Opinião

As quedas animadoras

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15

Com base em dados fornecidos pelas secretarias estaduais de Saúde, o Brasil está obtendo bons resultados com a imunização ampla contra a Covid-19 também dentro dos hospitais. Números revelam quedas de 70% ou mais no número de hospitalizados com a doença em comparação ao pico da pandemia, que deve atingir a marca de 600 mil mortes esta semana. Até o momento, cerca de 45% dos brasileiros estão totalmente vacinados e 70% com aplicação parcial.

Uma certeza: a queda de internações tem relação direta com o avanço da vacinação contra a Covid-19 em todo o país. O brasileiro, ao contrário de outros povos, tem uma cultura vacinal e o resultado é que as pessoas já viram que a imunização é fundamental para derrotar a pandemia.

Especialistas observam que com a vacinação fixada como fator principal da queda, há um segundo fator — muito mais restrito, diga-se — que ajudou a reduzir as médias de hospitalização. Trata-se da alta prevalência da variante Gama, surgida em Manaus, que elevou os indicadores de casos e mortes no Brasil ao longo do primeiro semestre do ano, deixando um número de pessoas menos suscetíveis às infecções. Embora, é importante ressaltar, já se saiba que a proteção da vacina é mais potente e duradoura do que a conquistada por meio da infecção natural.

Para o médico infectologista Julio Croda, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o que trouxe impacto para a redução das internações foi vacinar acima de 92% dos maiores de 18 anos com primeira dose em todo o Brasil. Não há, por exemplo, uma sazonalidade marcante para esse vírus.

De acordo com levantamento da Fiocruz, divulgado na semana passada, 24 estados têm níveis de ocupação de UTI consideradas fora da área de alerta, ou seja: abaixo dos 60%. Relatórios anteriores mostravam que, em março, 25 estados e o DF tinham taxa acima de 80%, no maior colapso sanitário da história do Brasil.

Especialistas defendem, contudo, que se olhe para parte dos leitos instalados ao longo da pandemia — para dar conta do volume intenso de pacientes — com a intenção de mantê-los prestando um serviço ao Sistema Único de Saúde (SUS) e desafogando algumas localidades.

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Enquanto o número de leitos ocupados e óbitos por Covid-19 estão em queda no Brasil, o Governo Federal determinou um estudo para desobrigar o uso de máscaras no país.

O Ministério da Saúde ainda não conseguiu chegar a um parecer para embasar a decisão. A conclusão da análise, prevista inicialmente para este mês, foi adiada para novembro. O presidente Bolsonaro pressiona o ministro Marcelo Queiroga para que o item de proteção deixe de ser cobrado. Com menos da metade da população do país completamente imunizada, especialistas afirmam ser preciso ter cautela.

A pressão sobre Queiroga se dá no momento em que o avanço da vacinação e a queda de casos de covid-19 desencadearam anúncios para flexibilizar o uso de máscaras em algumas cidades A primeira a abandonar o item de proteção, porém, foi Duque de Caxias (RJ), onde desde terça-feira as pessoas não precisam mais sair às ruas com o equipamento. O prefeito Washington Reis (MDB) justificou a medida pelo avanço da vacinação.

Após assumir a pasta dizendo que o Brasil se tornaria a “pátria de máscaras”, Queiroga mudou de posição. Em entrevistas, já afirmou ser contra o uso obrigatório do equipamento de proteção e a favor de uma “conscientização”, que não explicou como seria feita. O ministro foi cobrado pelo presidente a tomar uma decisão sobre o tema em pelo menos duas ocasiões. Em 10 de junho, Bolsonaro disse que havia falado “com um tal de Queiroga” e o ministro decidiria pela desobrigação.

Não custa lembrar que a necessidade de usar o equipamento já foi provada cientificamente e é defendida por especialistas, que destacam o risco imposto pela transmissão da doença. A medida foi adotada na maioria dos países. O risco de andar sem máscara é muito alto perto do baixo benefício de não usar o equipamento de proteção. Portanto, a desobrigação no uso de máscara só deveria ocorrer mediante algumas condições: taxa de transmissão, número de casos e hospitalizações baixos, alto número de vacinados e grupo acima de 60 anos com dose de reforço.

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