Sem os laços da violência
Desde que foi sancionada a Lei Maria da Penha, em 2006, agosto se tornou símbolo de luta e conscientização da violência contra a mulher.
Desde que foi sancionada a Lei Maria da Penha, em 2006, agosto se tornou símbolo de luta e conscientização da violência contra a mulher. A escalada desenfreada dos indicadores de violência, sob todos os aspectos, escancara uma realidade que envergonha e, ao mesmo tempo, desafia os padrões de civilidade, de convivência e da famigerada evolução social.
Se o conceito de violência for aplicado a todas as formas de agressões subjetivas com as quais muitas mulheres são submetidas, aí teremos não um dado, mas um quadro de horror a estampar a banalidade, a insensatez e a covardia com as quais a “sociedade” aprendeu a conviver e legitimar.
Não pretendo recorrer aos gráficos, nem tampouco analisar os tipos de violência esmiuçados em dezenas de dispositivos, análises e conceitos. O que de fato precisa ser dito sobre isso? Quais as perguntas a serem feitas sobre esse assunto que ainda não foram respondidas? Há que se voltar à essência da iniquidade humana, um mistério que acompanha a vida humana, ou melhor, a vida dos seres criados. Há igualmente que se voltar àquela liberdade plena, da vida como um dom precioso, com um voo de liberdade que não se esgota em regras, que não se prende “nem mesmo em gaiolas de ouro” como canta o poeta Bulcão.
De fato, o que precisa ser dito, repetido e pedagogicamente trabalhado desde a infância é que a violência é um mal a ser extirpado do nosso meio, que ela não deve e nem pode coexistir nas relações humanas e com o ambiente. Sob nenhum aspecto, o mal da violência se justifica contra a pessoa humana, muito menos contra a mulher que, neste caso, torna-se ainda mais abominável, pois vem carregada de outras tantas violências históricas agregadas, constituindo-se não num crime contra uma ou mais pessoas, ou gênero, mas como um atentado contra a natureza humana.
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O percurso histórico da violência contra a mulher segue um roteiro quase sempre determinado pela sobreposição social, seja temporária ou permanente e se estende nas anomalias das relações abusivas, nem sempre assim vistas e/ou sentidas. Dessa forma, há uma subjetividade que esconde a fonte, não os sintomas dessa perversão absoluta.
Sugeriria que, diferente dos outros meses temáticos, o mês de agosto não fosse simbolizado por um laço, que mesmo ao trazer a ideia da relação e do compromisso, compromete o símbolo da liberdade que não conhece amarras, nem opressões.
Não, a todo tipo de violência! Seja lilás ou a cor que quiser a liberdade e a dignidade da mulher! Volto a Bulcão para iluminar o tema e o tempo “tu podes prender o passarinho, mas o canto dele não”.
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