Vidas que (quase) ninguém vê
O humano do mundo: diário de uma psicóloga sem fronteiras (2017) é um livro da psicóloga brasileira Débora Noal, no qual está reunido um compilado de textos da autora.
O humano do mundo: diário de uma psicóloga sem fronteiras (2017) é um livro da psicóloga brasileira Débora Noal, no qual está reunido um compilado de textos da autora, escritos, quase que totalmente, durante missões realizadas no Haiti, Guiné, República Democrática do Congo e Líbia, nos anos de 2008, 2009, 2010 e 2011, respectivamente, junto à organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras.
Tratando-se de um diário, a obra é de caráter intimista, na qual a autora descreve, minuciosamente, vários dos seus pensamentos, sentimentos e sensações momentos antes das missões, durante as ocorrências e depois delas.
Sendo assim, o leitor tem acesso a mais do que dados informativos acerca das missões – o que já é bastante enriquecedor, por mostrar uma realidade oculta à maioria da população –, imergindo na subjetividade de uma psicóloga em momentos ora de tensão ora de prazer, ao saber que seu sacrifício pessoal é recompensando pela alegria, mesmo que, às vezes, momentânea, proporcionada à parte de sua família espalhada por diversos cantos do mundo.
Não é uma leitura fácil, visto que a realidade nua e crua é trazida à tona pela perspectiva extremamente sensível ao sofrimento alheio de alguém que, antes de profissional, é humana, e se sabe assim.
Em meio a conflitos armados, negação de direitos humanos básicos e violência de todas as naturezas, sobretudo contra as mulheres, está Débora Noal, psicóloga e mulher, corajosa e temerosa, esperançosa, mesmo quando sem saber o que esperar do futuro. Contradições que se revelam quando se está diante de situações as mais extremas e, talvez, até inimagináveis para quem vive à margem de qualquer desconforto.
A vida que ninguém vê (2006), da jornalista e escritora brasileira Eliane Brum, é um compilado de crônicas-reportagens publicadas numa coluna semanal do jornal Zero Hora durante o ano de 1999.
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Como o título sugere, a obra é concernente à invisibilidade social da população mais pobre do país, sobretudo da cidade de Porto Alegre, onde os entrevistados residiam na ocasião das entrevistas que deram origem aos textos.
Eliane Brum, com uma sensibilidade aguçada – que muitas vezes falta ao meio jornalístico, mais preocupado em retratar números frios e, por vezes, deslocados da realidade – e um apelo à linguagem literária, apresenta ao leitor a realidade cruel de vidas que nascem e morrem sem serem notadas.
Cada crônica-reportagem faz de seu protagonista um herói da vida real, obrigado a suportar fardos pelos quais não pediu e, ainda assim, sobreviver e tentar ser feliz.
No livro, se o descaso do poder público para com a camada mais pobre da sociedade é denunciado pela autora, também o é o descaso nosso, meu e seu, de cada dia para com os nossos semelhantes.
Esse é um tipo de leitura fundamental para a nossa formação humana. Aprender a olhar além das aparências e compreender que, por trás de cada rosto com o qual nos deparamos cotidianamente, há um herói da própria história é uma maneira de combate à desumanização em um mundo cada vez mais impessoal.
Para qualquer pessoa que ainda tenha pelo menos uma centelha de humanidade cintilando no peito, esses livros são garantia de incêndio. Que no frio da invisibilidade social, haja sempre o calor de um olhar atento às vidas que (quase) ninguém vê.
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