Documentos da revelam história secreta de Candido Portinari

Jornal da Globo

Atualizada em 27/03/2022 às 15h30

Candido Portinari consagrou-se pintando cores e caras brasileiras, acompanhado da desconfiança da polícia, que não gostava das simpatias políticas dele. Quarenta anos depois da morte do artista, os arquivos do Dops mostram como Portinari entrou para a história - através de documentos de uma instituição, a da perseguição política, que não conseguiu mudar a história. Veja na reportagem de Maria Paula Carvalho.

O trabalho de uma equipe de pesquisadores é salvar do esquecimento a obra de um dos pintores brasileiros mais importantes do século XX.

Candido Portinari, o menino simples de Brodósqui, interior de São Paulo, que lançou ao desafio de pintar uma pátria.

Em suas telas, uma realidade tantas vezes ignorada. Portinari teve coragem de dizer para o mundo. Somos assim, famintos, como na série “Retirantes”. Fortes, como o trabalhador do cafezal, felizes, como o trabalhador a soltar pipa.

Mas a missão vai além de catalogar uma obra tão vasta. O pensamento de toda uma geração de músicos, artistas, intelectuais e políticos que conviveram com Portinari está registrado em 130 horas de gravações inéditas.

O passado de Candido Portinari volta à tona 40 anos depois da morte do pintor, quando a família dele tem acesso, pela primeira vez, ao arquivo da polícia política do Rio de Janeiro, onde estão mais de uma centena de documentos.

São registros da militância do pintor ao Partido Comunista e da forma como essa opção influenciou a vida dele. São informações registradas entre 1939 e 1962. Portinari foi investigado por sua “participação em movimentos pela paz” – segundo a polícia, um rótulo para as atividades comunistas.

“A polícia política perseguia esses movimentos, acreditando que o Partido Comunista estivesse sempre por trás desses movimentos, acreditando que fosse ele o articulador desse movimento”, diz Leila Meneses Duarte, historiadora do Arquivo Nacional.

Perseguido e amedrontado, o pintor pediu residência no Uruguai. Restrições para viagens viriam a seguir. Visitas à França, só com autorização judicial. Portinari foi impedido de receber prêmios no exterior e inaugurar os painéis “Guerra & Paz”, no prédio da ONU, em Nova York.

“Ele traduziu na sua luta pela paz, pela fraternidade, contra as injustiças, contra a miséria, tudo aquilo que ele expressou plasticamente na obra dele”, analisa João Cândido Portinari, filho do pintor.

Antes de morrer intoxicado pelas tintas, Portinari declarou: “na vida cada um tem uma tarefa. A minha é pintar.”

Arquivos públicos

Outra parte oculta da história brasileira também vai se tornar pública. O Ministério da Justiça determinou hoje que a Polícia Federal coloque arquivos da época do regime militar à disposição da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos. O objetivo é permitir a localização de ossadas de militantes de esquerda desaparecidos entre 71 e 88.

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