O silêncio que consome: um alerta sobre a saúde deles
Leia a coluna deste sábado (30) da sexóloga Mônica Moura.
Raimundo* tem 38 anos e nasceu no interior do Maranhão. Homem alegre, sempre conhecido por sua simpatia e jeito "namorador". Mas, há três anos, sua vida começou a mudar de forma silenciosa e devastadora.
Tudo começou com um pequeno caroço, semelhante a uma espinha, na cabeça do pênis. Como não sentia dor, Raimundo ignorou o problema. O caroço crescia, e, com vergonha de procurar um médico, ele se automedicava, indo à farmácia em busca de soluções rápidas. A vergonha de expor seu problema falava mais alto do que a preocupação com sua saúde.
O tempo passou, e aquele caroço começou a sangrar. Raimundo, que até então mantinha a vida sexual ativa, passou a evitar relações. Antes, transava no escuro, agora se escondia completamente das mulheres. A vergonha o isolou também dos amigos, que eram sua companhia constante nas festas e farras. Para não compartilhar seu sofrimento, ele encontrou no álcool uma forma de anestesiar a dor física e emocional.
O pênis passou a doer intensamente, e ele bebia cada vez mais. O isolamento e a culpa aumentaram, até que, um dia, Raimundo tentou tirar a própria vida. Foi encontrado desmaiado. No hospital, os médicos descobriram uma anemia severa, e precisou de transfusões de sangue. Mas a origem da anemia permanecia um mistério, até que um médico o chamou para conversar.
Naquele momento, talvez pela dor insuportável ou pelo peso emocional de anos de silêncio, Raimundo finalmente falou. Mostrou o estado do pênis, ferido, sangrando, consumido pela doença. Foi imediatamente encaminhado para a capital, onde recebeu o diagnóstico: câncer de pênis.
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A cirurgia foi radical. Raimundo precisou amputar completamente o pênis e a bolsa escrotal. O impacto foi devastador. Ele sentiu raiva de si mesmo, culpa por ter ignorado os sinais, vergonha por não ter procurado ajuda antes.
A reconstrução emocional tem sido lenta. Hoje, Raimundo encontra alívio fazendo amizades com mulheres na internet, mas evita encontros presenciais. Ele teme o julgamento, o preconceito, e ainda carrega as marcas de uma sociedade que, muitas vezes, silencia homens como ele.
A história de Raimundo é dolorosa, mas necessária. O câncer de pênis, embora raro, tem causas conhecidas e, na maioria dos casos, pode ser prevenido. A falta de higiene adequada, infecções por HPV, tabagismo e falta de acesso à informação são fatores de risco. O diagnóstico precoce salva vidas, mas o silêncio, que muitas vezes é motivado pela vergonha e pelo tabu, pode ser fatal.
Raimundo não é o único. Milhares de homens enfrentam desafios semelhantes, lutando contra o medo e o preconceito que os impedem de buscar ajuda. É urgente falarmos sobre saúde masculina. Que nenhum homem precise sofrer sozinho, e que a dor de Raimundo desperte em outros o desejo de se cuidar.
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