Artigo

A ignorância política do brasileiro em níveis alarmantes

A vontade de falar sobre política e de viver a política, desacompanhada de valores mínimos, transformou o país em um ambiente hostil.

José Linhares Jr / Da Editoria de Política

Atualizada em 27/03/2022 às 11h02
E a Copa América está aí para evitar qualquer suspeição sobre estas lamúrias.
E a Copa América está aí para evitar qualquer suspeição sobre estas lamúrias. (Foto: Reprodução/TV Globo)

SÃO LUÍS - Desde 2013 o Brasil está imerso em um turbilhão político falso. Falso porque fundamentado, em sua grande maioria, por polêmicas obtusas e completamente inúteis. Fofocas transformadas em escândalos. Frivolidades ganham status de acuidades. A politização recente do povo brasileiro acontece com as mesmas bases frágeis da aparição de celebridades que ninguém conhece. E a Copa América está aí para evitar qualquer suspeição sobre estas lamúrias.

No pior momento do país é esperado que que as pessoas lutem da forma mais indômita possível no auxílio do próprio povo. Ser o exemplo de um país em tempos de penúria e angústia era um lugar reservado aos grandes espíritos do povo.

Com a consolidação do progresso desenvolvido pelo capitalismo e vencidos os tempos de guerras infinitas, coube ao esporte o lugar de grande símbolo das nações. Os nossos grandes exemplos são homens e mulheres disputando civilizadamente em campos, quadras, piscinas e pistas.

E finalmente cabe outro ponto que, para nosso desagrado, não é ensinada em salas de aulas. Nenhum país é o seu líder. Não existe e nunca existirá personificação de um povo. Uma nação não é o líder da vez, mas o conjunto de costumes, cultura e história que lhe forjaram ao longo das décadas e/ou séculos.

Dito isto e dada a pandemia e a Copa América, não é muito forçoso entender que tipo de comportamento virtuoso deveria ser incorporado por nossos jogadores: a busca incansável pela vitória.

Vencer deveria ser prioridade e todo o resto deveria ser subsequência.

Só que o atual momento brasileiro, tão rico de voluntarismos e tão pobre de percepção política, também afeta nossos atletas. Antes de serem heróis e fazer uso merecido do seu heroísmo, cogitaram abandonar o povo para fazer uso político da traição.

A lógica simples (vencer o torneio e depois usar as medalhas e os troféus como sustentáculos de qualquer discurso político) foi substituída pela complexidade da desonra (recusar-se a disputar o torneio).

O discurso político coletivo vem antes do valor individual na cabeça daqueles rapazes não por serem piores, mas simplesmente por também serem brasileiros neste momento complicado do nosso país.

Dias atrás eu passei horas na frente da televisão olhando, atônito, uma discussão sobre tratamento de saúde entre médico e paciente que já foi completamente exaurida na aprovação do Ato Médico (lei federal nº 12.842/13). Semanas antes vi o presidente do país agarrando-se de forma selvagem a um medicamento, como se ele tivesse sido eleito para isso. E o juiz votando em processo em que ele é denunciado não chocou ninguém. O choque da atriz com o flagrante tratamento inadequado dado a uma senhora despertou o tal cancelamento. E no noticiário recentemente o suicídio motivado de um funkeiro drogado ter mais destaque que o assassinato do fotógrafo que tentou defender o sono da filha. Até mesmo ouvir uma simples música está sendo encarado como ato político no Brasil. Sim, eu gosto de ouvir Chico Buarque.

Tudo isso para dizer que, infelizmente, esse é um momento intrincado, mas estritamente necessário. A recente politização do país ainda não pode se escorar em bases sólidas, por isso não pode se predispor sempre de forma adequada e pontual. Ao invés do povo debater o modelo de país que queremos, debate a fala do youtuber adolescente. E assim vamos amadurecendo.

Faz parte... O erro faz parte e a ignorância, com a mais absoluta certeza, é o estado que tende a anteceder a sobriedade.

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