COLUNA
Gabriela Lages Veloso
Escritora, poeta, crítica literária e mestra em Letras pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Gabriela Lages Veloso

Literatura Indígena

Para demonstrar a grande riqueza dos povos tradicionais, o escritor Daniel Munduruku utilizou o critério linguístico, em seu livro Contos Indígenas Brasileiros (2004).

Gabriela Lages Veloso

Ilustração: Bruna Lages Veloso

O Brasil possui uma grande diversidade cultural e linguística. Nos referindo aos povos indígenas, em nossas terras, existem mais de 300 povos diferentes, que falam 250 línguas e dialetos, e moram em todos os Estados do Brasil. Segundo recentes dados do IBGE, são cerca de 1.693.535 pessoas. 

Daniel Munduruku é um escritor paraense pertencente ao povo indígena Munduruku. É autor de diversos livros infantis e juvenis, muitos deles premiados no Brasil e no exterior. Dentre as suas principais obras, destaca-se Contos Indígenas Brasileiros, que foi publicada pela primeira vez em 2004, pela Global Editora, e conta com ilustrações de Rogério Borges.

Para demonstrar a grande riqueza dos povos tradicionais, o escritor Daniel Munduruku utilizou o critério linguístico, em seu livro Contos Indígenas Brasileiros, pois existem várias línguas indígenas pertencentes aos mais diversos troncos e faladas de norte a sul do país. 

Dessa maneira, o autor elencou os mitos dos povos Munduruku (Mito Tupi); Guarani (Mito Guarani); Nambikwara (Mito Nambikwara); Karajá (Mito Karajá); Terena (Mito Terena); Kaingang (Mito Kaingang), Tukano (Mito Tukano) e Taulipang (Mito Taulipang), na obra em questão.

Segundo Daniel Munduruku, as “sociedades indígenas são movidas pela poesia dos mitos - palavras que encantam e dão direção, provocam e evocam os acontecimentos dos primeiros tempos, quando, somente ela, a palavra, existia. [...] Ela cria, enfeitiça, embriaga, gera monstros, faz heróis, remete-nos para a nossa própria memória ancestral e dá sentido ao nosso estar no mundo” (Munduruku, 2004, p. 03).

O primeiro conto do livro, que pertence ao Mito Tupi, tem por título Do Mundo do Centro da Terra ao Mundo de Cima e conta a estória do herói criador do povo Munduruku: Karú-Sakaibê, que retirou os seres humanos do centro da Terra e os trouxe para a superfície, com a ajuda do seu melhor amigo Rairu. Essas pessoas foram diferenciadas pelo herói, com o auxílio de tintas verdes, vermelhas, amarelas e pretas. Assim, foram criados os vários povos indígenas.

Já o segundo conto, intitulado O Roubo do Fogo, apresenta um Mito Guarani que narra as aventuras do herói Nhanderequeí e as suas artimanhas para tomar o fogo dos urubus e conservá-lo para o proveito de seu povo Apopocúva. É uma narrativa muito interessante que tenta explicar, alegoricamente, o porquê dos animais temerem as chamas e a fumaça. O terceiro conto, cujo o título é A Pele Nova da Mulher Velha, pertence ao povo Nambikwara e também busca explicar, através de uma alegoria, um fato da natureza: a troca de pele das cobras.

O quarto conto, que tem por título Por que o sol anda tão devagar?, narra um Mito Karajá sobre o dia em que o Sol (Theuú), a Lua (Rando) e as Estrelas (Tahiná) foram libertadas pelo herói Cananxiuê, das garras do Urubu-rei. A Origem do Fumo é o quinto conto do livro que, por sua vez, resgata um Mito Terena sobre a criação do fumo, que foi envolta em feitiços, intrigas e vingança.

O sexto conto, intitulado Depois do Dilúvio, conta um Mito Kaingang sobre a origem da música e da dança, elementos cruciais para os ritos e tradições dos povos indígenas. A Proeza do Caçador contra o Curupira, sétimo conto do livro, apresenta um Mito Tukano sobre uma importante figura do folclore brasileiro: o Curupira, protetor das florestas. O conto que encerra a obra intitula-se A Onça Valentona e Raio Poderoso. Essa narrativa apresenta um Mito Taulipang sobre o poder das tempestades e a necessidade de nunca subestimar o seu adversário sem, ao menos, conhecê-lo.

Portanto, Contos Indígenas Brasileiros, de Daniel Munduruku, é uma relevante obra da Literatura Brasileira e, diria mais, da Literatura Indígena, que resgata as tradições dos povos originários e, consequentemente, a nossa memória ancestral. Assim, ressignifica a nossa cultura, costumes, mitologia e a própria alma do povo brasileiro, que é indígena.

 

REFERÊNCIA:

MUNDURUKU, Daniel. Contos Indígenas Brasileiros. Ilustrações Rogério Borges. São Paulo: Global, 2004.

Contos Indígenas Brasileiros está disponível para venda no site da Global Editora: https://grupoeditorialglobal.com.br/catalogos/livro/?id=2560 


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