estação São Luís-Teresina e prosseguiria até o então bairro famoso da Praia Grande, frequentado especialmente por comerciantes e grupos mais populares.
A artéria, como era chamada na ocasião pelos jornais em especial se juntaria à construção do Cais da Sagração, decantado nas obras de Josué Montello e cuja rampa feita no fim do século XIX para receber embarcações, feita de óleo de baleia e outros materiais estava fincada entre os dois baluartes (ou meia-luas ou meia-laranjas) e o Coreto da Praia Grande. Além da rampa, foram erguias muralhas espessas, feitas em alvenaria de pedra e reboco e pintadas na cor branca.
Estima-se a inauguração mais emblemática da avenida Beira-Mar entre os anos de 1926 e 1930, período em que durou o mandato do então gestor Magalhães de Almeida. Segundo “Becos e Telhados”, a “inauguração” da avenida foi marcada por uma regata e uma carreata, sendo esta última a primeira do gênero realizada no estado até então.
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A elaboração da via fez parte de um macroprojeto de revitalização de pontos da região central. Foi durante a entrega da avenida Beira-Mar que o poder público decidiu incluir presos na própria construção da via e na reforma de monumentos e construções importantes, como a Igreja dos Remédios, atualmente situada em frente a Praça Gonçalves Dias.
Este registro consta no perfil “Minha Velha, São Luís” e ancestrais do cineasta Murilo Santos fizeram parte da elaboração e execução da obra da antiga Beira-Mar. Após a inauguração, a via passa a ser conhecida predominantemente por receber eventos sociais, desfiles e apresentações carnavalescas.
A Avenida Beira-Mar: palco das apresentações carnavalescas
Após ser entregue e, por alguns anos, receber o nome de Magalhães de Almeida, a via ao lado da “orla” da Ilha passou a receber desfiles militares e, principalmente, apresentações culturais. Registro de Pacotilha, edição do dia 8 de janeiro de 1929, aponta que “com a chegada do novo ano”, surgiram as primeiras manifestações do reinado de Deus Momo, dentre elas, exibições na conhecida como Beira-Mar.
De acordo com o periódico, as “festas de Momo” iriam se concentrar, especialmente, na Avenida Magalhães de Almeida, considerado um dos principais pontos da festa na cidade. Segundo o jornal, a administração municipal ativou obras desta “linda arteria” a fim de que, “no sábado magro”, esteja preparada para receber as apresentações.
Ainda segundo o registro, a “meia laranja” do ângulo da avenida está sendo mosaicada e, nela, foi erguido um coreto para a música. Seria permitido, neste espaço, aos populares dançarem à vontade. A construção é vista até hoje ao longo da via.
Também foram erguidos, no carnaval, vários “pavilhões” para a venda e comercialização de bebidas, doces e artigos carnavalescos. Em 9 de fevereiro de 1929, o exemplar de O Combate trouxe no título “O Carnaval”, a descrição de parte da programação que passaria pela via.
Segundo o periódico, o corso (após efetuar o trecho pela Rua Rio Branco até a Praça Gonçalves Dias, passando pela Praça João Lisboa, trafegaria pela Avenida Beira-Mar (denominação já dada popularmente à via) após às 18h. A alegoria, inclusive, iria até o trecho da Beira-Mar até a Rua do Ribeirão.
Na mesma data, o periódico A Pacotilha trouxe manifestação do oficial do gabinete do chefe da Polícia, Waldemar de Sousa Britto, que restringiu a passagem de veículos pela Avenida Magalhães de Almeida durante a temporada carnavalesca entre os dias 10, 11 e 12 dos correntes mês e ano.
Alvo de críticas
Em 23 de abril de 1929, publicação de “O Combate” destacou a chamada “Mania Prefeitural”. O exemplar trouxe em sua página principal uma espécie de crítica ao que chamou de “menina dos olhos” da administração pública. O texto reforçava a tese de que a gestão municipal seguia a passos lentos com a obra de abertura da Avenida Beira-Mar.
Segundo o texto, faltava material para a execução dos serviços. A crítica finalizava da seguinte forma: “Será que tenhamos em breve outra inauguração?”. Devido às dificuldades financeiras, a gestão entregou os serviços em partes, executando várias solenidades de entrega.
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