Análise

Hegemonia de Flávio Dino esbarra no pragmatismo de Lula

Qual o resultado da busca de aliados pelo ex-presidente entre os adversários do governador?

José Linhares Jr

Atualizada em 27/03/2022 às 11h03
Lula este com José Sarney na semana passada; encontro é início de reaproximação do PT com o MDB
Lula este com José Sarney na semana passada; encontro é início de reaproximação do PT com o MDB ( Foto: Ricardo Stuckert)

´São Luís - Nos anos 2000, o então presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) não escondia a admiração pelo senador e ex-presidente José Sarney (MDB). As declarações públicas de admiração alcançaram o ápice quando Lula afirmou que Sarney “não merecia ser tratado com uma pessoa comum”. Por outro lado, o governador Flávio Dino (PCdoB) adotou uma postura de beligerância por José Sarney que se estendeu aos demais adversários.

Na semana passada a hegemonia conquistada por Flávio Dino no Maranhão parece ter entrado em rota de colisão contra o pragmatismo de Lula no seu caminho de reconquista do país.

Lula visitou Sarney e fez aquilo que não é novidade: prestou homenagens e, muito provavelmente, pediu apoio. Para Lula não há diferença entre os dois politicamente. Seu retorno ao Palácio do Planalto é o retorno de José Sarney ao primeiro escalão da política. O verbo conjugado foi “voltaremos”.

É óbvio que o ego do governador comunista deve ter sentindo os arranhões da ação pragmática do petista. Esperar de Flávio Dino espírito republicano ao ver seu maior alvo político sendo cortejado por aquele que irá lhe tirar o, pelo menos em sua ótica, direito de concorrer ao cargo máximo da política no país é perda de tempo.

Ao contrário de Lula, que amadureceu e percebeu que adversários ferrenhos podem perfeitamente ocupar o lugar de aliados, e de José Sarney, que nunca demonstrou qualquer milímetro de ódio contra adversários no seu fazer político, Flávio Dino faz a opção por transformar adversários em inimigos sempre que pode.

Para piorar, poucas horas após o encontro com José Sarney, foi recebido em outra reunião com senadores o maranhense Weverton Rocha. O pedetista era o único não-petista no encontro.

E o que tem Weverton Rocha e José Sarney em comum? O ex-presidente foi um problema de Flávio Dino no passado. O senador pode se tornar um problema espinhoso no futuro. E os dois, pelo menos aparentemente, estão nos planos do petista para a campanha no Maranhão e no país.

Sarney é o aliado mais forte que Lula pode encontrar para atrair o apoio do MDB e tentar trazer outras forças políticas que ainda têm no maranhense um farol político. Weverton Rocha é uma possibilidade de atrair o PDT para a coligação. Ocorre que Flávio Dino quer o vice-governador tucano Carlos Brandão como candidato. E estes três polos não serão facilmente integrados nos projetos do governador.

Weverton é adversário de Brandão nas eleições de 2022. Sarney, pelo menos na cabeça do governador, é seu maior adversário político. Para piorar, a recusa do PT em apoiar um tucano ao governo já começa a preocupar ainda mais.

O fato é que a grandeza política de Lula alcançada após a eleição de 2002 o permite fazer qualquer gesto a qualquer um. Já a hegemonia de Flávio Dino o impõe limites a si mesmos que não são compartilhados por Lula. Os planos de Lula não são os planos de Flávio e vice-versa.

O choque entre a hegemonia e o pragmatismo é fatal. Resta saber se acontecerá escondido nos bastidores ou se ganhará as ruas.

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