Lobão: "Gravadoras querem o fim dos CDs"

GloboNews.com

Atualizada em 27/03/2022 às 15h31

RIO – O músico e compositor Lobão virou, ao lançar seu último CD de forma independente, representante não-oficial dos artistas brasileiros descontentes com o sistema imposto pelas grandes gravadoras. Lutando para conseguir a aprovação do projeto de numeração de obras, ele falou na última quinta-feira, durante palestra do FestSoft, sobre suas visões do futuro da indústria musical.

Afirmando que um dos argumentos que as gravadoras estão usando para tentar desestimular a implementação da numeração de CDs é a previsão do fim dos meios físicos, como CDs, em três anos, Lobão comentou:

- Não acredito nisso. Ainda sou cético em relação às vendas na internet.

O músico disse também que acha possível que os meios físicos caiam em desuso, mas que isso ainda vai demorar pelo menos uma década. Quanto à música digital, ele diz que a troca de arquivos, como MP3s, na internet funciona mais como um filtro de qualidade do que como pirataria séria.

- Quando as pessoas ouvem várias músicas de um artista no computador e gostam, acabam comprando o CD. Se o artista é descartável e só tem um sucesso, é claro que as pessoas não compram. Não faz sentido comprar um CD com 12 faixas e ter só uma realmente interessante – afirmou o músico.

Ele disse também que a internet poderia ser usada com essa finalidade: oferecer ao consumidor a possibilidade de testar o produto antes de comprar. Dessa forma, o próprio mercado ficaria mais preocupado com qualidade, em vez de apoiar artistas vazios.

- Os artistas que forem criativos, sensatos e ousados vão continuar na ativa, sem precisar ter suas músicas bloqueadas na internet.

Lobão acha que todo o sistema precisa mudar, e rápido. Ele diz que não é contra as gravadoras, nem pretende lutar para destrui-las. Ao contrário, ele quer que a relação entre artista e gravadora seja uma de sociedade, em que a gravadora faz o trabalho mais comercial enquanto o artista cria – e ambos são recompensados de forma justa.

- Não quero ficar fazendo esse trabalho (de gravação, distribuição e venda de CDs, através do selo Universo Paralelo, que ele criou para vender seu CD independente em bancas de jornais) para sempre. Tenho um monte de músicas para escrever, mas não quero continuar sendo roubado – afirmou ele.

O diagnóstico que Lobão faz para a situação da música no Brasil é que as gravadoras e a mídia estão totalmente sem contato com a realidade. Ele contou que, durante suas viagens pelo Brasil fazendo shows, conheceu muitas bandas independentes, de todos os gêneros musicais. Todas com um público regional considerável, mas sem contato com a mídia nacional e as grandes gravadoras.

- 50% dos CDs vendidos legalmente no Brasil são independentes. Isso é ótimo – disse Lobão.

Segundo ele, um maior controle sobre o pagamento de direitos autorais iria desestimular as tentativas de criar artistas pré-fabricados e daria oportunidade para essas pessoas novas.

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